Os institutos de defesa do consumidor de todo país deveriam se debruçar sobre uma verdadeira trapaça de que são vítimas os leitores das colunas políticas da grande imprensa, já que boa parte dos leitorados desses veículos parece acreditar que são oriundas de alguma apuração dos jornalistas que supostamente as escreveriam.
Não são. Jornais como Folha de São Paulo, Estadão, O Globo ou revistas como Veja, Época e QuantoÉ… Digo, IstoÉ, reproduzem sempre o mesmo ponto de vista, usando sempre as mesmas expressões, as mesmas analogias e chegando, invariavelmente, às mesmas conclusões.
Em relação à recém-criada CPI do Cachoeira, por exemplo, esse fato fica absolutamente claro. Pode-se escolher qualquer um dos veículos citados para comprovar o que está sendo dito. Salvo algumas raras exceções como a do jornalista Jânio de Freitas, da Folha, todos vêm dizendo exatamente a mesma coisa: a CPI seria contra o PT e o governo Dilma ou manobra destes para esconder o julgamento do mensalão.
Muitas vezes, as duas hipóteses estão na mesma coluna. Confiando na premissa de que escrevem para descerebrados, esses colunistas caras-de-pau apresentam as duas teses conflitantes sem se preocupar com que alguém note alguma coisa.
Além da mesmíssima teoria de que Lula, apresentado como autor intelectual da CPI, é um tolinho que nem desconfiava de que seus adversários e a mídia tentariam inverter o foco da investigação, esse colunismo despreza o fato de que alguém como o ex-presidente não chegou aonde chegou sendo ingênuo ou precipitado…
Abaixo, reproduzo um artigo que contém o pacote inteiro que você, leitor, pode encontrar nas colunas políticas de todos os veículos citados e em vários outros. Não direi já o nome do autor ou em que veículo foi publicado e proponho que você, caso não tenha lido o texto, tente descobrir quem escreveu, o que só será informado ao final do post.
—–
As CPIs desempenharam um importante papel no passado recente da história brasileira. Foi a partir das investigações promovidas por uma CPI, em junho de 1992, que o ex-presidente Fernando Collor acabou sofrendo o impeachment.
Um ano depois, coube ao Congresso Nacional instalar a CPI do Orçamento, que desbaratou um esquema de desvios do dinheiro público comandado por parlamentares e funcionários do legislativo. Seis parlamentares foram cassados, oito absolvidos e quatro preferiram renunciar para fugir da punição e da inelegibilidade.
Enquanto esteve na oposição, o PT se mostrou implacável nas CPIs. Pelo menos até o governo Lula enfrentar sua primeira CPI, criada em maio de 2005 com o objetivo específico de investigar denúncias de corrupção nos Correios.
O estompim da crise que levou à instalação desta CPI foi a divulgação de uma fita de vídeo que mostrava o ex-funcionário da estatal Maurício Marinho aceitando propina de empresários.
Apesar de toda a precaução do governo Lula, que deixou a presidência da CPI nas mãos do senador petista Delcídio Amaral (MS) e relatoria com o deputado peemedebista Osmar Serraglio (PR), o foco da investigação acabou sendo o esquema de pagamento mensal direcionado a parlamentares da base aliada em troca de votos no Congresso Nacional, que ficou conhecido como mensalão.
Isso só foi possível porque, a cada sessão da CPI dos Correios – transmitida ao vivo para todo o país –, a sociedade brasileira se mobilizava e pressionava o Legislativo, exigindo a continuidade das investigações.
De lá para cá, as CPIs perderam sua força. Isso porque, diante do estrago político promovido pela CPI dos Correios, o PT e seus aliados mudaram de estratégia.
Nos últimos sete anos, as poucas CPIs que a oposição conseguiu emplacar não produziram efeitos práticos, como a das ONGs e dos cartões corporativos, graças à obstrução patrocinada pelo governo petista.
O Congresso tem agora nas mãos uma oportunidade de resgatar a função democrática das CPIs, investigando um novo esquema de corrupção desvendado pela Polícia Federal e comandado pelo contraventor Carlos Cachoeira.
Na expectativa de tirar o foco da sociedade em relação ao julgamento do mensalão, previsto para acontecer ainda este semestre, o PT errou no cálculo ao imaginar que poderia confundir a opinião pública ao anunciar apoio
Em vídeo conclamando os movimentos populares a cobrarem a instalação da nova CPI, o presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão, imaginou que poderia atingir a oposição. Em especial, o governador de Goiás, Marconi Perillo, que causou constrangimentos a Lula em 2005 ao declarar publicamente que o alertara para o mensalão.
