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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Petrobras: “sabedoria” do mercado engasga o professor “sabichudo”

 
Como o “especialista” Adriano Pires tem parcos recursos intelectuais, e ficha graduada na ANP de FHC, O Globo escalou agora um economista da PUC carioca – que, com honrosas exceções é o grande consulado tucano no Rio de Janeiro – para atacar a Petrobras. Rogério Werneck, em artigo publicado hoje, à guisa de “dar conselhos” à nova presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster toma a si a tarefa de não baixar o fogo de artilharia contra a maior empresa brasileira.
E adivinhem o que ele aconselha, no artigo intitulado “O engasgo da Petrobras” ?
Lógico, abrir o pré-sal às empresas privadas – e estrangeiras – e interromper o ” faustoso programa de favorecimento à produção local de equipamentos”, ou seja, importar navios, sondas, maquinario, etc.
Justiça seja feita, nem o “líder e guia espiritual” da privataria, Fernando Henrique Cardoso jamais foi tão explícito.
A Petrobras, segundo Werneck, por estabelecer conteúdos elevados de produção nacional, teria sido transformada em um “poderoso cartório de distribuição de benesses a produtores de equipamentos”.
Leia-se, à indústria brasileira, aquela mesmo que o tucanato serrista vive falando que está se acabando.
Diz ele que, comprando fora, a empresa será mais eficiente.
E usa como exemplo a contratação, no Brasil, de sondas para águas ultraprofundas, que teria gorado por preços elevados demais.
Ora, sondas têm mesmo preços elevados em todo o mundo. Aqui, para serem feitas pela primeira vez, certamente não atingirão os preços de indústrias que as fazem há décadas e em escala em outros países. Mas podem chegar bem perto, até porque o horizonte de produção destes equipamentos não se encerrará nas primeiras encomendas.
A Petrobras está sendo criteriosa e dando as “freadas de arrumação” que são necessárias para moderar os apetites de lucro dos possíveis fornecedores. E a nova presidente da empresa, pelo seu estilo, teve nisso uma das razões de sua escolha. Porque Graça Foster irá, certamente, endurecer e exigir isso, e até mesmo, pontualmente, recusar um ou outro preço exorbitante comprando lá fora.
Mas a Petrobras e o Brasil não podem abrir mão de criar aqui um parque produtivo da indústria do petróleo para, em lugar disso, simplesmente importar ou alugar lá fora os equipamentos indispensáveis.
Não apenas porque isso seria um crime contra o povo brasileiro, que tem o direito de aproveitar em empregos, renda, impostos e aquisição de conhecimento aquilo que a cadeia produtiva do petróleo tem a dar como, sobretudo, porque é uma estupidez acelerar importações de alto valor agregado – como são os equipamentos petrolíferos – para apressar exportações de petróleo bruto, cujo preço de daqui a dois anos não se pode precisar e dificilmente se sustentará nos atuais patamares.
Mas o professor Werneck é um “fundamentalista de mercado”, parte de uma corrente sectária que acha que a “sabedoria” dos agentes privados irá despejar o maná sobre nós. Ou, pelo menos, sobre o Leblon e os Jardins.
Há muitos anos defende o dogma dos preços absolutamente livres dos derivados de petróleo, na base do “quem pode, paga, quem não pode que se dane”.
E o faz com bravura, em sua duradoura cátedra no Estadão e agora em O Globo. Em 2002, criticava Serra por ser “pouco fernandista”, em 2006, criticava Alckmin por ter “caído na esparrela” de não defender as privatizações de peito aberto. E em 2010, sem mais santos aos quais apelar, maldizia o favoritismo de Dilma Rousseff afirmando que se devia a políticas absurdas como as compras no Brasil feitas pela Petrobras e à, como classificava, “custosa” política de “reajuste sistemático do salário-mínimo a taxas substancialmente mais altas que a inflação”.
