* 140 horas de fermentação conservadora em 10 dias:"A classe média não tem peso populacional, mas tem grande influência. Foi o segmento que foi às ruas. Houve um efeito de pedra no lago, ajudado pela ampla divulgação dos canais de TV aberta, que dedicaram 140 horas de suas transmissões, em dez dias, para a cobertura das manifestações" (Mauro Paulino, diretor do Datafolha)
** Nesta 4ª feira, 03/07, 17hs: Assembléia de rua: "Democratização da mídia"; no Jardim Botânico, no RJ, em frente à Globo --que sonegou a bagatela R$ 615 milhões ao IR, como demonstrou o blog 'O cafezinho', de Miguel do Rosário, e continuou recebendo publicidade oficial** Convocação: ‘Barão de Itararé' e ‘Cidadania Sim! PiG, nunca mais'.
Dos partidos da oposição, o único que aceitou o convite da Presidenta Dilma para conversar sobre o Brasil e a reforma política foi o PSOL. Demotucanos e assemelhados declinaram. Alegam não ter sobre o que conversar. Faz sentido. Ouvir as ruas é tudo o que o credo neoliberal entende que não deva ser feito nessa hora; em qualquer hora. A democracia para esse sistema auditivo é um ornamento. O oposto do que pensa a tradição socialista: a democracia cresce justamente quando escapa aos limites liberais e se impõe como força normativa aos mercados. Volatilidade é uma prerrogativa dos capitais, replica a visão conservadora. À política cabe a tarefa de calcificar o poder. Editoriais de O Globo, Estadão e Veja, ademais de centuriões da mesma extração, uivam a rejeição à proposta de plebiscito, que Dilma envia ao Congresso nesta 3ª feira. O que lhes interessava obter das ruas, as ruas já deram. O Datafolha, no calor da Paulista, sentenciou a chance de um 2º turno em 2014. O ‘não' ao convite de Dilma encerra a solidez de uma coerência histórica. A contrapartida cabe à esquerda. A sorte do país e o destino de sua democracia dependem, em grande parte, dos desdobramentos concretos que o diálogo simbólico entre Dilma e o PSOL tiverem na unificação da agenda progressista brasileira. Não apenas para a reforma política, mas para democratizar o crucial debate sobre o passo seguinte do desenvolvimento.(LEIA MAIS AQUI)
Administrar o neoliberalismo: lições do Brasil
A gestão do neoliberalismo por regimes de centro-esquerda é um exercício incômodo. A retórica do governo insiste em pintar um quadro de progresso social em um marco de desenvolvimento econômico. Mas as amarras do modelo neoliberal conspiram para anular os êxitos que poderiam ser obtidos. O neoliberalismo não foi feito para promover o desenvolvimento.
Alejandro Nadal - SinPermiso
A gestão do neoliberalismo por regimes de centro-esquerda é um exercício incômodo. A retórica do palácio de governo insiste em pintar um quadro de progresso social em um marco de desenvolvimento econômico. Mas as amarras do modelo neoliberal conspiram para anular os êxitos que poderiam ser obtidos. O neoliberalismo não foi feito para promover o desenvolvimento.
Nos últimos anos surgiu o mito do milagre econômico no Brasil. A taxa de crescimento do PIB esteve acima da média da América Latina e seu desempenho exportador lhe permitiu manter um superávit significativo. Além disso, o aumento no gasto social lhe possibilitou reduzir a pobreza e diminuir a fome. O que podia dar errado?
As manifestações nas cidades brasileiras são produto de muitos fatores. Desde a péssima qualidade dos serviços públicos e da inconformidade com a corrupção, até a repressão aplicada pelos corpos de segurança. O movimento também está animado pela impaciência com a classe política que só ambiciona apoderar-se de cargos públicos para viver de suas rendas. Por enquanto, a desaprovação não têm mais perspectivas que o simples protesto. Mas esta conjuntura obriga a examinar a estrutura e o desempenho da economia brasileira sob o peculiar enfoque do PT.
