Colunistas de economia dos principais grupos de mídia do país defenderam a visão do mercado financeiro de que o Banco Central perdeu credibilidade ao baixar Selic pela primeira vez no governo Dilma. Mas nem todos se renderam a esse "pensamento único".
Da Redação
SÃO PAULO - Com raras exceções, os principais colunistas econômicos da grande mídia amplificaram, nesta quinta-feira (1), a idéia de que o Banco Central (BC) cedeu à pressão política do Palácio do Planalto para reduzir a taxa Selic. A instituição anunciou na quarta-feira (31) o corte do juro básico da economia em meio ponto percentual, para 12%, pela primeira vez no governo Dilma. Apesar da queda, o país ainda possui uma das mais altas taxas do mundo.
Colunista do jornal O Globo, da TV Globo e da rádio CBN, a jornalista Míriam Leitão buscou no mercado financeiro a justificativa técnica para sustentar que a decisão do BC prejudica a economia brasileira.
"Economistas que fazem análises nos departamentos de bancos e consultorias previam manutenção da taxa, porque era a melhor coisa a se fazer diante do cenário internacional e da pressão da inflação ainda forte no Brasil", escreveu em O Globo. "Todo mundo quer que os juros caiam, mas o problema é quando isso acontece quando não há condições técnicas e com tudo dizendo o contrário".
Apresentador e colunista da rádio CBN, Carlos Alberto Sardenberg também criticou a decisão do BC. Em seu comentário desta quinta-feira na edição matutina do Jornal da CBN, ele defendeu a importância da convergência de opiniões entre a instituição e o mercado. "O sistema de metas de inflação aplicado no Brasil e em mais 150 países com bancos centrais independentes funciona com alguns rituais, e um deles é que deve haver convergência de opiniões entre o Banco Central e o chamado mercado", afirmou.
Para Sardenberg, os sinais apontados pelo BC para reduzir a Selic – crise internacional e desaceleração da economia brasileira – não têm base na realidade. "A análise de que estamos na iminência de uma crise como a de 2008 só o BC está fazendo, e o Brasil está anunciando recorde no comércio externo", contestou.
No jornal O Estado de S. Paulo, o colunista Celso Ming optou pela ironia. Disse que há sinais de que “o Banco Central se transformou num derivativo do Ministério da Fazenda – ou do Palácio do Planalto” e que “as autoridades da área monetária terão de correr atrás do prejuízo infligido a sua credibilidade”.
“Ao Banco Central não basta que seja autônomo; é preciso parecer. A maneira como conduziu a baixa de juros, decidida quarta-feira, não cuidou da preservação da credibilidade de uma instituição que precisa conduzir responsavelmente as expectativas dos agentes econômicos”, analisou Ming, que também criticou que o PIB seja uma variável a ser considerada na definição da Selic.
Em sua crítica à decisão do BC, a colunista Thais Herédia, do portal G1, das Organizações Globo, respaldou-se em comentário do banco Morgan Stanley: “dadas as condições atuais da economia brasileira, o corte (de 0,50pp) pode se provar antecipado. Os riscos inflacionários continuam altos no país e, a não ser que ocorra uma brusca deterioração na economia mundial, a inflação vai continuar elevada”.
No Jornal do SBT, Carlos Nascimento aventurou-se pelo universo econômico e também deixou seu recado: “Se espera que a decisão tenha sido tomada apenas do ponto de vista técnico, sem inteferência política do governo que vinha buzinando na orelha do Banco Central para baixar o juro. Não que a notícia não seja boa, porque é, mas, além de boa, tem que ser a decisão certa”.
Contra a corrente
Apesar das críticas ao Banco Central terem se espalhado na mídia, em artigos e reportagens, nem todos os colunistas engoliram a tese de que foi um equívoco reduzir os juros. Em seu blogue no portal do Estadão, José Paulo Kupfer publicou um texto chamado “Exageros”, em que compara a reação anti-BC ao furação Irene que atingiu os Estados Unidos.
“Quando veio a decisão de cortar – e de cortar forte em 0,5 ponto porcentual – a reação contrária que se seguiu à surpresa generalizada teve a força de um furacão. E de tal intensidade que, se fosse possível comparar, o Irene, diante dela, não passaria de uma brisa”, escreveu.
Por um lado, Kupfer diz que “a presidente Dilma Rousseff, com ela própria no comando da ação interventora, extinguiu a norma institucional vigente e atropelou sem cerimônia a autonomia informal do Banco Central, determinando que se decidisse o que foi decidido”.
Por outro, porém, contestou a tese de que a credibilidade do Banco Central na coordenação do sistema de metas de inflação e o próprio sistema de metas de inflação foi arruinada.
“Se a coordenação de expectativas do BC se limitasse às do mercado financeiro, não haveria dúvida de que este é um momento de ampla falta de sintonia. Mas, se tal coordenação deve englobar os outros segmentos da economia e, enfim, a sociedade em geral, a conversa da credibilidade precisa de qualificação e ir bem mais longe”, apontou.
Outro colunista que remou contra a corrente foi Fernando Canzian, em artigo publicado na versão eletrônica da Folha de S. Paulo, chamado “Brasil vira o jogo”. No texto, o jornalista afirma que não faltará capital externo ao Brasil mesmo com o recuo da Selic, pois “o mundo rico pratica hoje taxas de juro negativas ou próximas de zero”.