Mas o cultuador da sabedoria do “mercado” acabou se engasgando, ele próprio, diante do seu Oráculo. A Petrobras acaba de fazer uma captação no exterior de US$ 7 bilhões, às menores taxas de juros já obtidas pela empresa, dinheiro que será usado para acelerar o desenvolvimento da exploração de petróleo em bases racionais e não no esquema “Agnelli” do minério de ferro, o do “arranca tudo depressa, vende logo e o país que se lixe”.
E os US$ 7 bilhões, notem, foram menos de um terço da demanda do mercado por títulos da Petrobras. Porque o mercado sabe que a Petrobras é um dos mais sólidos investimentos do mundo.
E o mercado, que o professor Werneck julga sábio, é mais sabido do que ele.
Por: Fernando Brito

sábado, 4 de junho de 2011

Guilhotina cega do JN falha ao tentar decapitar Palocci

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”
Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago

Cada um viu o que quis, mas a maioria viu o que não queria mesmo sem enxergar um palmo diante do nariz.
As previsões eram de que a entrevista de Antonio Palocci ao Jornal Nacional seria o golpe de misericórdia que ele receberia – ou daria em si mesmo, pois, segundo um importante analista, o ministro teria optado pela “guilhotina”.
Não foi o que se viu. E pude confirmar isso indo ao Twitter provocar opiniões sobre a entrevista.
Apesar de alguns mais inconformados com o fato de que acusar quando o acusado se defende é mais difícil terem optado por teimar que teria havido a materialização da decapitação, a maioria reconhecia que Palocci fora bem, sim, mas atribuía ao fato de que a Globo o teria “ajudado”.
Diante disso, coube-me uma pergunta óbvia: se o JN aliviou, não fez as perguntas que devia, o que você perguntaria ao ministro para, digamos, arrasá-lo ao vivo e à cores? Recebi dezenas de mensagens. Dezenas. E nenhuma resposta.
Palocci foi bem simplesmente porque se manteve calmo e porque mostrou ao repórter Julio Mosquera e ao público que toda aquela história de que ele estaria “se escondendo” não se justificava, como se viu.
E o que se viu, em vez da decapitação, foi quase um chá das cinco ao melhor estilo bretão.
Palocci deixou claro que todas as perguntas que lhe fazem sobre quem são seus clientes, quanto lhe pagaram etc. serão respondidas aos “órgãos de controle”, ou seja, à Procuradoria-Geral da República, ainda que esta já tenha avaliado os dados antes de ele entrar no governo.
Logo, os pistoleiros do PIG começaram a rever a teoria da decapitação. O ministro, provavelmente, não cairia mais. A decapitação não ocorreria já, apesar de que era dada como favas contadas.
Pode ser, claro, que ocorra por razões políticas, sem provas, mas será dado à direita midiática e à manada útil o direito de punir alguém sem julgamento, sem provas e sem meros indícios.
E há outro motivo pelo qual a decapitação de Palocci não ocorrerá. Reportagem da revista IstoÉ de 1999, sobre o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, ajudará a entender por que.
Fraga deixou de receber um salário 20 vezes maior como empregado do mega investidor George Soros para trabalhar no governo FHC por 7 mil reais. À diferença de Palocci, porém, ninguém exigiu maiores explicações sobre a razão da troca de emprego.
Leiam, abaixo, a reportagem. Os mais sagazes entenderão tudo rapidamente, outros precisarão de explicação para entender e alguns não entenderão simplesmente porque não querem, o que não mudará nada.
