Já disse diversas vezes aqui que gosto e, em geral, concordo com as análises de pesquisa feitas pelo publicitário – e marqueteiro eleitoral – Hayle Gadelha.
Gosto porque, apesar de sempre ter tido lado político, Gadelha é sempre muito frio e objetivo ao fazer este trabalho, o que só em parte consigo.
Trouxe, por isso, a avaliação que ele faz, em seu blog, da ascensão de Marina Silva- de novo: creio que não é tanta como lhe dão algumas pesquisas, mas certamente foi muito grande.
Ao que diz Gadelha, acrescento um dado que só hoje saiu – e ainda sem detalhamento – sobre o interesse despertado pelos programas de televisão, segundo o Datafolha
Embora já tenha sido maior, está longe de ser nenhum: 53% têm muito ou algum interesse em assisti-los. E um terço acha que são muito importantes para definir o voto.
Ao contrário do que acha muita gente da classe média, com acesso a TV paga e distante dos programas de TV, eles são um terreno precioso para a definição do voto.
Terreno onde Dilma tem, pelo tempo e pela qualidade dos programas, tudo para avançar.
Atenção, senhores eleitores: apertem os cintos!
Hayle Gadelha
Será que a candidatura Marina alçou voo de tal forma que ninguém mais pode acompanhar? Nem tanto.
Claro que houve o “voto-comoção” (que ajudou muito na apresentação de Marina como sucessora de Eduardo Campos) e também o voto-hay-gobierno?-soy-contra, incrustrado no rótulo de Não-Voto, responsável pelo grande impulso que Marina teve nessas últimas pesquisas Ibope e Datafolha. Mas será que a eleição presidencial já vive um voo sem volta?
É claro que os números das pesquisas são desesperadores para Aécio e preocupantes para a candidatura Dilma. Mais preocupantes ainda para quem, independente do partido, não quer ver o Brasil mergulhado outra vez no vácuo do Consenso de Washington. Mas, calma, dá para recuperar o controle. Neste sábado, por exemplo, tanto André Singer quanto o próprio Mauro Paulino, do Datafolha, escrevem artigos com bons corretivos para esse frenesi da esquadrilha midiática.
André Singer (Rumo ao desconhecido) alerta que “há muito em aberto na candidatura pessebista”. Quais são os rumos que se pretende para uma suposta relação com o agronegócio? O programa social vai ficar solto no ar? E a base de apoio para governar, no caso de Marina eleger-se, será firme? André Singer lembra que, ao se comprometer com a independência do Banco Central, Marina aponta para um governo de “juros altos, recessão bem mais que técnica, corte de gastos públicos e desemprego”. Mais ou menos um “apertem os cintos, o piloto sumiu”.
Já Mauro Paulino (Sucesso de ex-senadora depende da cristalização do eleitorado) destaca que Marina superou o clima de “comoção”, superou o recall de 2010, abriu vantagem sobre Aécio em território exclusivo do tucano e cresceu significativamente entre os eleitores de “menor renda e baixa escolaridade, grupos onde Dilma e o governo sempre demonstraram grande força”. Mas alerta que “propostas concretas e claro programa de governo” serão decisivos. E conclui que a “ênfase exclusiva no discurso da ‘nova política’ pode, com o tempo, afastar parte dos recém-conquistados eleitores”.
Os índices estratosféricos de Marina dispararam em velocidade supersônica. Ela soube muito bem representar os que estavam insatisfeitos tanto com os vácuos do governo petista quanto com a insipidez da tentativa de voo tucano (que rapidamente virou pó). Mas até agora não conseguimos perceber um quod erat demonstrandun em suas propostas. É tudo muito frágil, contraditório, oportunista, rancoroso, tudo muito eólico e ao mesmo tempo uma guinada brutal rumo ao pior do nosso passado.
O Brasil não pode voltar a apertar o cinto e ficar eternamente preso a um mundo sem futuro. O que o Brasil precisa é de um voo tranquilo para dar asas à imaginação
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