Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sábado, 14 de abril de 2012

Cachoeira pode afogar a Editora Abril: Deputado quer Civita interrogado pela CPI

no R 7: o deputado Fernando Ferro (PT/PE) vai pedir que Roberto Civita (dono da Abril) seja convocado para depor na CPI do Cachoeira.
A CPI deve mesmo ser instalada. Houve acordo entre os presidentes da Câmara e do Senado, para que seja criada Comissão Mista – com representantes das duas casas.
Importante: a CPI tem força legal para pedir ao Supremo todos os autos do processo. O STF decretou sigilo do caso. Correm em Brasília boatos de que, além do diretor da Veja, haveria outros jornalistas da chamada grande imprensa citados nos autos. Ou seja: mais gente se banhou na cachoeira. Estranhamente, a Globo tinha solicitado acesso aos autos. Interesse jornalístico? Ou medo? No mesmo dia, o site Carta Maior também pediu acesso à íntegra do processo. O que fez o Supremo? Fechou tudo.
Agora, a CPI pode lançar luz sobre tudo que está lá. A situação mais complicada, não resta dúvida, é a da editora Abril. Há oito anos, a Veja abre espaço para todo tipo de “operação” jornalística. Colunistas fanfarrões e irresponsáveis (um deles até fugiu do Brasil) chafurdam na lama, repórteres são “obrigados” (!) a provar teses malucas (como a de que o PT trouxe dinheiro de Cuba em caixas de uísque, para ajudar na campanha de Lula), e a revista abre espaço para capas lamentáveis – como aquela em que Lula levava um chute no traseiro, ou aquela outra (“barriga” monumental) em que a Veja comemorava a queda de Chavez em 2002, no momento exato em que o presidente da Venezuela debelava o golpe e voltava ao poder nos braços do povo.
Essa foi a “obra” dos comandados de Bob Civita. A cereja no bolo é a relação promíscua com Cachoeira. Bob Civita corre o risco de virar um Murdoch. A Veja se banhou na Cachoeira, com mais de 200 telefonemas. A Veja também teria-se abastecido com arapongas de Cachoeira para criar o “mensalão”? Foi o que disse o ex-prefeito de Anápolis a PH Amorim, na Record.
Hoje [10/4], Hildegard Angel lembra o que Bob Jefferson disse, em sua defesa ao STF: o “mensalão” não era bem um mensalão. Era o quê? “Força de expressão”?
E agora?
Eu diria que, dos dois Bobs, Jefferson está em melhor situação. Bob Civita é quem corre risco de se afogar na cachoeira de lama para onde a Veja tentou arrastar o Brasil.
Confiram abaixo a notícia do R7.
Filippo Cecilio, do R7
O deputado federal Fernando Ferro (PT/PE) defendeu nesta terça-feira (10) que o empresário Roberto Civita, proprietário da Editora Abril, seja convocado para depor na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que será instalada no Congresso para investigar as ligações entre parlamentares, integrantes do judiciário e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro pela operação Monte Carlo da Polícia Federal.
– A revista [Veja] teria de ser ouvida para prestar esclarecimentos sobre essa ligação estreita entre ela e esse elemento. Pretendo ser um dos membros dessa CPMI, e essa é a minha manifestação. É natural que se coloque para falar alguém representando uma revista que teve 200 ligações com esse elemento para que se explique.
Nos grampos efetuados pela PF, aparecem telefonemas de Cachoeira para o diretor da revista em Brasília, Policarpo Jr. As gravações levantam suspeitas de que o bicheiro encomendava matérias de seu interesse para lhe favorecer os negócios ou então prejudicar seus inimigos.
Ferro afirmou que a convocação atenderia a um sentimento de diversos parlamentares:
– Várias pessoas de empresas, órgãos do governo e membros do judiciário deverão ser chamadas pra esclarecer esse tipo de convivência com esse elemento.
Nesta terça, os presidentes da Câmara, Marco Maia (PT/SP), e do Senado, José Sarney (PMDB/AP), selaram um acordo para a instalação da CPMI. De acordo com Marco Maia, os dois presidentes vão conversar com os líderes das duas casas para chegar a uma redação única para o requerimento de criação da CPMI. As assinaturas devem ser coletadas até o final desta semana.
Para que a comissão seja instaurada, são necessárias as assinaturas de 171 deputados e 27 senadores. Para evitar que os trabalhos da CPMI sejam interrompidos durante o período eleitoral, Maia já afirmou que terão prioridade na composição da comissão os parlamentares que não sejam candidatos a prefeito ou vereador nas eleições do segundo semestre.
A assessoria de imprensa do Grupo Abril foi procurada, mas a reportagem não conseguiu o contato.
 

