Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 22 de março de 2012

Quem tem medo de Bo Xilai? Ou: Mao sai do palco. Viva o maoísmo!


Não sou ‘olheiro’ da China, mas como indiano que vive inquieto com o andamento das políticas neoliberais, o anúncio de que Pequim destituiu Bo Xilai[1] da presidência do Partido Comunista Chinês em Chongqing é provocação difícil de resistir.

Para um partido comunista, destituir um membro do Politburo não é pouca coisa. Havia insistentes rumores de que Bo seria promovido ao Comitê dirigente, de nove membros, do Politburo chinês, a mais alta esfera de poder nesse país gigantesco de quase 1,5 bilhão de habitantes.

Os ‘olheiros’ da China mergulharão em infinitas especulações. Assim sendo, permitam-me oferecer uma lufada de ar um pouco mais respirável.

Na minha opinião, Bo perdeu, antes de tudo, pela ameaça que seu chamado “modelo Chongqing”[2] representava contra o passado dogmático da China maoísta, ao afirmar as vantagens de uma economia regulada pelo Estado, com sociedade igualitária.

Recentemente, Bo disse que “Como dizia o Grande Timoneiro Mao, quando estava construindo a nação, o objetivo de construirmos uma sociedade socialista é garantir que todos tenham emprego para trabalhar e comida para comer, e que todos juntos sejamos ricos. Se só alguns são ricos, começamos a cair no capitalismo e fracassamos. Se se cria uma nova classe capitalista, fica provado que, de fato, tomamos a estrada errada.”[3]

Vamos e venhamos... É blasfêmia total! Mais ainda na China de Xi Jinping. O Partido respondeu com aquelas declarações espantosas, depois do Congresso Nacional do Povo, quando ‘vovô’ Wen Jiabao, primeiro-ministro em final de mandato, alertou que a China conheceria “tragédia” semelhante à Revolução Cultural[4], se desistisse do caminho das reformas e da abertura, que tão bem serve aos interesses do povo. Nessa frase, Wen tinha em mente as declarações de Bo. E assim, nos bizantinos corredores do poder, Bo perdeu a vez e o assento.

Quem tem medo de Bo?

O carisma jovem e fulgurante de Bo, e a atração que o “modelo Chongqing” exerce sobre muitos, indicam que Bo poderia estar encontrando eco entre amplas correntes de opinião que há na economia chinesa, que se mantêm céticas sobre as tais ‘reformas’ e alguns aspectos das políticas atuais (como o festivo mergulho no mercado, ou a crescente desigualdade de renda que já se constata). Sua campanha, de estilo norte-americano, o gingado e o à vontade com que fala e se move tê-lo-iam tornado enervante, não só aos olhos do Partido Comunista Chinês – mas aos olhos de qualquer partido comunista, de qualquer canto.

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[2] “O chamado “modelo Chongqing” enfatiza o investimento controlado pelo Estado, com zonas de desenvolvimento, redes de transporte organizadas e efetivas e incentivos aos negócios. Empresas como Hewlett-Packard Co. (HPQ), Ford Motor Co. (F) e Coca-Cola Co. (KO) mantêm operações em Chongquig. O crescimento econômico dessa província, no centro da China, foi de 16,4% em 2011 e de 17,1% em 2010” (15/3/2012, Bloomberg, em http://www.bloomberg.com/news/2012-03-15/ousted-bo-s-chongqing-model-outpaced-peers-chart-of-the-day.html [NTs].
[4] Sobre a fala de Wen Jiabao, ver WEN JIABAO: “A China precisa de reformas políticas, sem as dificuldades de outra Revolução Cultural”, 14/3/2012, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/03/wen-jiabao-china-precisa-de-reformas.html [NTs].

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