Da Redação
No despacho em que respondeu à solicitação do ministro Teori Zavascki para esclarecer a interceptação e vazamento de grampos de autoridades com foro privilegiado e advogados, o juiz Sérgio Moro argumentou que o fez por acreditar que os diálogos eram relevantes para o processo.
Eles indicariam ação do ex-presidente Lula para obstruir a Justiça.
Isso certamente causará grande debate, uma vez que Moro aparentemente considera qualquer ação política como potencialmente criminosa.
No despacho, o juiz federal de Curitiba menciona a decisão de Wadih Damous — de pedir o impeachment do ministro Gilmar Mendes, do STF — como prova de que o deputado petista teria agido como cúmplice do ex-presidente.
Moro usa uma lógica tortuosa: como nenhuma das autoridades com foro privilegiado teria cedido às pressões de Lula, a divulgação das gravações em que as vozes delas aparecem não teria tido maiores consequências. Porém, isso é contraditório com o grampo que causou maior celeuma.
Na conversa com a presidente Dilma, Lula ouve enquanto é informado que receberá um documento em casa. O próprio Moro admite que não viu nada de errado na ação de Dilma. Como a gravação registra Lula passivo, por que então divulgar a conversa, se ela nada acrescenta à acusação contra o ex-presidente?
Moro afirma que as gravações de conversas de Roberto Teixeira se justificam pelo fato de que o advogado de Lula é suspeito de ter servido de acessório para seu cliente ocultar patrimônio.
Mas o que mais impressiona no longo despacho (íntegra abaixo) é que Moro considera a blague do prefeito Eduardo Paes, capturada em conversa com o ex-presidente, como prova de que Lula de fato seria dono do sítio de Atibaia, talvez pela frase “imagina se fosse aqui no Rio esse sítio dele”. No contexto, no entanto, está claro tratar-se de uma piada.
Sobre as “escusas” de Moro, ele não se desculpou por vazar as gravações, mas apenas pela polêmica que de fato gerou.
A leitura da íntegra do despacho indica que o juiz já formou convicção sobre a culpa de Lula, mesmo tendo ouvido e registrado o diálogo do ex-presidente de que jamais iria para o Ministério de Dilma para se proteger.
A resposta de Moro a Zavascki, em forma de sentença, foi uma inteligente forma de emparedar o Supremo Tribunal Federal.
Seja como for, internautas se divertiram com a postura de Moro depois que a mídia registrou que ele tinha pedido “desculpas”:
Por Anna Christina com ilustração disseminada por Maria Goretti
Coloquei em risco a segurança nacional.
Desrespeitei direitos de cidadãos e da autoridade máxima do país.
Desmoralizei publicamente você, sua família e seus amigos.
Coloquei em jogo o futuro do país.
Deixei o Supremo Tribunal Federal em maus lençóis.
Dei munição pra mídia destruir a sua imagem.
Invadi sua privacidade e mandei tudo pra TV.
Desculpa, tá…
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