Nada foi comprovado contra Perillo. A situação se complicou, de fato, para o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, e uma das principais empreiteiras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Construtora Delta.
Os indícios e provas de que Agnelo e a Delta mantinham uma estreita relação com Cachoeira evidenciam o arrependimento de setores do PT e do próprio governo na sua estratégia de desviar o foco do julgamento do mensalão.
(…)
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Vamos adivinhar. Ricardo Noblat, Merval Pereira, Eliane Cantanhêde, Fernando Rodrigues, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo ou Augusto Nunes? Poderia ser qualquer um destes ou vários outros colunistas de Folha, Globo, Estadão, Veja etc. Mas não. Apesar de o texto dizer, ipsis-litteris, o que esses vêm dizendo sem parar, é do presidente do PSDB, Sergio Guerra, e foi publicado neste domingo na Folha de São Paulo.
Fica difícil deixar de imaginar que todos os colunistas supracitados tiveram longas conversas com o tucano antes de escreverem, todo dia, cada premissa que ele apresentou nesse artigo. Esses colunistas também têm dito, aliás, que haveria mais elementos de prova ou indícios contra Agnelo Queiroz do que contra Marconi Perillo. Exatamente como seu ghost-writer.
Mais adiante, no mesmo jornal, bem escondidinha, matéria revela que não é bem assim. Sem chamada na primeira página, incrustada lá na página A14 (sim, onze páginas mais adiante e sem chamada na primeira página), uma bomba: “Perillo é citado como ‘irmão’ por aliado de Cachoeira”.
Eis o diálogo entre Carlinhos Cachoeira e Wladimir Garcez, ex-vereador pelo PSDB de Goiânia:
—–
Garcez – A conversa, para você ter uma idéia, foi uma hora lá, nós dois juntos. (…) Foi uma covnersa boa, sabe. Falando das dificuldades que tem, de umas coisas que ele [Perillo]… Até pediu para nós olharmos uma coisa para ele depois, um trem que aconteceu aí, tal. Ele chega na quarta-feira, [e ele disse]: “Não, então marca para quinta, eu, você e ele. Nós vamos sentar, bater um papo, quero conversar com ele, quero ter mais um conceito. Mas uma conversa assim mais pessoal, questão de confiança, tal”. (…) Achei uma conversa daquela de irmão. (…)
Cachoeira – Ô, foi bom para caralho, hein.
Garcez – Foi uma coisa assim, íntima mesmo, sabe. Ele levantou, deixou [a gente] na sala, “Vou ali tomar banho”. Fiquei esperando ele. Tomou banho, pôs o terno e voltou.
Cachoeira – Ele [Perillo] quer que eu olhe para ele o quê?
Garcez – É um negócio aí, [ele falou]: “Não, pode deixar ele [Cachoeira] voltar. Ele [Perillo] quer isso, você [Cachoeira], ele não quer outra o pessoa, o Cláudio [Abreu, da Delta]. Aí ele [Perillo]falou assim: “Não, é uma coisa que eu RO conversar com ele [Cachoeira], é porque confio nele [Cachoeira], tá, e em você [Garcez]”. Aí passou para mim (…) para quinta-feira a gente [Garcez, Cachoeira e Perillo] sentar e conversar.
Cachoeira – É o que que é?
Garcez – Não… É um trem duma coisa dele, sabe?
Cachoeira – Ah, não excelente. Coisa boa (…)
Garcez – Beleza.
—–
É um diálogo revelador e comprometedor, mas não é o pior. Outras gravações revelam doações em dinheiro de Cachoeira para Perillo, sociedade entre eles em empresas do bicheiro e muito, muito mais. O pior ainda está por aparecer, e aparecerá na CPI.
Aí a explicação sobre por que a oposição está cada vez mais raquítica. Essa gente continua achando que pode criar um universo paralelo e fazer todos viverem nele. Será que todo o leitorado de uma Folha, por exemplo, é incapaz de perceber que o discurso dos colunistas do jornal parece ter sido escrito pelo presidente do PSDB?
Foi um erro o jornal publicar esse artigo. Quem tem cérebro e não é militante demo-tucano descobriu quem é o escritor-fantasma de uma imprensa que vai perdendo cada vez mais a conexão com a realidade e acreditando que pode ajudar seus aliados a chegarem ao poder oferecendo moralismo de quinta em lugar de propostas para o país.
