Escrevo no começo da tarde de quinta-feira, 11 de julho de 2013. Até este momento, as manifestações das centrais sindicais que começaram ainda cedo em São Paulo refletiram diferenças marcantes em relação às que ocorreram no país ao longo de junho.
Ainda que ocorrendo nos mesmos locais – estradas e grandes avenidas – que as manifestações do mês passado, as de trabalhadores preservaram o direito de ir e vir. Apesar de alguns congestionamentos maiores, a cidade pôde funcionar.
Na foto acima, o leitor confere flagrante que este blogueiro captou da janela de seu apartamento. A imagem é da avenida 23 de maio, próximo ao obelisco do Ibirapuera. Essa via liga a zona Sul da cidade à zona Norte. O que se vê é uma das várias marchas que, no fim da manhã, originaram-se de vários pontos da cidade em direção à avenida Paulista.
As grandes veias de circulação da cidade, pois, tiveram faixas de rodagem preservadas para emergências, como circulação de ambulâncias e da polícia. Os carros de som das centrais davam orientações aos manifestantes sobre que rumo seguir.
À exceção de confusão em reunião dentro de um sindicato de motoristas de ônibus, não houve notícias de violência ou de depredações. A postura civilizada dos manifestantes os diferenciou dos que incendiaram o país no mês passado.
É possível que até o fim do dia ocorra algum incidente, mas, nas manifestações de junho, a violência explodia por toda parte e o ambiente foi sempre de tensão, exigindo enorme aparato policial. Nas manifestações de trabalhadores, a polícia pareceu despreocupada.
Nas manifestações de trabalhadores apareceram bandeiras e camisetas de partidos políticos e de sindicatos. Não houve repressão a posições políticas e ideológicas. Pelo menos até o momento em que tais atos públicos já se encaminhavam para o fim.
O horário das manifestações, portanto, é outro indicativo de um conceito cidadão e civilizado sobre como se deve sair à rua para reivindicar direitos. Começando cedo e terminando no meio do dia, a cidade já retomava o seu ritmo após o recado ter sido dado.
É nesse ponto que surge uma das principais diferenças: nas manifestações de trabalhadores de 11 de julho não houve a intenção clara de tumultuar ou de gerar clima de medo. A escolha dos horários dos atos e a rapidez com que os manifestantes evoluíram pelas ruas foram qualificadas pelos telejornais da manhã e do começo da tarde como responsáveis pelo funcionamento normal da cidade.
A avenida Paulista foi sendo tomada desde cedo pelos manifestantes, mas, no fim da manhã, passeatas menores, originárias de várias regiões da cidade, iam aumentando o tamanho da manifestação no local em clima ameno, sem tensão.
Até o começo da tarde de quinta, a diferença na forma de se manifestar ia ficando cada vez mais clara. Os carros de som das centrais e sindicalistas encarregados de orientar as marchas impediram excessos.
Estradas foram bloqueadas, porém não geraram confrontos, violência ou acidentes. Até por serem marchas orientadas por lideranças que já mantinham negociação com as autoridades a fim de liberar as vias. Mesmo sendo desnecessário, porque tais marchas já se encaminhavam para o fim.
Outra diferença importante foi no tom que a mídia dispensou aos atos das centrais sindicais. Na Globo, por exemplo, voltaram as reportagens com motoristas reclamando dos manifestantes por interromperem o trânsito, o que não ocorreu em junho.
A boa vontade da mídia com manifestações ordeiras e pacíficas, que não convulsionaram a cidade, foi muito menor do que com as manifestações de junho, que produziram o caos. O tom crítico aumentou muito.
Também houve diferença de número de manifestantes. Ainda que os números de São Paulo não tenham sido fechados, já se pode dizer que algumas dezenas de milhares de trabalhadores foram à rua. E, à diferença dos manifestantes de junho, todos unidos nos mesmos propósitos.
Provavelmente esse número de manifestantes virá a se mostrar um pouco menor, mas será impossível dizer que não houve um grande afluxo de cidadãos aos atos.
Foi inevitável notar, também, ausência de politicagem. Não houve grupos tentando prejudicar este ou aquele partido ou governante em particular.
A conclusão que se pode extrair do Dia Nacional de Lutas das centrais sindicais, portanto, é a de que foi importante porque mostrou ao país que é possível, sim, fazer atos públicos civilizados, forjados sob razões claras e com respeito aos direitos de quem não participou.
Mais ainda, os atos das centrais mostraram que há setores organizados da sociedade que saberão se fazer presentes se as ruas voltarem a ser usadas com o fim nefasto com que foram no mês de junho, quando o direito de manifestação foi desfigurado por fascistas.
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