Desde que os filhos da Casa Grande perderam a chave do palácio do Planalto, há dez anos, os factóides desta quadrilha e seus cúmplices, transformados em eventos midiáticos com a ajuda dos distraídos, converteram a política brasileira num trem fantasma, um desfile de monstrengos moralistas, uma opereta burlesco-udenista onde brilharam Demóstenes Torres, Agripino Maia, Álvaro Dias e ACM Neto.

Cúmplices e distraídos

por Jorge Furtado em 05 de abril de 2012

Pessoas medianamente bem informadas (1) sabiam muito bem quem era o senador Demóstenes Torres, o ex-Democrata e ex-moralista de Goiás. Para estas pessoas (2) fica difícil aceitar os panegíricos ao senador, elogios rasgados feitos por seus pares, que se revezaram na tribuna, em loas ao seu caráter ilibado e seu alto espírito público. Isso enquanto Demóstenes, senador da República, recebia, pelo telefone e de maneira bastante ríspida, ordens expressas de criminosos, ordens para aprovar leis ou contratar funcionários fantasmas.

Só os muito distraídos ou seus cúmplices na maracutaia - há dúvidas sobre em qual categoria inclui-se o então presidente do STF, o ministro Gilmar Mendes - acreditaram no grampo sem áudio (3), a pantomima transformada em crise institucional pelo braço midiático da quadrilha de Carlinhos Cachoeira ou, como gostam de lhe chamar, do empresário Carlos Ramos.

Pois o ramo do Ramos é, segundo a Polícia Federal e seus grampos com áudio, o crime, em várias modalidades. Sobre a turma dos cúmplices, diz a decisão da Justiça, na página 3: "Detectou-se ainda, nas investigações, os estreitos contatos da quadrilha com alguns jornalistas para a divulgação de conteúdo capaz de favorecer os interesses do crime".

Quando, em 2004, a empresa de Carlos Ramos resolveu tomar seus pontos no butim de Brasília, seu braço na mídia providenciou o vídeo que, estrelado por um corrupto de 3 mil reais, deflagrou a "crise do mensalão". A palavra é uma brilhante criação de Roberto Jefferson, advogado, tenor e réu confesso, e passou a ser, com a ampla participação da turma dos distraídos, a senha anti-petista, parece haver quem ganhe por citação, em bônus de final de ano, com um panetone.

Com a crise do mensalão (que, como lembra o Mino Carta, ainda está por provar-se), Cachoeira e amigos tomaram conta dos Correios, mas só por algum tempo. Se bem me lembro, levou dois anos para que seus afilhados por lá fossem descobertos e presos. Na época, e eu falo do período e não da revista, o democrata FHC, ao invés de derrubar o governo Lula, preferiu "sangrá-lo até a derrota".

Só que ela não veio. Veio mais Lula e, agora, Dilma.

Na Veja, e eu falo da revista, uma longa série de factóides, muitos deles criados pela quadrilha de Cachoeira, foram parar na capa. Quem afirma isto é o próprio empresário Carlos Ramos, num dos grampos:

Cachoeira: Porque os grande furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz. Todos eles fomos nós que demos. (...) Ele pediu uma coisa? Você pega uma fita dessa aí e ao invés de entregar pra ele fala: "Tá aqui, ó, ele tá pedindo, como é que a gente faz?". Entendeu?

Poliocarpo, no caso, é o Júnior, editor-chefe da revista em Brasília, um bom camarada de conversas do empresário Carlos Ramos, trocaram mais de 200 telefonemas. Com as fitas na mão e o acesso à capa da revista de maior circulação do país, a quadrilha tinha alto poder de persuasão.

Desde que os filhos da Casa Grande perderam a chave do palácio do Planalto, há dez anos, os factóides desta quadrilha e seus cúmplices, transformados em eventos midiáticos com a ajuda dos distraídos, converteram a política brasileira num trem fantasma, um desfile de monstrengos moralistas, uma opereta burlesco-udenista onde brilharam Demóstenes Torres, Agripino Maia, Álvaro Dias e ACM Neto.