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PS: garanto que eu não sabia que a pesquisa Datafolha tinha ido a campo quando disse que a popularidade de Dilma iria disparar. Ah, sim: juro, também, que não tenho bola de cristal. Uso, apenas, a lógica.
Não são. Jornais como Folha de São Paulo, Estadão, O Globo ou revistas como Veja, Época e QuantoÉ… Digo, IstoÉ, reproduzem sempre o mesmo ponto de vista, usando sempre as mesmas expressões, as mesmas analogias e chegando, invariavelmente, às mesmas conclusões.
Em relação à recém-criada CPI do Cachoeira, por exemplo, esse fato fica absolutamente claro. Pode-se escolher qualquer um dos veículos citados para comprovar o que está sendo dito. Salvo algumas raras exceções como a do jornalista Jânio de Freitas, da Folha, todos vêm dizendo exatamente a mesma coisa: a CPI seria contra o PT e o governo Dilma ou manobra destes para esconder o julgamento do mensalão.
Muitas vezes, as duas hipóteses estão na mesma coluna. Confiando na premissa de que escrevem para descerebrados, esses colunistas caras-de-pau apresentam as duas teses conflitantes sem se preocupar com que alguém note alguma coisa.
Além da mesmíssima teoria de que Lula, apresentado como autor intelectual da CPI, é um tolinho que nem desconfiava de que seus adversários e a mídia tentariam inverter o foco da investigação, esse colunismo despreza o fato de que alguém como o ex-presidente não chegou aonde chegou sendo ingênuo ou precipitado…
Abaixo, reproduzo um artigo que contém o pacote inteiro que você, leitor, pode encontrar nas colunas políticas de todos os veículos citados e em vários outros. Não direi já o nome do autor ou em que veículo foi publicado e proponho que você, caso não tenha lido o texto, tente descobrir quem escreveu, o que só será informado ao final do post.
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As CPIs desempenharam um importante papel no passado recente da história brasileira. Foi a partir das investigações promovidas por uma CPI, em junho de 1992, que o ex-presidente Fernando Collor acabou sofrendo o impeachment.
Um ano depois, coube ao Congresso Nacional instalar a CPI do Orçamento, que desbaratou um esquema de desvios do dinheiro público comandado por parlamentares e funcionários do legislativo. Seis parlamentares foram cassados, oito absolvidos e quatro preferiram renunciar para fugir da punição e da inelegibilidade.
Enquanto esteve na oposição, o PT se mostrou implacável nas CPIs. Pelo menos até o governo Lula enfrentar sua primeira CPI, criada em maio de 2005 com o objetivo específico de investigar denúncias de corrupção nos Correios.
O estompim da crise que levou à instalação desta CPI foi a divulgação de uma fita de vídeo que mostrava o ex-funcionário da estatal Maurício Marinho aceitando propina de empresários.
Apesar de toda a precaução do governo Lula, que deixou a presidência da CPI nas mãos do senador petista Delcídio Amaral (MS) e relatoria com o deputado peemedebista Osmar Serraglio (PR), o foco da investigação acabou sendo o esquema de pagamento mensal direcionado a parlamentares da base aliada em troca de votos no Congresso Nacional, que ficou conhecido como mensalão.
Isso só foi possível porque, a cada sessão da CPI dos Correios – transmitida ao vivo para todo o país –, a sociedade brasileira se mobilizava e pressionava o Legislativo, exigindo a continuidade das investigações.
De lá para cá, as CPIs perderam sua força. Isso porque, diante do estrago político promovido pela CPI dos Correios, o PT e seus aliados mudaram de estratégia.
Nos últimos sete anos, as poucas CPIs que a oposição conseguiu emplacar não produziram efeitos práticos, como a das ONGs e dos cartões corporativos, graças à obstrução patrocinada pelo governo petista.
O Congresso tem agora nas mãos uma oportunidade de resgatar a função democrática das CPIs, investigando um novo esquema de corrupção desvendado pela Polícia Federal e comandado pelo contraventor Carlos Cachoeira.
Na expectativa de tirar o foco da sociedade em relação ao julgamento do mensalão, previsto para acontecer ainda este semestre, o PT errou no cálculo ao imaginar que poderia confundir a opinião pública ao anunciar apoio
Em vídeo conclamando os movimentos populares a cobrarem a instalação da nova CPI, o presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão, imaginou que poderia atingir a oposição. Em especial, o governador de Goiás, Marconi Perillo, que causou constrangimentos a Lula em 2005 ao declarar publicamente que o alertara para o mensalão.
