Certos grupos políticos amanheceram, no domingo, de cabeça inchada, tal qual o torcedor de futebol que, no dia anterior, viu seu time ser goleado. Apostaram que 7 de setembro marcaria a interrupção da recuperação de popularidade pelo governo Dilma, bem como pela própria, por obra e graça de imensas manifestações que voltariam a ocorrer no país.
Ao longo das últimas semanas, a blogosfera e as demais redes sociais foram inundadas por comentários de militantes políticos de extrema-direita – e, também, de partidos que se intitulam “de esquerda” mas que fazem a alegria da direita, tais como PSOL e PSTU – que anunciavam o apocalipse para o que chamam de “governismo”.
As primeiras páginas dos grandes jornais no “day after” do pretenso “dia do juízo final para o PT”, entretanto, coroaram o rotundo fracasso da tentativa da centro e da extrema-direita e de seus aliados na “esquerda que a direita adora” de conseguirem, por meio de protestos de rua, o que as urnas vêm lhes negando ao longo da última década e no limiar desta.
Mas por que fracassou a “Operação 7 de setembro”? Para começar a entender, é preciso rever o que esteve por trás de sua articulação. Nesse aspecto, matéria de um colunista da revista Carta Capital chamado André Barrocal, formulada sob o eloquente título “O Desfile Golpista”, esclarece melhor quem esteve por trás do malogrado plano de destruição política.
Abaixo, um trecho da matéria.
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O alvo da “Operação Sete de Setembro” é a presidenta Dilma Rousseff. O caráter político-ideológico da “operação” fica claro quando se identificam alguns de seus fomentadores pela internet. Entre os mais ativos consta uma ONG simpatizante de uma conhecida família de extrema-direita do Rio de Janeiro, os Bolsonaro. E um personagem ligado ao presidente da Assembleia Legislativa e do PSDB paranaenses, Valdir Rossoni. É uma patota e tanto. Envolvidos em algumas denúncias de corrupção, não surpreenderia se eles mesmos virassem alvo de protestos.
A ONG em questão é a Brazil No Corrupt – Mãos Limpas, sediada no Rio. Seus principais integrantes são dois bacharéis em Direito, Ricardo Pinto da Fonseca e seu filho, Fábio Pinto da Fonseca. Há cinco anos eles brigam nos tribunais contra a Ordem dos Advogados do Brasil na tentativa de acabar com a exigência de uma prova para obter o registro de advogado. Os dois foram reprovados no exame da OAB. Em sua página na internet e no Twitter, a ONG promove a “Operação Sete de Setembro” e a campanha Eu não voto em Dilma: Eleição 2014, Brasil sem PT.
Um dos principais parceiros da entidade nas redes sociais é o deputado estadual fluminense Flávio Bolsonaro, do PP. Pelo Twitter, ele compartilha informações, opiniões e iniciativas da ONG. A dobradinha extrapola o mundo virtual. Bolsonaro comanda na Assembleia do Rio uma frente para acabar com a prova da OAB. Em Brasília, a ONG conseguiu um neoaliado, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que encampou a ideia de extinguir o exame.
Filho do deputado federal Jair Bolsonaro, Flávio tem as mesmas posições do pai, célebre representante da extrema-direita nacional. Os Bolsonaro são contra o casamento gay, as cotas raciais nas universidades e os índios. Defendem a pena de morte e a tortura. Chamam Dilma de “terrorista” por ter ela enfrentado a ditadura da qual eles sentem saudade. “Naquele tempo havia segurança, havia saúde, educação de qualidade, havia respeito. Hoje em dia, a pessoa só tem o direito de quê? De votar. E ainda vota mal”, declarou o Bolsonaro mais jovem não faz muito tempo.
A ONG adota posturas parecidas com aquela dos parlamentares. Em sua página na internet, um vídeo batiza de “comissão da veadagem” alguns dos críticos da indicação do pastor Marco Feliciano para o comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Divulga ainda um vídeo de teor racista contra nordestinos, no qual o potencial candidato do PT ao governo do Rio, o senador Lindbergh Farias, nascido na Paraíba, é chamado de… “paraibano”.
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Como se vê, os articuladores de uma jornada de protestos abraçada pelas extremidades esquerda e direita do espectro político são “tutto buona gente”…
Não foi por outra razão que a mídia conservadora, apesar de seu recém-proclamado “arrependimento” por ter se envolvido tão intimamente com uma ditadura militar que massacrou e roubou desavergonhadamente o Brasil por mais de duas décadas, tratou de divulgar o quanto pôde os mega protestos que (não) ocorreram no último sábado.