É bom lembrar que o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, tinha como chefe de gabinete uma simpática senhora que, decerto entre entre outras atividades, avisava os bandidos quando e como fugir da polícia. Também é bom lembrar que Perillo era o vice presidente do Senado quando a imprensa e a oposição tentaram derrubar José Sarney. Foram impedidas por Lula. A imprensa - os cúmplices e os distraídos - e a oposição queriam colocar Perillo na presidência do Senado, quem sabe na Presidência da República.

Nos últimos dez anos, pelo menos, a quadrilha de Cachoeira, que inclui senadores, deputados, governadores, prefeitos, promotores, juízes e policiais, pautou a vida política do país, criando ou turbinando escândalos, transformando tapiocas em crises nacionais, inventando dossiês, dinheiros de Cuba e do Tamiflu, rebaixando o debate politico e espantando pessoas decentes da vida pública. Fizeram um mal terrível ao pais, com a cumplicidade criminosa de alguns jornalistas.

Segundo a decisão da justiça que mandou essa turma temporariemante para a cadeia, o braço midiático da quadrilha era responsável pela "divulgação de conteúdo capaz de favorecer os interesses do crime". Hoje, muitos se dizem chocados com o comportamento de Demóstenes. Resta saber quais os cúmplices e quais os distraídos.

Em qualquer das hipóteses, não parece fazer muito sentido pagar para ler ou ouvir o que dizem.


Mote: Demóstenes

Não lembrar é uma armadilha
que, ao futuro, bem não traz.
A capital é uma ilha.
Por todo lado, Goiás.


Notas:

(1) Eu, por exemplo.
(2) Já me citei como exemplo? Adiante, então.
(3) Sem bons jornalistas não há democracia possível. Escute o comentário de Bob
Fernandes sobre as relações entre Demóstenes Torres e Gilmar Mendes e
descubra porquê.

http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/c%C3%BAmplices-e-distra%C3%ADdos
 

Emiliano: o crime organizado se organiza no PiG (*)


    Publicado em 09/04/2012

              Emiliano José: O partido mídia e o crime organizado


              O partido mídia e o crime organizado


              por Emiliano José, deputado federal do PT-Bahia, via e-mail


              Algumas análises sobre a velha mídia brasileira, aquela concentrada em poucas famílias, de natureza monopolista, e que se pretende dona do discurso e da interpretação sobre o Brasil, pecam por ingenuidade. Pretendem conhecer sua atuação orientando-se pelos cânones e técnicas do jornalismo, como se ela se guiasse por isso, como se olhasse os fatos com honestidade, como se adotasse os critérios de noticiabilidade, como se recusasse relações promíscuas com suas fontes, como se olhasse os fatos pelos vários lados, como se recusasse uma visão partidarizada da cobertura.


              Essa velha mídia não pode ser entendida pelos caminhos da teoria do jornalismo, sequer por aquela trilha dos manuais de redação que ela própria edita, e que se seguida possibilitaria uma cobertura minimamente honesta. Ela abandonou o jornalismo há muito tempo, e se dedica a uma atividade partidária incessante. Por partidária se entenda, aqui, no sentido largo da palavra, uma instância que defende uma política, uma noção de Brasil, sempre ao lado dos privilégios das classes mais abastadas. Nisso, ela nunca vacilou ao longo da história e nem cabe recapitular. Portanto, as clássicas teorias do jornalismo não podem dar conta da atividade de nossa velha mídia.


              Volto ao assunto para tratar da pauta que envolveu o senador Demóstenes Torres e o chefe de quadrilha Carlinhos Cachoeira. É possível adotar uma atitude de surpresa diante do acontecido? Ao menos, no mínimo, pode a revista VEJA declarar-se estupefata diante do que foi revelado nas últimas horas? Tudo, absolutamente tudo, quanto ao envolvimento de Carlinhos Cachoeira no mundo do crime era de conhecimento de VEJA. Melhor: era desse mundo que ela desfrutava ao montar o que lhe interessava para atacar um projeto político. Quando caiu o senador Demóstenes Torres, caiu a galinha dos ovos de ouro.


              “Esqueçam o Policarpo”. Está certo, certíssimo, o jornalista Luis Nassif quando propõe que se esqueça o jornalista Policarpo Júnior que, com os mais de duzentos telefonemas trocados com Cachoeira, evidenciou uma relação profunda, vá lá, com sua fonte, e se ponha na frente da cena o, vá lá, editor Roberto Civita.


