Metalúrgicos das cinco maiores montadoras do ABC paulista cruzaram os braços nesta 6º feira e cerca de 10 mil ocuparam a rodovia Anchieta, em São Bernardo, próximo à Mercedes Benz, em passeata. A mobilização organizada discretamente nos últimos dias não reivindica salários. Berço dos grandes levantes operários dos anos 70/80, que mudaram o quadro político brasileiro, o sindicalismo do ABC inicia hoje uma luta pela própria sobrevivência: os trabalhadores cruzam os braços em protesto contra a desindustrialização em marcha no país. A concorrência das importações imposta pela competitividade chinesa, mas sobretudo incentivada pelo desequilíbrio cambial decorrente de uma política de juros rentista disparou o sinal de alarme na consciência política dos sindicalistas. Sérgio Nobre, presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, resume a questão, em entrevista ao jornal Valor: "(se continuar assim) não sobrará sequer parafusos para a gente apertar. O embate é um dos mais difíceis já assumidos pelos operários brasileiros. Trata-se de afrontar a lógica da livre mobilidade dos capitais e suas interações globais com um novo projeto de desenvolvimento. Trata-se de uma ação essencialmente política, que exige um elevado grau de consciência e organização dos trabalhadores. Ao Mesmo tempo, a politização desse debate é a única forma de desmontar a blindagem esférica do arcabouço rentista, que mesmo os governos do PT hesitam encarar.
Ontem, por exemplo, os 'agentes' financeiros já pressionavam por mais duas altas na taxa de juro sideral do país, uma vez que o IPCA em 12 meses ultrapassou o teto da meta de inflação fixado pelo BC. Hoje a taxa de juro no Brasil é de 12,25%; o rentismo quer jogá-la para 12,75% até dezembro (um juro real da ordem de 6%). Como no resto do mundo a taxa real é zero, ou negativa, compreende-se a avalanche de capitais especulativos que vem engordar no pasto viçoso da ortodoxia nativa. Tornar-se a grande fazenda de engorda rentista do planeta, como alertaram os metalúrgicos com a greve desta 6º feira, custa caro à sociedade: o dólar barato gerado por esse afluxo de capitais transfere demanda e empregos para o exterior via importações. Nesta 5º feira, o dólar foi cotado a R$ 1,558, um dos níveis mais baixos desde 1999.
(Carta Maior; 6º feira, 08/07/ 2011)
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