A realidade se chocou com a teoria que justificava o draconiano ajuste anunciado em outubro de 2010 pela necessidade de inspirar confiança nos investidores e evitar que o Estado substituísse a iniciativa privada. A economia cresceu um pálido 0,8% no ano passado, com salários congelados no setor público, aumentos diminutos no setor privado e uma taxa de desemprego de 8,4%. O primeiro ministro David Cameron anunciou nesta segunda que privatizará as estradas do Reino Unido “para reparar anos de degradação da infraestrutura”. O artigo é de Marcelo Justo.
Marcelo Justo - De Londres
Londres - As duas chaves mestras da coalizão conservadora-liberal democrata – o ajuste e o investimento privado – não tiraram o Reino Unido da estagnação. Em uma tentativa de reviver o dinamismo do setor privado e evitar que a economia caia em sua segunda recessão em três anos, o primeiro ministro David Cameron anunciou nesta segunda-feira que privatizará as estradas do Reino Unido “para reparar anos de degradação da infraestrutura nacional”. Com o mesmo objetivo, ele anunciou semana passada um programa especial governamental para estimular o moribundo setor da construção. São medidas pontuais. A estratégia no médio prazo ficará clara quarta-feira quando o ministro de Finanças, George Osborne apresentar sua proposta de orçamento na Câmara dos Comuns.
A realidade se chocou com a teoria da coalizão que justificava o draconiano ajuste anunciado em outubro de 2010 pela necessidade de inspirar confiança nos investidores e evitar que o Estado substituísse a iniciativa privada. A economia cresceu um pálido 0,8% no ano passado, com salários congelados no setor público, aumentos diminutos no setor privado e uma inflação que supera os 4%.
Para piorar, a agência de classificação de risco Fitch se somou na semana passada à agência Moody e reduziu o prognóstico econômico do Reino Unido de “estável” para “negativo”. Esta avaliação foi um golpe para um governo que justificou o ajuste pela necessidade de manter a graduação creditícia AAA que garante empréstimos com menores taxas de juro. As chances disso acontecer hoje são apenas de 50%, segundo o “City AM”, diário editado pela City de Londres.
A saída para essa enrascada econômica é uma espécie de keynesianismo de direita: o Estado intervém para que o setor privado faça um grande negócio com seu investimento na obra pública estimulando a economia com a criação de emprego. No caso das estradas, as empresas privadas que vencerem a licitação terão que efetuar um pagamento inicial e receberão uma remuneração anual do Estado para a manutenção das estradas e a reparação de pontes. Segundo o governo, não poderão cobrar pedágio para pagar o investimento e terão que demonstrar à agência reguladora a qualidade da manutenção das estradas e uma redução no congestionamento de tráfico. Mas o primeiro ministro David Cameron admitiu que estava se estudando a cobrança de pedágio pelo investimento em novas estradas. A Associação de Motoristas advertiu que o plano “vai conduzir à privatização das estradas”.
O plano para estimular o mercado da habitação, fundamental na dinâmica econômica britânica desde os anos do thatcherismo, tem a mesma dose de generosidade estatal com o setor privado. O governo, em conjunto com a Federação da Construção, vai garantir os empréstimos bancários para os que quiserem adquirir sua primeira moradia. A medida diminuirá drasticamente o depósito exigido e as taxas de juros permitindo que cerca de 100 mil pessoas, atualmente excluídas, tenham acesso ao mercado imobiliário.
O prato forte das medidas é esperado para esta quarta-feira com o orçamento. Em meio à profusão de versões está claro que o plano de “consolidação fiscal”, eufemismo para ajuste, seguirá adiante. O problema é que hoje todos os setores estão pedindo à coalizão uma estratégia pró-crescimento. O governo está apontando para uma redução de impostos para os mais ricos para que se produza o mítico efeito cascata ou distribuição de riqueza por meio de um aumento do investimento e do consumo. Em um momento em que o governo proclama aos quatro ventos que “estamos todos juntos no ajuste”, esta redução é politicamente explosiva.
O ministro de Finanças, George Osborne, quer compensá-la com o anúncio de um combate à evasão e sonegação fiscal e com uma elevação do patamar a partir do qual se paga impostos. Ele passaria de 8.105 libras para 10.000 libras. Segundo a coalizão este novo patamar favorecerá os mais necessitados. Segundo o Instituto de Estudos Fiscais, a terceira parte mais pobre da sociedade não ganha nada com o anúncio, já que suas receitas estão abaixo desse índice. O mesmo ocorre com os pensionistas.