              Este, como se sabe, constitui o principal dirigente do partido midiático contrário ao projeto político que se iniciou em 2003, quando Lula assume. Policarpo Júnior apenas e tão somente, embora sem nenhuma inocência, cumpria ordens de seu chefe. Agora, que será importante conhecer o conteúdo desses 200 e tantos telefonemas do Policarpo Júnior com Cachoeira, isso será. Até para saber que grampos foram encomendados por VEJA ao crime organizado.


              Nassif dá uma grande contribuição à história recente do jornalismo ao fornecer um impressionante elenco de matérias publicadas por VEJA nos últimos anos, eivadas de suposições, sem qualquer consistência, trabalhadas em associação com o crime. Civita nunca escondeu a sua posição contra o PT e seus aliados. É um militante aplicado da extrema-direita no Brasil, e que se dedica, também, subsidiariamente, a combater os demais governos reformistas, progressistas e de esquerda da América Latina.


              Importante, como análise política, é que o resto da mídia sempre embarcou – e com gosto – no roteiro, na pauta, que a revista VEJA construía. Portava-se, não me canso de dizer, como partido político. Não adianta escamotear essa realidade da mídia no Brasil. O restante da velha mídia não queria checar, olhar os fatos com alguma honestidade. Não. Era só fazer a suíte daquilo que VEJA indicava. Esse era um procedimento usual dos jornalões e das grandes redes de tevê.


              Barack Obama, ao se referir à rede Fox News, ligada a Rupert Murdoch, chamou-a também de partido político, e tirou-a de sua agenda de entrevistas. Não é novidade que se conceitue a mídia, ou grande parte dela, como partido político conservador. Pode lembrar Gramsci como precursor dessa noção, ou, mais recentemente, Octavio Ianni que a chamava de Príncipe Eletrônico. No Brasil, inegavelmente, essa condição se escancara. A velha mídia brasileira sequer disfarça. Despreza, como já se disse, os mais elementares procedimentos e técnicas do bom jornalismo.


              Na decisão da Justiça Federal em Goiás, ressalta-se, quase que com assombro, os “estreitos contatos da quadrilha com alguns jornalistas para a divulgação de conteúdo capaz de favorecer os interesses do crime”. Esses contatos, insista-se, não podem pressupor inocência por parte da mídia, muito menos da revista VEJA que, como comprovado, privava da mais absoluta intimidade com o crime organizado por Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres dada à identidade de propósitos.


              Esse episódio, ainda em andamento, deve muito, do ponto de vista jornalístico, a tantos blogs progressistas, como o de Luis Nassif (vejam “Esqueçam Policarpo: o chefe é Roberto Civita”); o de Eduardo Guimarães, Blog da Cidadania (vejam “Leia a espantosa decisão judicial sobre a Operação Monte Carlo”); o Portal Carta Maior (leiam artigo de Maria Inês Nassif, “O caso Demóstenes Torres e as raposas no galinheiro”); o Blog do Jorge Furtado (“Demóstenes, ora veja”), o Vi o Mundo, do Azenha, entre os que acessei.


              Resta, ainda, destacar a revista CartaCapital que, com matéria de Leandro Fortes, na semana que se iniciou no dia 2 de abril, furou todas as demais revistas ao evidenciar a captura do governo de Marconi Perillo pelo crime organizado de Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira. Em Goiânia, toda a edição da revista foi comprada aos lotes por estranhos clientes, ninguém sabe a mando de quem – será que dá para desconfiar?


              A VEJA enfiou a viola no saco. Veio de “O mistério renovado do Santo Sudário”, tão aplicada no conhecimento dos caminhos do cristianismo, preferindo dar apenas uma chamadinha na primeira página sobre “Os áudios que complicam Demóstenes” e, internamente, mostrar uma matéria insossa, sem nenhuma novidade, com a tentativa, também, de fazer uma vacina para inocentar o editor de Brasília, Policarpo Júnior. Como podia ela aprofundar o assunto se está metida até o pescoço com Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira?


              Impunidade do crime jornalístico


              Há algumas perguntas que pairam no ar. O jornalismo pode ser praticado dessa maneira, em associação explícita com o crime organizado, sem que nada aconteça aos que assim procedem? Por menos do que isso, a rede de Rupert Murdoch, na Inglaterra, enfrenta problemas sérios com a Justiça, houve prisões, e seu mais importante semanário, o News of the World, que tinha 168 anos, e era tão popular quanto desacreditado, fechou.


