Nestes dias em que está difícil escrever de política, o tempo que tenho deve servir para dar ao leitor a informação que ele não terá na mídia ou que terá, mas tão encoberta que se torna difícil compreender.
E num tema que este blogueiro vem estudando atentamente.
Ontem, o comentário de Míriam Leitão na CBN – assim como sua coluna hoje, em O Globo, voltam a bater na tecla de que o Governo Federal deveria decretar um racionamento de energia elétrica, em razão da seca que faz os reservatórios das hidrelétricas ficarem abaixo do ideal.
Nem em um, nem em outro, uma palavra sequer sobre o fato de o abastecimento de água em São Paulo estar numa situação desesperadora.
Esqueça qualquer consideração técnica. O caso é que hoje está sendo realizado um leilão de comercialização de energia elétrica e o objetivo, além de majorar o preço, é evitar que as geradoras ofereçam eletricidade a um preço viável para as distribuidoras e deixem o mercado de fornecimento a descoberto.
E quebraram a cara no resultado, embora ainda vão tentar sustentar que não se cobriu toda a necessidade de contratação do que é comprado à vista, hoje; 3,2 mil MW, por até 822,83 por MW.
Foram contratados 2,05 mil MW – dois terços do que hoje é comprado à vista – por R$ 268 o MW, ligeiramente abaixo do preço máximo permitido, de R$ 271.
AAs previsões eram que 50% já seria um sucesso.
E porque isso aconteceu?
Porque não houve piora nas condições de armazenamento hidráulico do Sistema Integrado Nacional, mesmo não tendo havido em março e abril chuvas dentro da média histórica, muito ao contrário.
O armazenamento do Sudeste e Centro-Oeste termina março na casa dos 39%, contra pouco mais de 34% no final de fevereiro. A capacidade armazenada de todo o sistema nacional – que intercambia energia – passou de 38% para 43%. No Rio Madeira, Santo Antonio voltou a operar algumas turbinas e Jirau colocou mais uma nova unidade em operação e houve o reforço de mais uma um pequena usina, a de Batalha, no Rio Grande, que começou a operar ontem.
Se o esvaziamento dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, o mais crítico,repetir este ano o período seco do ano passado – quando já se utilizou as térmicas como elementos de economia e registrou-se uma redução de 62,4 (29 de abril) para 45% (31 de outubro) – a previsão poderia ser de chegar-se ao período chuvoso com mais de 20% de energia armazenada. Pensando no pior cenário, talvez 15%.
E com a volta das chuvas o cenário teria uma mínima normalização, pois o “período chuvoso” deste ano só teve chuvas, mesmo, no nome. Foi, simplesmente, o pior da história desde que se tem registro.
É isso o que explica o sucesso do leilão.
Óbvio que ninguém vende no atacado por R$ 270 se pode encontrar cliente no varejo da R$ 820.
Mas também não deixa de vender a R$ 270 para guardar e, amanhã, ter de vender a R$ 100.
Exceto, é claro, as estatais do setor de energia nas mão de governos estaduais tucanos, que não venderam energia no leilão, segundo o Valor.
Julgue você se estão sendo está sendo usadas politicamente para agravar a crise.
Não creio que a nossa valorosa imprensa se aventure a questionar Aécio sobre a atitude da Cemig ou o tal Beto Richa sobre a da Copel em boicotarem o leilão.
Os tucanos trouxeram a seca para a eleição e vão pagar caro por isso.
Porque ela traz São Paulo para este tema, também. E o quadro é muito mais dramático por lá.
O Cantareira terminará a semana a 10% de sua capacidade.
Há um ano, eram 63% – bem parecido com o volume dos reservatórios das hidroelétricas do Sudeste/Centro Oeste.
Em 31 de outubro, esse nível havia caído para 36,8.
Uma perda, portanto, de 26,2%.
Menos os 10% de reserva atual, tem-se um resultado negativo de -16% do volume útil do sistema, ou 156 bilhões de litros de déficit.
A visão otimista da Sabesp é de retirar até 200 bilhões de litros do “volume morto’. Cálculo duvidoso, porque são represas de mais de 30 anos, sofridas com o assoreamento e acúmulo de substâncias nocivas no fundo, sobretudo metais pesados.
Como o amigo e a amiga sabem fazer contas, nota-se que a melhor das hipóteses e “chegar no talo” às chuvas.
Portanto, preparem-se: a pouca chuva, paradoxamente, faz fazer rolar muita água no período eleitoral.
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