247 – Grupo organizado de pressão que obteve uma vitória estrondosa no sábado 31, ao arrancar das Organizações Globo um editorial no jornal O Globo com uma autocrítica sobre apoio ao golpe militar de 1964, o Levante Popular já vai aprontar mais uma.
Nesta quarta-feira 4, manifestação de protesto pela apuração em profundidade do propinoduto tucano em São Paulo, e sob a palavra de ordem Fora, Alckmin, promete ser numerosa – e estridente.
Os objetivos são as sedes das multinacionais Alstom e Siemens, vizinhas no bairro da Barra Funda, em São Paulo. As empresas, em esquemas distintos, foram o duto de propinas que recheou altos executivos das administrações do PSDB paulista com dinheiro obtido a partir do superfaturamento de programas no setor de transportes urbanos, trens e metrô da Grande São Paulo.
CONIVÊNCIA QUEBRADA - O Levante Popular foi o criador e principal executor do plano de jogar esterco sobre a fachada da Rede Globo em São Paulo, na semana passada. Goste-se dessa estratégia ou não, o certo é que não se via nada igual desde que o cartunista Jaguar lançou, solitário, ovos cozidos sobre a sede da Academia Brasileira de Letras, mais de dez anos atrás, no Rio de Janeiro.
Sendo a favor ou contra esse modo de agir, o certo é que a radical manifestação de protesto quebrou o silêncio da Globo, que correu a produzir um editorial fazendo autocrítica sobre seu apoio incondicional e entusiasmado ao golpe militar de 1º de abril de 1964 (abaixo, íntegra do editorial do jornal O Globo publicado em primeira página no dia 2 de abril de 1964, o que confirma que o golpe foi mesmo em 1º de abril, apesar de os militares o datarem em 31 de março).
"A consciência não é de hoje, vem de discussões internas de anos", registrou o novo editorial de O Globo, do sábado 31, na tentativa de desvincular o tardio mea culpa. Lá se foram 49 anos entre o primeiro texto e o segundo. Como diria um gaiato carioca, haja "discussões internas de anos", ein?
Os dirigentes do Levante Popular não têm dúvidas de que a vitória sobre a Vênus Platinada é deles, e agora querem agir com uma criatividade, digamos, do mesmo quilate sobre a Alstom e a Siemens.
O grupo não é apolítico, como os Black Blocs se mostram ser. Ao contrário, as lideranças do Levante são jovens que vêm acumulando discussões entre si sobre a conjuntura. As ações radicais são pensadas com um objetivo definido, que procura se distinguir do vandalismo gratuito. A intenção é o exercício da pressão no limite máximo do aceitável.
BLACK BLOCS - No ato da Rede Globo, porém, o momento do clímax deu errado:
- Quando íamos começar a jogar o esterco que levamos, chegaram os Black Blocs. Eles tomaram aquela munição da gente e passaram a atirar eles mesmos contra a parede da Globo. Eles até ganharam mais fama por aquilo, mas fomos nós que levamos o esterco até lá. A conquista do editoral do Globo é nossa, frisou ao 247 um integrante do Levante Popular.
Em sendo assim, hoje tem mais pelos lados do bairro da Barra Funda. Se vale a torcida, que não haja violência.
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