              E aqui? O que se fará? A lei não prevê nada para uma revista associada havia anos com criminosos de alto coturno? Creio que se reclamam providências do Ministério Público e, também, das associações profissionais e sindicais do jornalismo. Conivência com isso, não dá. Assim, o crime compensaria, como compensou nesse caso durante anos.


              Há, ainda, outra questão, e de grande importância e que a velha mídia ignorou solenemente, e este foi um trabalho realizado primeiro pelo jornalista Marco Damiani, do Portal 247, e completado, de modo brilhante, pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, evidenciando a atuação do crime organizado de Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira na construção do que ficou conhecido como Mensalão.


              A entrevista com Ernani de Paula (ex-prefeito de Anápolis) feita por Paulo Henrique Amorim é impressionante. Ele fora derrubado da Prefeitura numa articulação que envolveu a dupla criminosa, e agora revela o que sabe, e diz que tudo o que se armou contra o ex-chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula, José Dirceu, e contra o governo Lula, decorreu da ação consciente e criminosa de Carlinhos Cachoeira, que se insurgia contra um veto de José Dirceu à assunção de Demóstenes Torres ao cargo de Secretário Nacional de Justiça do governo, depois que ele se passasse para o PMDB.


              Em qualquer país do mundo que tivesse um jornalismo minimamente comprometido com critérios de noticiabilidade, ainda mais diante do possível julgamento do processo denominado Mensalão, ele entraria fundo no assunto para que as coisas se esclarecessem. Mas, nada. Silêncio.


              É como se a velha mídia tivesse medo de que a construção da cena midiática em torno do assunto, construção que tem muito de fantasiosa e é obviamente contaminada por objetivos políticos, pudesse ser profundamente alterada com tais revelações e, inclusive, ter reflexos no julgamento que se avizinha. Melhor deixar isso confinado aos “blogs sujos” e às poucas publicações que se dedicam ao jornalismo. A verdade, no entanto, começa a surgir. Nós não precisamos mais do que dela, como dizia Gramsci. Insistamos nela. Se persistirmos, ela se imporá. Apesar do velho partido midiático.


              A omissão da mídia nativa é um clássico, precipitado pela peculiar convicção de que fato não noticiado simplesmente não se deu. Não há somente algo de podre nas redações, mas também de tresloucado.



               
               
