Na tarde do último sábado, na sede do ministério da Saúde, em São Paulo, o titular da pasta, ministro Alexandre Padilha, deu entrevista a blogueiros a fim de rebater a onda de críticas ao programa que começou pelos setores mais estridentes da classe médica e logo ganhou a simpatia da oposição ao governo Dilma Rousseff e de boa parte da grande imprensa. Durante mais de três horas, Padilha respondeu aos blogueiros – entre eles, este que escreve – sobre todos os questionamentos, acusações e suposições alarmistas formulados por entidades de classe dos médicos e que estão sendo comprados, acriticamente, por boa parte da grande imprensa. Quem tiver paciência e tempo, pode assistir à entrevista no vídeo abaixo. A participação deste blogueiro e a resposta do ministro podem ser encontrados a partir de 2:14:29 no vídeo. Formulei uma questão sobre se haveria planejamento de políticas públicas que formem médicos em regiões e classes sociais que não têm esses profissionais e, também, que incutam nos estudantes de medicina uma visão mais humanista e menos comercial da profissão.
Durante a entrevista, comentei com o ministro o crescente apoio da sociedade ao programa expresso por pesquisa Datafolha feita em meados deste mês, que revelou que, então, esse apoio ao programa superava a rejeição, tendo atingido, naquela pesquisa, 54% dos entrevistados, enquanto que a rejeição despencou para 40%. A resposta de Padilha disse tudo sobre as expectativas do governo Dilma em relação ao Mais Médicos: – E o programa nem começou a funcionar… A resposta significa o seguinte: se a mera expectativa de implantação do programa Mais Médicos já conquistou a simpatia majoritária – e, segundo informações ainda não confirmadas, crescente na sociedade –, quando cidades ou bairros afastados que não têm médicos passarem a ter, o efeito positivo do programa na popularidade do governo e do próprio ministro da Saúde deverá ser muito maior. Note-se que a recuperação da popularidade de Dilma já vem sendo atribuída, em alguma medida, ao Mais Médicos. Sobretudo por conta da postura arrogante, elitista e insensível das entidades de classe dos médicos, da oposição e de setores da mídia, que não sabem mais o que inventar para convencer a sociedade de que o programa não é bom. O que ocorre é que as desculpas das entidades de classe, da mídia e da oposição para atacarem o Mais Médicos são para lá de esfarrapadas. Primeiro, começaram a dizer que os médicos cubanos não passavam de “curandeiros” e a justificarem com “falta de estrutura” para exercerem seu ofício nesses lugares o desinteresse dos médicos brasileiros em trabalharem em regiões empobrecidas e afastadas. Mas não colou. Estudos do ministério da Saúde recém-divulgados mostram que o número de equipamentos de saúde – a tal “estrutura” de que os médicos reclamam – aumentaram mais do que o número de médicos nos últimos cinco anos. E, o principal, que hospitais plenamente equipados sofrem com falta de especialistas. Abaixo, as principais especialidades em falta nas regiões ermas e empobrecidas do país. - Pediatria - Neurologia - Anestesiologia - Neurocirurgia - Clínica Médica - Radiologia - Cardiologia - Nefrologia - Psiquiatria - Ginecologia - Ortopedia - Cirurgia Geral Diante do enfraquecimento dessas teorias sobre preparo dos profissionais estrangeiros – sobretudo em relação aos cubanos –, por conta dos excelentes currículos deles e do nível de qualidade da Saúde em seus países de origem (Cuba tem indicadores de saúde melhores até do que os dos Estados Unidos) e com o desmonte da teoria sobre “falta de estrutura”, agora as desculpas corporativistas dos médicos e a gritaria da oposição midiática foram buscar uma outra tábua de salvação. Com o concurso de procurador do Ministério Público do Trabalho simpático à direita tucano-midiático-médica, esta passa a apelar para condições de “trabalho escravo” a que os médicos cubanos estarão sendo submetidos, já que não embolsarão diretamente os salários de cerca de 10 mil reais que receberão pela prestação de serviços no