Terça-feira, bem antes que as pesquisas Ibope e Datafolha registrassem – até os analistas conservadores concordam – a desaceleração e até o que, talvez, seja o início do declínio da “onda Marina”, este blog registrou que começava a surgir um “voto contra as trevas”.
E surgia como fruto da “overdose” de fundamentalismo religioso e neoliberalismo econômico assumidos pela neocandidata do PSB.
Não se descarte que isso possa crescer ao ponto de se tornar um estigma sobre Marina Silva.
Porque Marina, personagens de Maquiavel, está “na dependência exclusiva da vontade e boa fortuna de quem lhes propiciou o Estado, isto é, de duas coisas extremamente volúveis e instáveis.”
Assim foi na eleição de 2010, quando se lhe atribuiu – e ela cumpriu – o papel de evitar a vitória de Lula, com Dilma, no primeiro turno, num momento de grande prosperidade econômica e imenso prestígio pessoal do então Presidente.
Nas eleições de 2014, tal papel foi atribuído a Eduardo Campos, outro disposto a assumir, por ambição, o papel de dissidente do bloco lulista.
Eduardo não representava a Aécio – como em 2010 Marina não representava a Serra – um perigo real.
A reviravolta do acaso e a megaexposição midiática da “sobrevivente da tragédia”, porém, catapultou Marina com uma força incontrolável.
Agora, em lugar de levar o candidato da direita convencional ao segundo turno, a “terceira via” eliminou-o.
Marina matou eleitoralmente Aécio Neves, hoje reduzido ao papel de desorientado coadjuvante, que tem de desmentir todos os dias sua renúncia.
Em princípio, cumpria-se apenas o diagnóstico de Maquiavel: “notando os grandes que não podem resistir ao povo, iniciam a criar a reputação de um de seus elementos e o tornam príncipe, para poder à sua sombra, satisfazer os seus apetites.”
Mas Marina não é a mesma coisa como elemento diversionista e como perspectiva real de poder.
Parte da elite brasileira, ainda que a reconheça como um instrumento para derrotar Lula e Dilma, começa a refluir de seu entusiasmo inicial com alguém que pode realizar este seu sonho de 12 anos.
Mesmo exibindo o Banco Itaú e uma vitrine de economistas neoliberais como “garantia” de suas “boas intenções” em relação ao “mercado” ela é um personagem fraco e inconfiável.
Fraco, porque, como escreve o clássico florentino, “nada é mais instável do que a fama de poder de um príncipe quando não está apoiada na própria força”.
Inconfiável, porque a fome de poder de um ambicioso jamais lhe sacia e se lhe trai em cada gesto.
Marina, que sequer conseguiu organizar a sua Rede, reorganizará a direita neste país?
Ou, como outros personagens da história e ela própria, em sua trajetória, cuidará de seu próprio fanatismo por si mesma?
A tese do “qualquer um” lançada por Fernando Henrique Cardoso não esperava que “qualquer um” fosse ela.
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