              [1]
              Sequestrada. Em Goiânia, domingo dia 1º
              O caso do senador Demóstenes Torres é representativo de uma crise moral que, a bem da sacrossanta verdade, transcende a política, envolve tendências, hábitos, tradições até, da sociedade nativa. No quadro, cabe à mídia um papel de extrema relevância. Qual é no momento seu transparente objetivo? Fazer com que o escândalo goiano fique circunscrito à figura do senador, o qual, aliás, prestimoso se imola ao se despedir do DEM. DEM, é de pasmar, de democratas.
              Ora, ora. Por que a mídia silencia a respeito de um ponto importante das passagens conhecidas do relatório da Polícia Federal? Aludo ao relacionamento entre o bicheiro Cachoeira e o chefe da sucursal da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior. E por que com tanto atraso se refere ao envolvimento do governador Marconi Perillo? E por que se fecha em copas diante do sequestro sofrido por CartaCapital em Goiânia no dia da chegada às bancas da sua última edição? Lembrei-me dos tempos da ditadura em que a Veja dirigida por mim era apreendida pela PM.
              A omissão da mídia nativa é um clássico, precipitado pela peculiar convicção de que fato não noticiado simplesmente não se deu. Não há somente algo de podre nas redações, mas também de tresloucado. Este aspecto patológico da atuação do jornalismo pátrio acentua-se na perspectiva de novas e candentes revelações contidas no relatório da PF. Para nos esclarecer, mais e mais, a respeito da influência de Cachoeira junto ao governo tucano de Goiás e da parceria entre o bicheiro e o jornalista Policarpo. E em geral a dilatar o alcance da investigação policial.
              Quanto à jornalística, vale uma súbita, desagradável suspeita. Como se deu que os trechos do documento relativos às conversas entre Cachoeira e Policarpo tenham chegado à redação de Veja? Sim, a revista os publica, quem sabe apenas em parte, para demonstrar que o chefe da sucursal cumpria dignamente sua tarefa profissional. Ou seria missão? No entanto, à luz de um princípio ético elementar, o crédito conferido pelo jornalista às informações do criminoso configura, por si, a traição aos valores da profissão. Quanto à suspeita formulada no início deste parágrafo, ela se justifica plenamente: é simples supor vazamento originado nos próprios gabinetes da PF. E vamos assim de traição em traição.
              A receita não a dispensa, a traição, antes a exige nas mais diversas tonalidades e sabores. A ser misturada, para a perfeição do guisado, com hipocrisia, prepotência, desfaçatez, demagogia, arrogância etc. etc. E a contribuição inestimável da mídia, empenhada em liquidar rapidamente o caso Demóstenes, para voltar, de mãos livres, à inesgotável tentativa de criar problemas para o governo. Os resultados são decepcionantes, permito-me observar. A popularidade da presidenta Dilma acaba de crescer de 72% para 77%.
              E aqui constato haver quem tenha CartaCapital como praticante de um certo, ou incerto, “jornalismo ideológico”. Confesso, contristado, minha ignorância quanto ao exato significado da expressão. Se ideológico significa fidelidade canina à verdade factual, exercício desabrido do espírito crítico, fiscalização diuturna do poder onde quer que se manifeste, então a definição é correta. E é se significa que, no nosso entendimento, a liberdade é apanágio de poucos, pouquíssimos, se não houver igualdade. A qual, como sabemos, no Brasil por ora não passa de miragem.
              E é se a prova for buscada na nossa convicção de que Adam Smith não imaginava, como fim último do capitalismo, fabricantes de dinheiro em lugar de produtores de bens e serviços. Ou buscada em outra convicção, a da irresponsabilidade secular da elite nativa, pródiga no desperdício sistemático do patrimônio Brasil e hoje admiravelmente representada por uma minoria privilegiada exibicionista, pretensiosa, ignorante, instalada no derradeiro degrau do provincianismo. Ou buscada no nosso apreço por toda iniciativa governista propícia à distribuição da renda e à realização de uma política exterior independente.
              Sim, enxergamos no tucanato a última flor do udenismo velho de guerra e em Fernando Henrique Cardoso um mestre em hipocrisia. Quid demonstrandum est pela leitura do seu mais recente artigo domingueiro na página 2 do Estadão. O presidente da privataria tucana, comprador dos votos parlamentares para conseguir a reeleição e autor do maior engodo eleitoral da história do Brasil, afirma, com expressão de Catão, o censor, que se não houver reação, a corrupção ainda será “condição de governabilidade”.
              Achamos demagógica e apressada a decisão de realizar a Copa no Brasil e tememos o fracasso da organização do evento, com efeitos negativos sobre o prestígio conquistado pelo País mundo afora nos últimos dez anos. Ah, sim, estivéssemos de volta ao passado, a 2002, 2006 e 2010, confirmaríamos nosso apoio às candidaturas de Lula e Dilma Rousseff. Se isso nos torna ideológicos, também o são os jornais que nos Estados Unidos apoiaram e apoiarão Obama, ou que na Itália se colocaram contra Silvio Berlusconi. Ou o Estadão, quando em 2006 deu seu voto a Geraldo Alckmin e em 2010 a José Serra.
              Não acreditamos, positivamente, que de 1964 a 1985 o Brasil tenha sido entregue a uma “ditabranda”, muito pelo contrário, embora os ditadores, e seus verdugos e torturadores, tenham se excedido sem necessidade em violência, por terem de enfrentar uma resistência pífia e contarem com o apoio maciço da minoria privilegiada, ou seja, a dos marchadores da família, com Deus e pela liberdade. Hoje estamos impavidamente decepcionados com o comportamento de muitos que se apresentavam como esquerdistas e despencaram do lado oposto, enquanto gostaríamos que a chamada Comissão da Verdade atingisse suas últimas consequências.
              Agora me pergunto como haveria de ser definido o jornalismo dos demais órgãos da mídia nativa, patrões, jagunços, sabujos e fâmulos, com algumas exceções, tanto mais notáveis porque raras. Ideologias são construídas pelas ideias. De verdade, alimentamos ideias opostas. Nós acreditamos que algum dia o Brasil será justo e feliz. Eles querem que nada mude, se possível que regrida.


               

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