país. Os salários serão pagos ao governo cubano, que repassará aos médicos que enviou ao Brasil cerca de ¼ do valor. Contudo, para um cidadão cubano cerca de mil dólares de salário, com casa, comida e demais despesas pagas, é uma fortuna. Ganharão muito mais do que ganhariam em seu país e ninguém os imaginaria vivendo em condições de escravidão só por receberem um salário que poucos brasileiros ganham. Além disso, muitos dos médicos não-cubanos que estão chegando estavam desempregados em seus países, o que torna o exercício da profissão no Brasil muito mais compensador. Para enterrar de vez essa história, basta saber que o acordo entre Brasil e Cuba foi referendado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que chancelou esse tipo de acordo entre a ilha caribenha e 58 países que receberam médicos cubanos. Para quem não sabe o que é a OPAS, trata-se de organização especializada em saúde. Foi criada em 1902 e é a mais antiga agência internacional de saúde do mundo. É um organismo com um século de experiência, dedicado a melhorar as condições de saúde dos países das Américas. A OPAS/OMS também faz parte dos sistemas da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Organização das Nações Unidas (ONU). Não se imagina que uma organização como essa apoiasse “trabalho escravo”, pois não? Além de tudo que entidades médicas têm feito para desinformar a população que será beneficiada pelo Mais Médicos, agora elas dizem que “chamarão a polícia” para prender médicos cubanos que exercerem a profissão no país sem seu aval. A afirmação é ridícula e não tem amparo legal. Segundo Padilha, todas as medidas judiciais das entidades médicas vêm sendo sucessivamente derrotadas. As entidades terão que cumprir a Medida Provisória que criou o Mais Médicos e expedirem carteiras de identidade médica provisórias que permitam aos médicos estrangeiros trabalharem no país. Estão apenas fazendo jogo de cena, obviamente. As razões para toda essa oposição a uma medida cujos benefícios para a população carente são mais do que óbvios, portanto, dividem-se entre corporativistas e políticas. No caso da oposição corporativista ao Mais Médicos, o sentimento no Ministério da Saúde é de que se subdivide entre preconceito, orgulho e ganância. O preconceito é ideológico (sobretudo no caso cubano), racial e de classe social, pois os médicos brasileiros ou são de classe média alta ou são ricos mesmo, a despeito das exceções absolutamente minoritárias. O orgulho ferido dos médicos gritões se deve ao fato de que ficam mal na foto quando a sociedade se dá conta de que estão pouco se lixando para o povo brasileiro e, assim, só pensam em seus confortos pessoais apesar de a grande maioria das universidades nas quais se formaram serem públicas, de forma que estudaram de graça, às custas do dinheiro de todos. Já a ganância se deve ao fato de que com falta de médicos os ganhos daqueles que quiserem ir para essas regiões desprovidas, tornam-se exorbitantes. Os médicos gritões querem ter reserva de mercado nessas regiões, para uma eventualidade. Mas o foco do post é a razão política da mídia e da oposição para rejeitarem o programa mais médicos. Imagine você, leitor, o que acontecerá com a imagem do governo Dilma nesses cerca de 700 municípios pelos quais nenhum médico convocado pelo governo para ir trabalhar se interessou. Em alguns desses lugares, há quem já seja idoso e nunca se consultou com um médico… Além da imagem do governo Dilma, há um outro bônus para o PT que advirá do Mais médicos. Alexandre Padilha, há muito, vem sendo cogitado como candidato ao governo de São Paulo, ano que vem. Questionei o ministro ao fim da entrevista (em off) e ele rejeitou essa pretensão política, como é óbvio que faria. Contudo, o ganho de popularidade que irá auferir – sobretudo quando o programa começar a funcionar – o tornará um nome muito forte para a sucessão de Geraldo Alckmin e, assim, ele pode se ver “obrigado” a atender o “clamor das ruas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários sujeitos a moderação.