A crise hídrica em São Paulo foi praticamente esquecida do noticiário com o início da Copa; por conta do evento, porém, retirada de água do Sistema Cantareira aumentou 64% nas duas últimas semanas e a quantidade de chuva prevista para junho foi bem abaixo da média; principal reservatório da região, que deve passar a operar exclusivamente pelo 'volume morto' na próxima semana, atingiu 20,4% de sua capacidade; Sabesp conta com a chuva e confirma que nível é suficiente até março, mas estudo aponta que a água pode acabar em 100 dias se o clima continuar como está; problema voltará a ser o grande tema dos debates entre Geraldo Alckmin (PSDB), Paulo Skaf (PMDB) e Alexandre Padilha (PT) nas eleições
SP 247 – Não se vê mais notícias sobre a crise do abastecimento de água em São Paulo. Mas isso não quer dizer que a situação está menos grave, e sim que o noticiário tem voltado todas as suas atenções para a Copa do Mundo. O evento, aliás, que já trouxe até agora cinco jogos para a capital e, com isso, dezenas de milhares de torcedores do mundo todo, fez com que a retirada de água do Sistema Cantareira, principal reservatório da região metropolitana, aumentasse 64% nas duas últimas semanas.
Além disso, a quantidade de chuva prevista para o mês de junho foi bem abaixo da média. O sistema que abastece 30 milhões de pessoas atingiu 20,4% de sua capacidade nesta terça-feira 1º. Estudo apresentado pelo Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) indica que o volume útil do Cantareira chegará a zero entre os dias 7 e 8 de julho, ainda antes do final da Copa. A partir de então, o reservatório deverá operar exclusivamente pelo chamado volume morto.
O levantamento aponta que, depois dessa data, quando o manancial passará a usar apenas a água da reserva técnica, transferida em maio depois de o governo paulista ter descartado o racionamento como solução, a água será suficiente para no máximo 100 dias de abastecimento. Dos quatro reservatórios que compõem o sistema, dois (Jaguari e Jacareí) já estão captando o volume morto. Daqui a dez dias, esse também deve ser o cenário para os outros dois (Cachoeira e Atibainha).
Quem explica é o pesquisador da Unicamp e consultor do consórcio Antônio Carlos Zuffo. "Daqui a 10 dias, os reservatórios que ainda não recorreram diretamente à reserva só terão em sua capacidade água vinda deste recurso, ou seja, a água que em condições normais é utilizada para o abastecimento já terá se esgotado", disse. "Isso indica o perigo de desabastecimento. Caminhamos a passos largos para o desabastecimento, estamos em plena crise, não dá para negar", alertou.
Desde o início da captação do volume morto, em 28 de maio, o nível de abastecimento registrado pelo Cantareira era de 26,7% de sua capacidade. Nesta terça-feira, pouco mais de um mês depois, ele atingiu 20,4%, uma queda diária de 0,18%. O volume útil, nesse período, sofreu brusca queda: de 8,2% para 1,5%.
"O cenário em que encontramos é cada vez pior, porque as medidas deveriam ter sido tomadas em janeiro, no máximo em fevereiro, mas nada de fato foi feito. E estamos alertando para a seca desde o ano passado", diz ainda Zuffo, em entrevista ao portal iG. "O governo precisa assumir que a crise é extremamente grave e decretar o racionamento o quanto antes para garantir que cheguemos ao período chuvoso ainda com água.
Sem o Alto Tietê e o Cantareira, São Paulo literalmente para", afirma.
Sem dúvidas o tema, temporariamente esquecido, voltará a ser foco do debate depois do término do Mundial, e principalmente durante a campanha para as eleições de outubro, que definirá o próximo governador de São Paulo.
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