No domingo, 14 de outubro, a manchete da Folha de S.Paulo proclama
“Intervenções de Dilma e PIB fraco afastam investidores estrangeiros”. No corpo
da reportagem, a jornalista Patrícia Campos Mello esclarece que a deplorada
queda no ingresso de capitais está concentrada em ações e títulos de dívida, o
chamado investimento de portfólio. Entre janeiro de 2011 e agosto de 2012, essa
modalidade de investimento estrangeiro apresentou queda de 1,8% para 0,3% do
PIB. Já o investimento direto subiu no mesmo período de 2,3% para 2,8% do PIB.
Nas palavras da jornalista, esses números transmitem melhor o
humor (sic) dos investidores porque (o investimento de portfólio) são mais
voláteis do que o investimento direto estrangeiro, bem como menos influenciados
por uma grande operação.
Em seguida, ela organiza um desfile de opiniões de gestores de
fundos dedicados à especulação e à arbitragem com os movimentos esperados de
juros e câmbio. Certo Ruchir Sharma, chefe da área de Mercados Emergentes do
Morgan Stanley, disparou: “É uma decepção, o Brasil terá crescimento de 1,5% a
2%, nem a metade da média dos emergentes. Para completar, o governo adotou
medidas intervencionistas que aproximam o Brasil de países como a Venezuela de
Chávez e terão efeito negativo a longo prazo”.
O insigne Michel Shaul, presidente da Marketfield Asset Management,
entregou o ouro: “O governo implementou uma série de medidas anticapital que podem até ser boas para a população
que vai pagar menos juros no cartão de crédito, mas que não agradam ao
investidor”. Já um grande investidor estrangeiro que preferiu o anonimato
lamentou: “O governo começou a caça às bruxas contra os bancos, as ações
despencaram. Dilma espremeu as elétricas e os papéis desabaram”.
O estudo do FMI intitulado Recent Experiences in Managing
Capital Inflows, de fevereiro
de 2011, reconhece que a volatilidade dos investimentos de carteira não só é
elevada como aumentou depois da crise financeira, com consequências
indesejáveis na gestão da política econômica ao provocar o desalinhamento nas
taxas de câmbio. No pós-crise, os fluxos líquidos de “dinheiro quente” ganharam
força com as sucessivas rodadas de injeção de liquidez pelos bancos centrais. O
movimento de capitais de curto prazo na busca de rendimentos mais parrudos
cresceu rapidamente e alcançou 435 bilhões de dólares entre o terceiro
trimestre de 2009 e o segundo de 2010. Ultrapassou, assim, os picos anteriores
à crise em países como Brasil, Indonésia, Coreia e Tailândia.
Na maioria dos casos, diz o estudo, o influxo de capitais de
portfólio foi determinado pelos diferenciais de taxas de juro, crescimento
rápido ou posições fiscais e de endividamento saudáveis, num ambiente global de
maior apetite pelo risco. “Em sua maioria, os países adotaram medidas de vários
tipos para obviar a valorização das taxas de câmbio. As medidas visaram conter
os impactos dos movimentos de capitais de curto prazo sobre os mercados de
ativos, ao mesmo tempo preservando o ingresso de capitais produtivos e
resguardando a economia das súbitas reversões.”
Nos anos 1990, tempos de glória da globalização financeira, a
olímpica tranquilidade dos encantadores de serpente fundava-se nas convenientes
falácias da liberalização das contas de capital do balanço de pagamentos. A
economia brasileira, ensinavam por aqui, vai pegar no tranco, impulsionada pela
entrada pródiga de capitais, aqueles que voavam nas asas da globalização.
Os custos dessa aposta, qualquer um sabe,
foram: 1. Perda significativa na liberdade de manejar a taxa de
câmbio para conter a invasão das importações e impedir a perda de
competitividade das exportações. 2. Rápida ampliação do déficit em
conta corrente, derivada de um déficit comercial em expansão e de um passivo
externo em processo de ampliação. 3.Crescente e perigosa dependência do
financiamento forâneo, ou seja, submissão da política econômica e das metas de
crescimento da economia aos humores (sic) dos mercados de capitais
internacionalizados, que, como é notório, passam abruptamente da euforia à
depressão.
Na inesquecível década dos 90, entre tantas loucuras, os
apologetas do capitalismo desbragado e seus ideólogos trataram de convencer a
população e a si mesmos de que só eles sabiam das coisas, eram detentores do
monopólio das boas ideias, aquelas capazes de salvar a humanidade de suas
agruras.
Como toda loucura, essa também tem método: os mandachuvas devem
sempre simular que seu poder é fruto da inteligência. É preciso ocultar que só
parecem inteligentes porque têm poder. Os sábios globais deram de ombros para
as advertências dos críticos. Passada a euforia do dinheiro fácil, os chamados
emergentes se afogaram na maré vazante dos capitais em fuga e na repetição dos
ajustamentos assimétricos entre países de moeda forte e aqueles de moeda fraca.
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