A primeira reação da chamada grande imprensa diante dos atentados de dimensões catastróficas ocorridos em Oslo, em que morreram cerca de 80 pessoas, foi relacionar sua autoria a grupos terroristas islâmicos. O 'New Yok Times' chegou a divulgar um texto atribuído a um desses grupos, que confirmava a autoria dos massacres. A informação foi rapidamente replicada em todo o mundo, sem qualquer investigação empírica, como algo dotado de uma lógica autoexplicativa. Era falso. Tudo isso aconteceu antes que o próprio governo noruegues fornecesse uma pista para elucidar as motivações dos atentados. Quando se pronunciou, foi para advertir que as maiores suspeitas recaíam sobre grupos noruegueses de extrema direita sediados em Oslo, onde acontece a festa anual de entrega do Prêmio Nobel da Paz. O enredo não fazia sentido. Na pauta esfericamente blindada da narrativa dominante quase não há espaço para interações entre extrema direita política e violência terrorista. Uma precipitação em circunstancias como essa envolve o risco, nada desprezível, de desencadear represálias violentas contra comunidades etnicas e religiosas em diferentes pontos do planeta. É inevitável lembrar que a manipulação do medo e do ódio nos EUA, através de mídias como a Fox News, de Rupert Murdoch, após o repulsivo atentado de 11 de Setembro, pavimentou o caminho de uma guerra desordenada em busca de 'armas e destruição em massa', de resto nunca encontradas. Sobretudo em situações extremas, a pluralidade da informação de alcance isonômico mostra-se uma salvaguarda indispensável da democracia contra a manipulação do medo e da dor pelo império do preconceito.
(Carta Maior; Sábado, 23/07/ 2011)
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