—–
Revista IstoÉ
N° Edição:  1532 |  10 de fevereiro de1999
Ao mestre com carinho
Ligação com o especulador George Soros é virtude e defeito de Armínio Fraga, novo presidente do BC

ANDRÉ VIEIRA
Dinheiro em dobro. Foi o que garantiu Armínio Fraga Neto, o novo presidente do Banco Central (BC), aos investidores que lhe confiaram suas poupanças no final de 1992. Quem investiu a quantia de US$ 100 mil no fundo Quantum Emerging Growth – gerido por Fraga – colheu cerca de US$ 199 mil em dezembro, mesmo com a quebradeira generalizada dos países emergentes, como México, os Tigres Asiáticos e a Rússia neste período. O desempenho só não foi melhor porque o fundo perdeu 29,4% em 1998. Experiente operador, Fraga deveria causar uma sensação de bem-estar à frente da mesa de operações do BC, exceto por um detalhe. Quem irá preservar o valor da moeda mais derretida dos últimos tempos – o real –, afastando do Brasil os especuladores, tinha como patrão George Soros, ícone do capitalismo especulativo. “Ao indicar o senhor Armínio Fraga, funcionário e escudeiro de confiança de Soros, o governo pretende sinalizar com clareza: basta de intermediários, vamos logo colocar a raposa para tomar conta do galinheiro”, atacou a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Decidido a voltar ao Brasil apenas em julho, quando terminassem as férias de seus dois filhos, Fraga antecipou seu retorno devido aos incessantes pedidos da equipe econômica. A abrupta troca de comando gerou, além de críticas e vivas, muitos boatos e suspeitas. Afinal, ele se desligou do Soros Fund Management, a empresa do megaespeculador, em Nova York, na segunda-feira 1º para desembarcar no dia seguinte, já no Brasil, como chefe indicado do BC brasileiro. Deixou um salário de cerca de US$ 60 mil por mês em honorários para receber cerca de R$ 7 mil como funcionário do primeiro escalão do governo FHC. Na viagem de volta, veio acompanhado do economista Paulo Leme, executivo da Goldman Sachs, que acabou a semana convidado para uma das diretorias do Banco Central. Nestes dias de trocas de cadeiras, o mercado financeiro agitou-se bastante, com expressivos lucros dos fundos de investimentos (leia à pág. 26). No encontro anual de economistas na cidade de Davos, na Suíça, Soros deu uma lacônica resposta aos jornalistas: “Estou tão surpreso quanto vocês.” Horas depois, uma nota de seu fundo reiterou que o megaespeculador nada sabia antes da nomeação, embora fosse de seu conhecimento os vários contatos mantidos entre o governo brasileiro e o seu destacado funcionário.
Apesar da polêmica relação com Soros, Fraga é um daqueles garotos prodígios do mercado financeiro. Aos 34 anos, já tinha feito doutorado na Universidade de Princeton, trabalhado no Federal Reserve (Fed) e nos bancos Garantia e Salomon Brothers. Em 1991, comandou pela primeira vez uma das diretorias do Banco Central, quando sustentou uma política monetária austera, cujo resultado fez elevar as reservas internacionais de US$ 8 bilhões para US$ 25 bilhões, criando um colchão de liquidez para a criação do Plano Real. Saiu do BC com a queda de Collor. Mas o êxito da política monetária carimbou seu passaporte para Nova York a fim de seguir os passos de Soros, que começava a ganhar fama como o “homem que quebrou o Banco da Inglaterra”. Num dia conhecido como a “quarta-feira negra”, em setembro de 1992, o investidor havia apostado US$ 10 bilhões na desvalorização da libra esterlina. Com a moeda esvaindo nas mãos dos ingleses, Soros ganhou US$ 1 bilhão e obrigou a Grã-Bretanha a sair do Sistema Monetário Europeu (SME), que controla o regime de câmbios dos países da União Européia (UE).
Ações da Vale Antes disso, Soros já era um conhecido de Wall Street por fazer apostas arriscadas, inclusive em países em desenvolvimento. No Brasil, tornou-se o primeiro cliente estrangeiro do Banco Pactual em 1986, numa parceria que durou até a contratação de Fraga. Por intermédio do brasileiro, pôde comprar participações na Escelsa e na Vale do Rio Doce nos processos de privatização. No entanto, a maioria de seus investimentos concentra-se na área imobiliária, como shopping centers e empreendimentos construídos em parceria com a incorporadora paulista Cyrela, do empresário Elie Horn. Todos os negócios são feitos pela Brazil Realty, uma joint venture entre a Cyrela e a Irsa, holding argentina onde o megaespeculador possui importante participação. Na Argentina, Soros é dono de nove shoppings, alguns hotéis e vários escritórios comerciais. Na semana passada, adquiriu por US$ 152 milhões cerca de 15% das ações do Banco Hipotecario, a maior instituição de crédito imobiliário do país. Além disso, titula-se como o maior latifundiário da Argentina, com meio milhão de hectares de terras.
