Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Médico gaúcho a Dilma: "procure um cubano, FDP"

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Intolerância pré-eleitoral cobre o Brasil de ódio; ontem, logo após a presidente Dilma se sentir mal, no debate do SBT, o médico gaúcho Milton Pires postou a seguinte mensagem no Facebook: "Tá se sentindo mal? A pressão baixou??? Chama um médico cubano, sua grande filha da puta!"; entre seus seguidores, urros pela agressão; um dos internautas disse que Dilma deveria buscar proteção da Lei Maria da Penha, depois de ter sido espancada; dias atrás, o alvo da violência foi o ator Gregório Duvivier; hoje, é a presidente Dilma; em artigo, colunista Breno Altman alerta para a ascensão de um neofascismo na sociedade brasileira, atiçado por meios de comunicação conservadores; médico intolerante tem sido defendido, na mídia brasileira, pelo extremista Augusto Nunes, de Veja 

247 - "Tá se sentindo mal? A pressão baixou??? Chama um médico cubano, sua grande filha da puta!". A mensagem foi postada no Facebook pelo médico gaúcho Milton Pires, funcionário da prefeitura de Porto Alegre, formado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialista em terapia intensiva, logo após a presidente Dilma Rousseff se sentir mal, com uma queda de pressão, no debate do SBT, ocorrido na tarde de ontem. Entre seus seguidores, urros de ódio. Um deles dizia que a presidente Dilma deveria buscar proteção da Lei Maria da Penha, após ter sido espancada no debate. 

A postagem é mais um exemplo do ódio que se alastra pela sociedade brasileira, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial. Ontem, a notícia mais relevante do dia, foi a onda de insultos ao ator Gregório Duvivier, do grupo Porta dos Fundos, motivada por seu apoio declarado à reeleição da presidente Dilma Rousseff (leia aqui). O também ator Dado Dolabella, condenado por agressão a mulheres, comparou Duvivier a alguém contaminado pelo vírus ebola (leia aqui).

As duas agressões, a Duvivier e à presidente Dilma Rousseff, fazem parte do mesmo fenômeno: o neofascismo que se alastra pela sociedade brasileira. Em artigo publicado ontem no 247, o colunista Breno Altman afirma que os "conservadores perderam a vergonha na cara" e que o ódio ao PT retirou do armário todos os demônios da sociedade brasileira, como o racismo, a homofobia, o culto à desigualdade e o preconceito regional (leia aqui).

Extremista radical, o gaúcho Milton Pires tem um aliado na mídia conservadora, que há vários anos vem preparando o terreno para esse neofascismo. Trata-se do jornalista Augusto Nunes, de Veja.com, que o defendeu quando ele foi suspenso por 60 dias do trabalho em um hospital.

Leia, abaixo, o post de Nunes, em setembro deste ano:

Médico é suspenso por dois meses pelo crime de discordar dos jalecos estatizados que controlam um hospital em Porto Alegre

O médico Milton Pires enviou à coluna, nesta terça-feira a carta abaixo reproduzida. É um relato sucinto das perseguições movidas pela direção do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, contra um profissional que pensar com independência — e dizer sem medo o que pensa. A mais recente abjeção foi consumada neste 22 de setembro: baseados em acusações difusas, inconsistentes ou mesquinhas, formuladas por testemunhas anônimas, os comandantes da instituição comunicaram a Milton Pires a decisão de suspendê-lo por 60 dias. Confiram:

O SILÊNCIO DE TODOS NÓS
Milton Pires

Meus amigos:  

Trabalhando desde junho de 2010 na UTI do Hospital Nossa Senhora da Conceição em Porto Alegre, minha contínua luta contra as barbaridades feitas contra a saúde pública no Brasil são do conhecimento de todos. No início de 2013, Ricardo Setti publicou em seu blog no site de VEJA o artigo com o título “Santa Maria e a Guerra do Vietnam”, uma séria advertência sobre a vinda dos médicos cubanos. Depois de “Carta à Presidente Dilma” e de outros textos publicados tanto no meu blog “Ataque Aberto” quanto no grupo de Facebook “Inglourious Doctor”, comecei a pagar, pessoalmente e profissionalmente, o preço das minhas opiniões políticas.

Assassinar reputações de inimigos não é uma prática nova da esquerda brasileira. O doutor Romeu 
Tuma Júnior provou isso em seu livro. Trabalhando num grupo hospitalar que atende 100% dos pacientes pelo SUS, no qual entrei por concurso público e que é controlado por gente do PC do B, não é necessário ser um teórico da conspiração para compreender e admitir o que acontece quem se opõe ao modelo de gestão de saúde no Brasil. Antiga, mas eficiente, a tática é sempre a mesma – mau desempenho nas avaliações funcionais e relatos de conflitos e dificuldade de relacionamento no local de trabalho funcionam como estopim dos processos administrativos em que se pretende “limpar” o serviço público dos opositores.
Neste 22 de setembro, chegando ao Hospital Conceição para trabalhar na UTI, fui notificado de que meu ponto estava “suspenso”. Encaminhado ao setor de RH, fui informado de que eu mesmo, como médico, estou suspenso do hospital por 60 dias, sem perda de remuneração. Argumenta a instituição que isso visa não prejudicar o processo administrativo disciplinar (PAD número 51/14, que tem como objetivo a minha exoneração. Desconheço os termos de acusação. Não sei ao que respondo e não tive, até agora, nenhuma chance de defesa.

Em apelação administrativa de avaliação funcional prévia considerada muito insuficiente, testemunhas identificadas como “trabalhador da saúde 1,2,3,4..etc..” me acusam de “não examinar os pacientes, não lavar as mãos, de conflitos com familiares de pacientes da UTI , de jogar equipamentos no chão e não usar equipamentos de proteção individual”. Não sei, oficialmente, o nome de NENHUMA das pessoas que disseram isso naquele processo. Não lhes foi exigida prova alguma para que declarações que acabaram com a minha vida funcional se transformassem em VERDADES corroboradas por meus chefes.

O que está acontecendo comigo não é exceção; é a regra aplicada aos médicos brasileiros que decidem contestar a maneira com que essa gente conduz a saúde pública. Minhas chances no processo administrativo, do qual sequer tenho cópia, não são muitas. Acredito que haja alguma alternativa na Justiça comum. Neste momento, resta-me apelar àquilo que essa gente mais teme: a publicidade, a divulgação em massa pela imprensa do que se pretende fazer em silêncio. Eles são especialistas em assassinar reputações, apoiados no total aparelhamento do serviço público e terror infundido nos seus subordinados. Os efeitos são garantidos por por lei. A Lei do Silêncio de todos nós.

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