Durante o 7 de setembro, na emissora de tevê a cabo Globo News, por exemplo, a jornalista Leilane Neubarth parecia tentar dirigir as manifestações, enquanto torcia pela invasão do Congresso Nacional por um grupelho de militontos que ali se manifestava. Ironicamente, porém, pouco depois, na mesma Capital Federal, a sede da Globo na cidade seria atacada.
Apesar disso, a mídia oposicionista passou o dia enfocando até briga de vizinhos para tentar inflar a repercussão das manifestações. Foi tudo tão patético que uma charge sobre esse comportamento midiático (abaixo) circulou o dia inteiro pelas redes sociais.
O revés da direita em um dia em que planejava o juízo final para o governo Dilma e para o PT, porém, não parou por aí. O tradicional protesto Grito dos Excluídos, que ocorre todo ano no 7 de setembro e que tem um viés diametralmente oposto ao dos extremistas de direita e esquerda, levou (abaixo) esqueletos da Globo às escadarias da Catedral da Sé, em São Paulo.
Ainda em busca de compreensão sobre o fracasso da “Operação 7 de setembro”, há que analisar a questão da imensa massa de inocentes úteis que passou a ser instrumentalizada a partir de junho e que ao longo de julho e agosto foi pulando fora do barco golpista.
Um dos motes do que os entusiastas daquela estupidez chamaram de “jornadas de junho” foi o de que “O Gigante” teria “acordado”, ou seja, de que o país teria descoberto que estava sendo mal governado pelo PT, quando, em verdade, quem luta de verdade pela democracia jamais dormiu, estando aí os movimentos sociais e sindicais que não deixam mentir com suas lutas históricas por direitos civis.
Muito ao contrário do que dizem, portanto, o “Gigante” jamais esteve adormecido. O que ocorreu, a partir de junho, é que ele foi embriagado por espertalhões que manipularam as massas e se valeram de vândalos para criarem um clima no país que conspurcou sua imagem diante do mundo.
No fim de agosto (29/8), aliás, este Blog antecipou que os protestos dos últimos meses provocaram desmoralização internacional do Brasil, no post Política e ideologia conspurcam a imagem do Brasil no exterior. No último dia 6, o jornalista Fernando Rodrigues, em seu blog, publica post sob o título “Cobertura negativa sobre o Brasil na mídia internacional bate recorde após protestos de junho”.
O texto de Rodrigues mostra que “O número de reportagens com teor negativo sobre o Brasil veiculadas na imprensa internacional atingiu 36% do total no 2º trimestre do ano, um recorde desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2009”.
Segundo o jornalista, “Foram 425 reportagens negativas nos meses de abril, maio e junho, de um total de 1.167, segundo levantamento da agência Imagem Corporativa em 15 veículos internacionais. O principal motivo da alta é a cobertura dos protestos de rua de junho”.
Tudo isso somado, o que se conclui é que o “Gigante” está em processo de retorno da “viagem” em que mergulhou nos últimos meses, com a sociedade se dando conta de que não havia sentido em repudiar um governo que melhorou tanto a vida dos brasileiros, tirando dezenas de milhões da miséria e, na contramão do resto do mundo, proporcionando grande oferta de empregos e salários cada vez melhores.
A mídia conservadora tenta “explicar”, agora, o fracasso da ofensiva antidemocrática das extremidades do espectro político. Diz que os brasileiros desembarcaram do porre dos últimos meses em razão do grupo Black Bloc – que rejeita ser chamado de grupo.
Matéria da Folha de São Paulo do primeiro dia útil desta semana reproduz explicação do escritor e jornalista norte-americano Chris Hedges, apoiador do Occupy Wall Street, movimento crítico ao modelo atual de capitalismo que chacoalhou os EUA em 2011 e 2012.
Segundo Hedges, “Entregar os protestos para o Black Bloc ou deixar que esse movimento o sequestre é o que afasta as massas e transforma o movimento em marginal, exatamente o que o Estado quer”, pois a violência “Faz as pessoas terem medo dos protestos”, além de facilitar a infiltração policial”.
A avaliação não faz sentido, pois a força dos protestos de junho em diante no Brasil, que obrigaram o Estado a ceder a reivindicações como a de baixar o preço das tarifas de ônibus, esteve justamente no vandalismo, que tornou as manifestações insuportáveis. Sem o vandalismo, elas poderiam ser suportadas e, assim, o Estado não teria que ceder.
Sem violência, o Estado recupera as condições de diálogo com a sociedade. Por isso, o quebra-quebra foi a grande arma das oposições à direita, à esquerda e na mídia para criar no país o clima que propiciou a queda estrondosa da popularidade de Dilma, que agora se recupera. Para desespero do fascismo, o Gigante está ficando sóbrio.
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