O Brasil é um país sui-generis em matéria de imprensa.
Um exemplo? Como é que três empresários – Apolo Vieira Santana, Eduardo Ventola e João Paulo Lira – que compraram, sem contrato ou recibo e usando contas-laranjas, depois de um mês, não foram abordados por um repórter sequer, não têm uma foto ou uma declaração – mesmo que seja nada a declarar – estampadas nos jornais, nos sites, na tevê?
Mistério….
Mas há um novo quase-mistério na praça.
Anteontem, o Bank of America, agora com o charmoso apelido de Merril Lynch, reuniu mais de 500 pesos-pesados das finanças brasileiras, a nata da “turma da bufunfa” para ouvir os emissários de Marina Silva: o vice, Beto Albuquerque, André Lara Resende e Alexandre Rands, além dos coordenadores Walter Feldman, Maurício Rands, Bazileu Margarido e João Paulo Capobianco.
532, para ser exato, porque o Estado de Minas publica algo próximo de um press-release sobre o encontro, onde se fala tudo, menos do que se falou nele.
Obviamente, não foi permitido o acesso da plebéia imprensa.
Mas será que não tem um coleguinha capaz de, como a gente chama na profissão, “recuperar” o que se disse ali sobre o que pretendem fazer com o país?
Mas, calma.
Nem tudo está perdido.
Reinaldo Azevedo- o último Aécioman da Terra, agora que Merval Pereira marinou -tinha um amigo por lá.
Não vou tirar leitores do Reinaldo, cujo blog sempre visito, em nome de minhas convicções sobre a biodiversidade.
Mas trago o essencial, retirado da espuma petófoba que lhe sai.
Diz que a bola ficou com André Lara Resende*, o cavaleiro (cavaleiro, mesmo, sem lh) do Plano Cruzado e das traquinagens do Governo FHC, cujo retrato deixo que a própria Veja faça, numa nota ao pé desta página, para evitar que ele se aborreça.
Diz Reinaldo depois que ele falou do que Marina (eles, claro) pensa sobre de preços, “os que o ouviram saíram de lá com a impressão de que ele defende um tarifaço de cara para retomar a credibilidade… ”.
Que mais, que mais, como diz no rádio o Sardemberg?
Disse que vão promover uma desvalorização do Real e, logo, uma alta do dólar: Os “vocalizadores” de Marina também acham que o câmbio está valorizado de maneira artificial, e se supõe, então, que a turma pretenda trabalhar com um dólar mais fraco e um real mais forte.
Ah, e os empresários vão ser convocados para um “mutirão” cívico na infraestrutura – supõe-se que com dinheiro próprio, não com o do BNDES, que dizem estar hipertrofiado – e em troca a “ categoria deixaria de ser “tratada como bandida”.
Diz Reinaldo que “falou-se até em rever a postura “perversa e autoritária” da Receita Federal”.
Aquela coisa horrorosa do tipo autuar o Itaú pela merreca de R$ 19 bilhões de imposto sonegado, sabe como é…
Então está aí, com meus agradecimentos a Reinaldo Azevedo, este repórter atucanado sempre com a notícia, por ter revelado como é que seria (seria, do verbo não será) a “nova economia” da “nova política”.
Palmas para o jornalismo econômico brasileiro, que deixou passar uma “reunião de bacanas” que nem o Bezerra da Silva perdoaria.
* sobre André Lara Resende, da Veja: “Economista brilhante, Lara Resende ajudou a criar o Plano Cruzado, juntamente com o colega Persio Arida. Teceu também as bases do Plano Real. Para favorecer a vitória do Opportunity na compra da Tele Norte Leste, em detrimento do consórcio Telemar, negócio que não se concretizou, Lara Resende foi diretíssimo ao ponto em suas conversas telefônicas com Arida. ”Se precisar vou ter de detonar a bomba atômica”, disse ele ao amigo, referindo-se ao presidente Fernando Henrique Cardoso. ”Vai lá e negocia, joga o preço para baixo. Depois, se precisar, a gente sobe e ultrapassa o limite”, instruiu Lara Resende, segundo fitas divulgadas pela imprensa à época.” Foi absolvido, apesar disso, por falta de provas.
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