Os riscos de uma revolta anti-Globo ocorrer durante as manifestações levou a emissora a corrigir sua rota editorial. Com voz calma, tranquilidade e até informalidade, a dupla William Bonner e Patrícia Poeta vai conduzindo a cobertura do Jornal Nacional com uma candura inédita. Até mesmo com leves sorrisos, eles têm se mostrado satisfeitos em elogiar as marchas. Em editorial lido na segunda-feira 17, Patrícia manifestou com todas as letras a simpatia global pela iniciativa estudantil.
Ok, tudo lindo não fosse, ainda, a postura inicial da emissora frente ao movimento.
A primeira manifestação de massa, em São Paulo, na quinta-feira 13, quando a PM – e não o movimento – feriu, também com balas de borracha, nada menos que sete jornalistas e fez dezenas de feridos entre os manifestantes, foi classificada como "coisa de vândalos" por ninguém menos que Arnaldo Jabor, o principal colunista emissora, com entradas regulares no Jornal Nacional. Mas o próprio Jabor, em seguida, teve de se corrigir, em nome de preservar o patrimônio global, que não resistiria ao oposicionismo praticado em rede nacional pelos principais quadros da emissora. Em São Paulo, no Bom Dia local, o apresentador Rodrigo Bocardi acompanha o tom ameno da cobertura, assim como a âncora Leilane Neubarth, na Globo News, também tece elogios ao movimento, apesar das situações fora de controle em tantos casos.
Ao ajustar seus ponteiros com a massa, passando a apoiá-la no meio das marchas, a Globo descobriu, ao mesmo tempo, uma boa forma de fustigar o governo. Ontem, o Jornal Nacional, em decisão inédita, quebrou a grade de programação, invadiu o horário da novela e deixou no ar as cenas de conflito em Brasília, às portas do Palácio do Planalto. Noutros momentos, quando interessa não mostrar o povo na rua, a Globo cumpriu seu papel. Foi assim, num caso histórico e emblemático, diante da campanha das Diretas Já, em 1984, quando a Globo se recusava a transmitir imagens de comícios com mais de 100 mil pessoas (antes da era da internet), como foi o da Praça da Sé, em São Paulo.
Agora é diferente. Para proteger seu patrimônio, buscar a imagem de parceira do movimento e aproveitar para desgastar o governo, a Globo tem todas as suas câmaras abertas – e os melhores sorrisos de seus âncoras – para mostrar, ao seu modo, o que se passa neste momento no Brasil.
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