Nada foi comprovado contra Perillo. A situação se complicou, de fato, para o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, e uma das principais empreiteiras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Construtora Delta.
Os indícios e provas de que Agnelo e a Delta mantinham uma estreita relação com Cachoeira evidenciam o arrependimento de setores do PT e do próprio governo na sua estratégia de desviar o foco do julgamento do mensalão.
(…)
—–
Vamos adivinhar. Ricardo Noblat, Merval Pereira, Eliane Cantanhêde, Fernando Rodrigues, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo ou Augusto Nunes? Poderia ser qualquer um destes ou vários outros colunistas de Folha, Globo, Estadão, Veja etc. Mas não. Apesar de o texto dizer, ipsis-litteris, o que esses vêm dizendo sem parar, é do presidente do PSDB, Sergio Guerra, e foi publicado neste domingo na Folha de São Paulo.
Fica difícil deixar de imaginar que todos os colunistas supracitados tiveram longas conversas com o tucano antes de escreverem, todo dia, cada premissa que ele apresentou nesse artigo. Esses colunistas também têm dito, aliás, que haveria mais elementos de prova ou indícios contra Agnelo Queiroz do que contra Marconi Perillo. Exatamente como seu ghost-writer.
Mais adiante, no mesmo jornal, bem escondidinha, matéria revela que não é bem assim. Sem chamada na primeira página, incrustada lá na página A14 (sim, onze páginas mais adiante e sem chamada na primeira página), uma bomba: “Perillo é citado como ‘irmão’ por aliado de Cachoeira”.
Eis o diálogo entre Carlinhos Cachoeira e Wladimir Garcez, ex-vereador pelo PSDB de Goiânia:
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Garcez – A conversa, para você ter uma idéia, foi uma hora lá, nós dois juntos. (…) Foi uma covnersa boa, sabe. Falando das dificuldades que tem, de umas coisas que ele [Perillo]… Até pediu para nós olharmos uma coisa para ele depois, um trem que aconteceu aí, tal. Ele chega na quarta-feira, [e ele disse]: “Não, então marca para quinta, eu, você e ele. Nós vamos sentar, bater um papo, quero conversar com ele, quero ter mais um conceito. Mas uma conversa assim mais pessoal, questão de confiança, tal”. (…) Achei uma conversa daquela de irmão. (…)
Cachoeira – Ô, foi bom para caralho, hein.
Garcez – Foi uma coisa assim, íntima mesmo, sabe. Ele levantou, deixou [a gente] na sala, “Vou ali tomar banho”. Fiquei esperando ele. Tomou banho, pôs o terno e voltou.
Cachoeira – Ele [Perillo] quer que eu olhe para ele o quê?
Garcez – É um negócio aí, [ele falou]: “Não, pode deixar ele [Cachoeira] voltar. Ele [Perillo] quer isso, você [Cachoeira], ele não quer outra o pessoa, o Cláudio [Abreu, da Delta]. Aí ele [Perillo]falou assim: “Não, é uma coisa que eu RO conversar com ele [Cachoeira], é porque confio nele [Cachoeira], tá, e em você [Garcez]”. Aí passou para mim (…) para quinta-feira a gente [Garcez, Cachoeira e Perillo] sentar e conversar.
Cachoeira – É o que que é?
Garcez – Não… É um trem duma coisa dele, sabe?
Cachoeira – Ah, não excelente. Coisa boa (…)
Garcez – Beleza.
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É um diálogo revelador e comprometedor, mas não é o pior. Outras gravações revelam doações em dinheiro de Cachoeira para Perillo, sociedade entre eles em empresas do bicheiro e muito, muito mais. O pior ainda está por aparecer, e aparecerá na CPI.
Aí a explicação sobre por que a oposição está cada vez mais raquítica. Essa gente continua achando que pode criar um universo paralelo e fazer todos viverem nele. Será que todo o leitorado de uma Folha, por exemplo, é incapaz de perceber que o discurso dos colunistas do jornal parece ter sido escrito pelo presidente do PSDB?
Foi um erro o jornal publicar esse artigo. Quem tem cérebro e não é militante demo-tucano descobriu quem é o escritor-fantasma de uma imprensa que vai perdendo cada vez mais a conexão com a realidade e acreditando que pode ajudar seus aliados a chegarem ao poder oferecendo moralismo de quinta em lugar de propostas para o país.
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PS: garanto que eu não sabia que a pesquisa Datafolha tinha ido a campo quando disse que a popularidade de Dilma iria disparar. Ah, sim: juro, também, que não tenho bola de cristal. Uso, apenas, a lógica.
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