Canzian também não descarta a justificativa do BC de que “os riscos de inflação são cada vez menores diante do desaquecimento no mundo rico”. Sobre isso, ele diz: “É uma aposta, mas factível. Os países desenvolvidos devem comprar menos, diminuindo pressões sobre preços”.
Colunista do jornal O Globo, da TV Globo e da rádio CBN, a jornalista Míriam Leitão buscou no mercado financeiro a justificativa técnica para sustentar que a decisão do BC prejudica a economia brasileira.
"Economistas que fazem análises nos departamentos de bancos e consultorias previam manutenção da taxa, porque era a melhor coisa a se fazer diante do cenário internacional e da pressão da inflação ainda forte no Brasil", escreveu em O Globo. "Todo mundo quer que os juros caiam, mas o problema é quando isso acontece quando não há condições técnicas e com tudo dizendo o contrário".
Apresentador e colunista da rádio CBN, Carlos Alberto Sardenberg também criticou a decisão do BC. Em seu comentário desta quinta-feira na edição matutina do Jornal da CBN, ele defendeu a importância da convergência de opiniões entre a instituição e o mercado. "O sistema de metas de inflação aplicado no Brasil e em mais 150 países com bancos centrais independentes funciona com alguns rituais, e um deles é que deve haver convergência de opiniões entre o Banco Central e o chamado mercado", afirmou.
Para Sardenberg, os sinais apontados pelo BC para reduzir a Selic – crise internacional e desaceleração da economia brasileira – não têm base na realidade. "A análise de que estamos na iminência de uma crise como a de 2008 só o BC está fazendo, e o Brasil está anunciando recorde no comércio externo", contestou.
No jornal O Estado de S. Paulo, o colunista Celso Ming optou pela ironia. Disse que há sinais de que “o Banco Central se transformou num derivativo do Ministério da Fazenda – ou do Palácio do Planalto” e que “as autoridades da área monetária terão de correr atrás do prejuízo infligido a sua credibilidade”.
“Ao Banco Central não basta que seja autônomo; é preciso parecer. A maneira como conduziu a baixa de juros, decidida quarta-feira, não cuidou da preservação da credibilidade de uma instituição que precisa conduzir responsavelmente as expectativas dos agentes econômicos”, analisou Ming, que também criticou que o PIB seja uma variável a ser considerada na definição da Selic.
Em sua crítica à decisão do BC, a colunista Thais Herédia, do portal G1, das Organizações Globo, respaldou-se em comentário do banco Morgan Stanley: “dadas as condições atuais da economia brasileira, o corte (de 0,50pp) pode se provar antecipado. Os riscos inflacionários continuam altos no país e, a não ser que ocorra uma brusca deterioração na economia mundial, a inflação vai continuar elevada”.
No Jornal do SBT, Carlos Nascimento aventurou-se pelo universo econômico e também deixou seu recado: “Se espera que a decisão tenha sido tomada apenas do ponto de vista técnico, sem inteferência política do governo que vinha buzinando na orelha do Banco Central para baixar o juro. Não que a notícia não seja boa, porque é, mas, além de boa, tem que ser a decisão certa”.
Contra a corrente
Apesar das críticas ao Banco Central terem se espalhado na mídia, em artigos e reportagens, nem todos os colunistas engoliram a tese de que foi um equívoco reduzir os juros. Em seu blogue no portal do Estadão, José Paulo Kupfer publicou um texto chamado “Exageros”, em que compara a reação anti-BC ao furação Irene que atingiu os Estados Unidos.
“Quando veio a decisão de cortar – e de cortar forte em 0,5 ponto porcentual – a reação contrária que se seguiu à surpresa generalizada teve a força de um furacão. E de tal intensidade que, se fosse possível comparar, o Irene, diante dela, não passaria de uma brisa”, escreveu.
Por um lado, Kupfer diz que “a presidente Dilma Rousseff, com ela própria no comando da ação interventora, extinguiu a norma institucional vigente e atropelou sem cerimônia a autonomia informal do Banco Central, determinando que se decidisse o que foi decidido”.
Por outro, porém, contestou a tese de que a credibilidade do Banco Central na coordenação do sistema de metas de inflação e o próprio sistema de metas de inflação foi arruinada.
“Se a coordenação de expectativas do BC se limitasse às do mercado financeiro, não haveria dúvida de que este é um momento de ampla falta de sintonia. Mas, se tal coordenação deve englobar os outros segmentos da economia e, enfim, a sociedade em geral, a conversa da credibilidade precisa de qualificação e ir bem mais longe”, apontou.
Outro colunista que remou contra a corrente foi Fernando Canzian, em artigo publicado na versão eletrônica da Folha de S. Paulo, chamado “Brasil vira o jogo”. No texto, o jornalista afirma que não faltará capital externo ao Brasil mesmo com o recuo da Selic, pois “o mundo rico pratica hoje taxas de juro negativas ou próximas de zero”.
Canzian também não descarta a justificativa do BC de que “os riscos de inflação são cada vez menores diante do desaquecimento no mundo rico”. Sobre isso, ele diz: “É uma aposta, mas factível. Os países desenvolvidos devem comprar menos, diminuindo pressões sobre preços”.
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