A trajetória de Soros repete a saga de um magnata em transformação, tal como um personagem de romance. Judeu húngaro nascido em 1930, foi obrigado a se esconder do nazismo durante a Segunda Guerra e abandonar seu país depois que os comunistas tomaram o poder em 1947 para estudar na Inglaterra. Em 1956, já nos Estados Unidos, trabalhou como operador em diversas corretoras de Wall Street, onde fundou em 1969 o fundo de investimentos Quantum. Como qualquer multimilionário, Soros poderia se aposentar apenas como um excêntrico filantropo, capaz de doar US$ 500 milhões à Rússia, ou como o mais famoso megaespeculador da história recente. Mas, aos 68 anos, assumiu o papel de um virulento crítico do capitalismo financeiro globalizado do qual é – ironicamente – um dos maiores expoentes e beneficiários. Boa parte de suas idéias estão no livro A crise do capitalismo, lançado no final do ano passado e que tem prefácio, no Brasil, do próprio Armínio Fraga. O guru ideológico de Soros é o filósofo austríaco Karl Popper, que defendia a idéia de uma sociedade aberta – politicamente democrática e economicamente orientada pelo mercado. Essa formação permitiu que criticasse a lógica do capital financeiro para preservar o sistema capitalista como um todo. Quando houve o ataque especulativo às moedas asiáticas em 1997, Soros foi bombardeado pelo primeiro-ministro da Malásia, Mahatir Mohamed, que o acusava de ser o responsável pela catástrofe financeira que se abatera sobre seu país. Em resposta, o investidor apontou os perigos do retrocesso do capitalismo, representado pelo controle de capitais imposto pelo governo malaio. “Uma coisa é certa: os mercados financeiros são propriamente instáveis; eles precisam supervisão e regulação”, escreveu Soros, num resumo de seu novo livro reproduzido na semana passada pela revista americana Newsweek. Uma boa recomendação para saber o que pode acontecer no BC brasileiro.
Colaboraram: Osmar Freitas Jr. (NY), Hélio Contreiras (RJ) e Isabela Abdala (DF)
A primeira suspeita
Uma possibilidade de que George Soros teria se aproveitado de informação exclusiva sobre a nomeação de seu ex-funcionário Armínio Fraga Neto para o BC já circulou pelo mercado financeiro internacional na semana passada. O principal indicativo de que algo estranho aconteceu foi a valorização dos C-Bonds, papéis da dívida externa brasileira, que pularam de US$ 56,563 para US$ 57,688 entre a segunda-feira 1º e a quarta-feira 3, data posterior à indicação. “Fundos de investimentos compraram pesadamente bônus brasileiros e reais pouco antes e durante o anúncio oficial de Fraga, apenas para se desfazerem das mesmas posições com lucro na própria terça-feira”, constatou Simon Treacher, diretor para mercados emergentes do banco Morgan Grenfell, de Londres. “Mas não há como provar que o dinheiro veio de Soros ou de outro investidor e que eles usaram informações confidenciais”, ressalva. Os ganhos fáceis teriam ocorrido porque era certo que o mercado receberia bem a nomeação de Fraga. O operador de um banco brasileiro lembra que a movimentação em torno dos títulos poderia ter influído inclusive na baixa da cotação do dólar, que chegou a R$ 1,75 na terça-feira, após o pico de R$ 2,15 da sexta-feira 29. “Os C-Bonds e o dólar estão interligados. Se os títulos valorizam, o dólar cai.”