Em mais de trinta anos de vida política, Lula foi virado no avesso pelo conservadorismo nativo. A direita e seus ventríloquos midiáticos , com maior ou menor dose de recato,e em alguns casos sem nenhum , submeteram a sua alma, seu coração e seus pensamentos, ademais de manifestações explícitas de natureza política, a uma tomografia ininterrupta. Lula ficou nu. Não escaparam seu passado e o futuro --especulado e várias vezes sepultado precocemente , bem como o presente dos parentes próximos ou distantes, amigos , companheiros e colaboradores mais estreitos. A sofreguidão frustrou-se a cada golpe desmascarado, cada fraude e calúnia esfareladas. A cada suposto revés definitivo o vínculo do líder com a sociedade estreitou-se. De um lado cresceu o mito; de outro, recrudesceu o ódio respingado agora da boca dos mais afoitos no episódio do câncer que o acometeu. O segredo de sua liderança, como ele próprio sintetizou um dia a seu modo, decorre de ser uma assumida construção coletiva do povo brasileiro com o qual estabeleceu um vínculo feito de lutas, conquistas, erros e acertos. Ao se depilar publicamente agora pelas mãos da esposa, antecipando-se a colaterais da quimioterapia, Lula reitera a confiança nesse laço que se sobrepõe às aparências e às versões. Ontem, ele foi vital para vencer o cerco político. Hoje , emanará energia positiva por parte daqueles que sabem enxergar além das aparências: Lula raspou pelos, mas não trocou de pele.
(Carta Maior; 5ª feira, 17/11/ 2011)
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