Sobre alguns desses fatos escrevi fartamente nos 8 anos em que FHC foi presidente. Outros são inteiramente novos, extraídos dessa entrevista falsa, absurda, ridícula, indigna de um ex-presidente, mesmo sendo ele.
Durante toda a ditadura, FHC foi complacente com ela, complacente e envergonhado, constrangido, fervoroso participante da condição de “cassado que se manteve com todos os direitos”. Por várias vezes, com ele no Poder, desafiei-o a exibir o ato de cassação. O ato e a data.
Viajava para o Chile onde estavam amigos verdadeiramente cassados. Quando o Chile foi vítima do ditador-perseguidor-torturador Pinochet, passou a ir para Paris, ficando na casa de um amigo intelectual, verdadeiramente exilado.
Fui conselheiro da ABI (a pedido de Barbosa Lima Sobrinho) por 18 anos. Quando o grande jornalista foi embora, saí também. Um dia, o secretário-geral da ABI, jornalista Mauricio Azedo (hoje, excelente presidente), lia um ofício que seria enviado ao presidente FHC, pedi um aparte e contestei o ofício, dizendo que a ABI não podia se dirigir a FHC naqueles termos. Justifiquei as restrições. Democraticamente, Azedo colocou em votação o envio do ofício, foi amplamente recusado, a história da ABI ficou imune e intocável.
FHC, o único cassado que
disputou eleição na ditadura
O tempo correu, em 1978 o próprio FHC se encarregou de comprovar os fatos, desmoralizar a sua “verdade” sem corroboração (termo policial) e sem constrangimento. Em plena ditadura, se lançou candidato a senador, em chapa com Franco Montoro. Este teve 3 milhões de votos, FHC não chegou a 10 por cento. Mas por falha da legislação, ficou como suplente, começando a carreira política, surpreendentemente chegando a presidente.
Nesse mesmo 1978, dois episódios que provam a falsidade e a falsificação de FHC. José Serra, com quem só falei uma vez, num momento doloroso, se lançou candidato a deputado estadual, por SP. Foi vetado, a explicação: “Ainda estava cassado”. E a aprovação de FHC, tinha que base e justificativa?
Nesse mesmo 1978, o meu partido (MDB) tentou lançar minha candidatura ao Senado. Em 1966 fui cassado por 10 anos, o que deveria terminar logicamente em 1976. Resposta do ministro Gama e Silva: “Agora a cassação não é mais por 10 anos, é para toda a vida”.
Quase no fim da ditadura, apavorado, Gama e Silva enganou também os generais ditadores, pediu para ser embaixador. Como era monoglota, foi para Portugal.
O suplente que chegou a presidente
Em 1982, Montoro se elegeu governador, FHC assumiu a suplência, se transformou em titular. Em 1986 acaba o mandato (?), precisava se reeleger. Fez então todas as patifarias político-eleitorais. Apoiou Maluf, candidato a governador, e Antonio Ermírio de Moraes (também candidato), desde que não lançassem nomes para o Senado. O de Maluf era esse José Maria Marin (que já fora governador), o de Ermírio era o maior amigo de FHC, retirado. Ficaram então só ele e Covas, eleitos cada um com 3 milhões de votos. Mas não elegeram o governador. Orestes Quércia, que não tinha relações com eles, era invencível, ganhou.
Manobrou e manipulou o ingênuo Itamar, que ficara no lugar de Collor. Ganhou 2 ministérios, foi lançado presidenciável contra Lula em 1994. Mas não acreditava que fosse eleito, reduziu para 4 anos o mandato que era de 5. Lógico, quem acreditava na vitória não reduziria o mandato. Principalmente FHC, que na primeira oportunidade rasgou a Constituição (perdão, comprou) para se reeleger, fato único na História republicana.
Tentando se comparar com Marx, teve um filho com uma doméstica (hoje funcionária do Senado), mas Marx era Marx, único e indiscutível. FHC deveria ter sido julgado pelo Supremo ou investigado por CPI. Em dois episódios gravíssimos: 1 – Toda a Comissão de Desestatização, barbaramente enriquecida. 2 – O mensalão que possibilitou a reeleição de FHC. O dinheiro era entregue de uma vez só, imaginem quanto custou o voto de 513 deputados e 81 senadores, pelo menos a maioria.
A “compra” da Vale e dezenas de empresas se deu pelo “valor de face”. Que geralmente era de 5 cruzeiros, mas no mercado “valiam” míseros 10 centavos.
As duas últimas entrevistas
Uma para jornal impresso, outra para televisão. Na primeira, perguntaram se “estava namorando”, hesitou. O repórter insistiu, respondeu: “Estou, mas é ridículo estar namorando aos 82 anos”. Nada a contestar, FHC se definiu com inteira propriedade.
Quem FHC levaria, homem e
mulher, para uma ilha deserta
Na segunda entrevista, na televisão, novamente ridículo, com aquelas perguntas tolas e idiotas, com mais de 50 anos de existência e repetição. Por exemplo:
“Com quem o senhor gostaria de ir para uma ilha deserta?”. A resposta deveria ser logicamente uma mulher. A bobagem da pergunta, exatamente igual à bobagem da resposta.
Seguindo no mesmo rumo, qual o “intelectual” que levaria para conversar também numa ilha deserta. Escolheu e indicou José Sarney, tentou explicar mas nem precisava.
Ivan Lessa e Millôr Fernandes
Na televisão, um dos entrevistadores arriscou ou afirmou: “Nesse ano de 2012, o senhor perdeu dois grandes amigos, Ivan Lessa e Millôr Fernandes. Como senhor se sentiu?”
Estavam mortos, FHC não teve a menor hesitação, “chutou” para valer. Sobre Ivan: “Não era amigo dele, o relacionamento não era profundo, mas estive com ele várias vezes”.
A verdade indiscutível e indestrutível: nunca esteve com Ivan Lessa. Nos tempos do Pasquim, Ivan não ia a Brasília, FHC não vinha ao Rio. E quando vinha ficava bem longe do Pasquim, amaldiçoado pela ditadura.
Depois do Pasquim, enojado, Lessa foi para Londres, onde morou e trabalhou na BBC, mantendo a colaboração com o Pasquim. Veio uma vez ao Brasil, mas não foi para conversar com FHC. Alguém me diz que foram duas viagens, não confirmei, mas publico.
Com Millôr Fernandes, a mesma pergunta, e a resposta de FHC: “Estive com o Millôr várias vezes, entendia e respeitava suas críticas ao meu governo”. Impressionante a capacidade de inventar ou falsear fatos.
A verdade: jamais falou com o Millôr, frustração total. Um dia, pediu ao jornalista Rodolfo Fernandes, com quem mantinha relacionamento jornalístico: “Pergunte ao seu tio Millôr se ele aceita almoçar ou jantar comigo no Alvorada. Se ele aceitar, telefone para ele”.
Rodolfo perguntou ao Millôr, este nem hesitou: “Não, Rodolfo, como presidente, de jeito algum. Quando ele deixar o governo, podemos examinar novamente a questão”. O Millôr era assim e não mudava.
PS – Tudo o que está escrito aqui é rigorosamente verdadeiro. Os fatos políticos são públicos e notórios, as datas, conhecidíssimas. O resto, conto como personagem e como o maior opositor, por 8 anos seguidos, do precário e medíocre (e também corrupto) governo FHC.
Helio FernandesNo Olhos do Sertão
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