Para começar tem que entender o mito do crescimento econômico no Brasil. Entre 1999 e 2011, o crescimento médio anual foi de 3%, nada espetacular e certamente muito abaixo das necessidades de geração de emprego que o gigante sul-americano tem. Nesses anos a economia brasileira foi dando cambalhotas, alternando anos de rápido crescimento (7% em 2010) com outros de mal desempenho (rombos de menos 0,2% em 2003 e 2009).
O desemprego aberto no Brasil alcança 6% da PEA (2011). Para os padrões europeus em plena crise esse dado parece reduzido. Mas deve ser manejado com cautela. Entre 2000 e 2007 51% do emprego total no Brasil se concentrou no setor informal. Como em toda a América latina, o setor informal é um grande gerador de emprego e o perfeito disfarce para o principal problema econômico do capitalismo.
Na década dos anos noventa, foram aplicados, no Brasil, fortes programas de estabilização, com esquemas de contração salarial, ajuste fiscal e até a criação da nova moeda, o real. A inflação reduziu-se de níveis superiores a 2.000% até níveis historicamente baixos (cerca de 5%). Desde então impera a política macroeconômica restritiva, com as taxas de juros mais elevadas da América latina.
Os dois governos de Lula procuraram conciliar as diretrizes do neoliberalismo com objetivos de justiça social. Para não alterar os equilíbrios da macroeconomia neoliberal, se optou pelo caminho do assistencialismo. Para obter os recursos necessários se incrementou a pressão fiscal até alcançar 36,2% do PIB em 2012. Esse é um nível que corresponde ao de um país com bons serviços públicos, mas no Brasil predomina a má qualidade em matéria de saúde, educação e transporte.
A política fiscal é de corte neoliberal absoluto e seu principal objetivo é gerar um superávit primário (diferença entre ingressos e gastos líquidos de encargos financeiros). O superávit primário é um montante que poderia ser investido em saúde, educação e transporte, mas se destina a cobrir cargas financeiras. O ano passado ultrapassou 53 bilhões de dólares, soma equivalente a 2,3% do PIB, mas inferior à meta de 3% do PIB: o Brasil manteve um dos níveis mais altos de superávit primário do mundo.
Por outro lado, a estrutura do imposto sobre a renda não é progressiva e uma boa parte da carga é suportada pelos trabalhadores de poucos ingressos. Além disso, o peso do IVA (Impuesto al valor agregado) na arrecadação total é desmedido: 48% da arrecadação total provém deste imposto regressivo que onera com a mesma taxa ricos e pobres. O arrecadado pelo IVA representa cerca de 12% do PIB no Brasil, um escândalo.
As bases do setor exportador não são robustas. Cerca de 55% das exportações provém do setor primário, com um enorme custo social e ambiental. A volatilidade dos preços destes produtos básicos é bem conhecida e, por isso, em 2012 o Brasil teve seu pior superávit comercial em dez anos. A indústria brasileira teve um mau ano em 2012 e subsistem sinais de fragilidade no setor manufatureiro. Por outro lado, o modelo de agronegócio brasileiro é um fracasso social, ambiental e econômico, mas os grandes consórcios desse país, com o consentimento do governo, pretendem exportá-lo para Moçambique e outros países da África.
Finalmente, em matéria social, a redução da pobreza no Brasil foi real, mas modesta. Este país continua entre os com maior desigualdade no mundo. Para os partidos da esquerda institucional na América latina, as lições são claras. No final do caminho, as contradições do neoliberalismo são insuperáveis: nem desenvolvimento, nem rosto humano.
*Alejandro Nadal é membro do Conselho Editorial de SinPermiso
Tradução: Libório Júnior
Nos últimos anos surgiu o mito do milagre econômico no Brasil. A taxa de crescimento do PIB esteve acima da média da América Latina e seu desempenho exportador lhe permitiu manter um superávit significativo. Além disso, o aumento no gasto social lhe possibilitou reduzir a pobreza e diminuir a fome. O que podia dar errado?