“O custo desta medida será de mais de 5 bilhões de libras e os mais favorecidos serão os 20% mais ricos da população que receberão uma nova dádiva fiscal”, disse o analista Polly Toynbee, no The Guardian. Para além do debate, é pouco provável que estas medidas sejam o estímulo econômico de que o Reino Unido necessita para sair do pântano quando ainda faltam por executar meio milhão de demissões no setor público e o desemprego atinge 8,4% da população.
Tradução: Katarina Peixoto
A realidade se chocou com a teoria da coalizão que justificava o draconiano ajuste anunciado em outubro de 2010 pela necessidade de inspirar confiança nos investidores e evitar que o Estado substituísse a iniciativa privada. A economia cresceu um pálido 0,8% no ano passado, com salários congelados no setor público, aumentos diminutos no setor privado e uma inflação que supera os 4%.
Para piorar, a agência de classificação de risco Fitch se somou na semana passada à agência Moody e reduziu o prognóstico econômico do Reino Unido de “estável” para “negativo”. Esta avaliação foi um golpe para um governo que justificou o ajuste pela necessidade de manter a graduação creditícia AAA que garante empréstimos com menores taxas de juro. As chances disso acontecer hoje são apenas de 50%, segundo o “City AM”, diário editado pela City de Londres.
A saída para essa enrascada econômica é uma espécie de keynesianismo de direita: o Estado intervém para que o setor privado faça um grande negócio com seu investimento na obra pública estimulando a economia com a criação de emprego. No caso das estradas, as empresas privadas que vencerem a licitação terão que efetuar um pagamento inicial e receberão uma remuneração anual do Estado para a manutenção das estradas e a reparação de pontes. Segundo o governo, não poderão cobrar pedágio para pagar o investimento e terão que demonstrar à agência reguladora a qualidade da manutenção das estradas e uma redução no congestionamento de tráfico. Mas o primeiro ministro David Cameron admitiu que estava se estudando a cobrança de pedágio pelo investimento em novas estradas. A Associação de Motoristas advertiu que o plano “vai conduzir à privatização das estradas”.
O plano para estimular o mercado da habitação, fundamental na dinâmica econômica britânica desde os anos do thatcherismo, tem a mesma dose de generosidade estatal com o setor privado. O governo, em conjunto com a Federação da Construção, vai garantir os empréstimos bancários para os que quiserem adquirir sua primeira moradia. A medida diminuirá drasticamente o depósito exigido e as taxas de juros permitindo que cerca de 100 mil pessoas, atualmente excluídas, tenham acesso ao mercado imobiliário.
O prato forte das medidas é esperado para esta quarta-feira com o orçamento. Em meio à profusão de versões está claro que o plano de “consolidação fiscal”, eufemismo para ajuste, seguirá adiante. O problema é que hoje todos os setores estão pedindo à coalizão uma estratégia pró-crescimento. O governo está apontando para uma redução de impostos para os mais ricos para que se produza o mítico efeito cascata ou distribuição de riqueza por meio de um aumento do investimento e do consumo. Em um momento em que o governo proclama aos quatro ventos que “estamos todos juntos no ajuste”, esta redução é politicamente explosiva.
O ministro de Finanças, George Osborne, quer compensá-la com o anúncio de um combate à evasão e sonegação fiscal e com uma elevação do patamar a partir do qual se paga impostos. Ele passaria de 8.105 libras para 10.000 libras. Segundo a coalizão este novo patamar favorecerá os mais necessitados. Segundo o Instituto de Estudos Fiscais, a terceira parte mais pobre da sociedade não ganha nada com o anúncio, já que suas receitas estão abaixo desse índice. O mesmo ocorre com os pensionistas.
“O custo desta medida será de mais de 5 bilhões de libras e os mais favorecidos serão os 20% mais ricos da população que receberão uma nova dádiva fiscal”, disse o analista Polly Toynbee, no The Guardian. Para além do debate, é pouco provável que estas medidas sejam o estímulo econômico de que o Reino Unido necessita para sair do pântano quando ainda faltam por executar meio milhão de demissões no setor público e o desemprego atinge 8,4% da população.
Tradução: Katarina Peixoto
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