As manifestações nas cidades brasileiras são produto de muitos fatores. Desde a péssima qualidade dos serviços públicos e da inconformidade com a corrupção, até a repressão aplicada pelos corpos de segurança. O movimento também está animado pela impaciência com a classe política que só ambiciona apoderar-se de cargos públicos para viver de suas rendas. Por enquanto, a desaprovação não têm mais perspectivas que o simples protesto. Mas esta conjuntura obriga a examinar a estrutura e o desempenho da economia brasileira sob o peculiar enfoque do PT.
Para começar tem que entender o mito do crescimento econômico no Brasil. Entre 1999 e 2011, o crescimento médio anual foi de 3%, nada espetacular e certamente muito abaixo das necessidades de geração de emprego que o gigante sul-americano tem. Nesses anos a economia brasileira foi dando cambalhotas, alternando anos de rápido crescimento (7% em 2010) com outros de mal desempenho (rombos de menos 0,2% em 2003 e 2009).
O desemprego aberto no Brasil alcança 6% da PEA (2011). Para os padrões europeus em plena crise esse dado parece reduzido. Mas deve ser manejado com cautela. Entre 2000 e 2007 51% do emprego total no Brasil se concentrou no setor informal. Como em toda a América latina, o setor informal é um grande gerador de emprego e o perfeito disfarce para o principal problema econômico do capitalismo.
Na década dos anos noventa, foram aplicados, no Brasil, fortes programas de estabilização, com esquemas de contração salarial, ajuste fiscal e até a criação da nova moeda, o real. A inflação reduziu-se de níveis superiores a 2.000% até níveis historicamente baixos (cerca de 5%). Desde então impera a política macroeconômica restritiva, com as taxas de juros mais elevadas da América latina.
Os dois governos de Lula procuraram conciliar as diretrizes do neoliberalismo com objetivos de justiça social. Para não alterar os equilíbrios da macroeconomia neoliberal, se optou pelo caminho do assistencialismo. Para obter os recursos necessários se incrementou a pressão fiscal até alcançar 36,2% do PIB em 2012. Esse é um nível que corresponde ao de um país com bons serviços públicos, mas no Brasil predomina a má qualidade em matéria de saúde, educação e transporte.
A política fiscal é de corte neoliberal absoluto e seu principal objetivo é gerar um superávit primário (diferença entre ingressos e gastos líquidos de encargos financeiros). O superávit primário é um montante que poderia ser investido em saúde, educação e transporte, mas se destina a cobrir cargas financeiras. O ano passado ultrapassou 53 bilhões de dólares, soma equivalente a 2,3% do PIB, mas inferior à meta de 3% do PIB: o Brasil manteve um dos níveis mais altos de superávit primário do mundo.
Por outro lado, a estrutura do imposto sobre a renda não é progressiva e uma boa parte da carga é suportada pelos trabalhadores de poucos ingressos. Além disso, o peso do IVA (Impuesto al valor agregado) na arrecadação total é desmedido: 48% da arrecadação total provém deste imposto regressivo que onera com a mesma taxa ricos e pobres. O arrecadado pelo IVA representa cerca de 12% do PIB no Brasil, um escândalo.
As bases do setor exportador não são robustas. Cerca de 55% das exportações provém do setor primário, com um enorme custo social e ambiental. A volatilidade dos preços destes produtos básicos é bem conhecida e, por isso, em 2012 o Brasil teve seu pior superávit comercial em dez anos. A indústria brasileira teve um mau ano em 2012 e subsistem sinais de fragilidade no setor manufatureiro. Por outro lado, o modelo de agronegócio brasileiro é um fracasso social, ambiental e econômico, mas os grandes consórcios desse país, com o consentimento do governo, pretendem exportá-lo para Moçambique e outros países da África.
Finalmente, em matéria social, a redução da pobreza no Brasil foi real, mas modesta. Este país continua entre os com maior desigualdade no mundo. Para os partidos da esquerda institucional na América latina, as lições são claras. No final do caminho, as contradições do neoliberalismo são insuperáveis: nem desenvolvimento, nem rosto humano.
*Alejandro Nadal é membro do Conselho Editorial de SinPermiso
Tradução: Libório Júnior
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