Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Só o Brasil deixou o Moro destruir tudo! Urubóloga vai conter a avalanche de devolução de imóveis!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

PLATAFORMA P-62, A QUE FHC IA ABORTAR O conteúdo nacional é de 63%. Com o FHC seria de 0%



Saiu no Blog da Petrobras:

CONCLUÍDAS OBRAS DA P-62



A presidenta da República, Dilma Rousseff, e a nossa presidente, Graça Foster, participaram da cerimônia de conclusão das obras da plataforma P-62, nesta terça-feira (17/12), no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca (PE). Antes da cerimônia, Dilma, Graça e comitiva visitaram as obras de construção da Refinaria Abreu e Lima, no Complexo Portuário de Suape. 

A P-62 tem capacidade diária para produzir 180 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás, injetar 42 mil metros cúbicos de água, e atuará no campo de Roncador, no pós-sal da Bacia de Campos. 

Do tipo FPSO (sigla em inglês para unidade que produz, armazena e transfere petróleo), a plataforma será instalada em profundidade de água de 1.600 metros, a 125 quilômetros da costa, dando inicio à produção no primeiro trimestre de 2014.

Projetada para atender à demanda por plataformas de produção, conforme nosso Plano de Negócios e Gestão 2013-2017, a P-62 é mais um empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, que contribui para consolidar a expansão da indústria naval no Brasil. O projeto básico da plataforma foi desenvolvido pelo Centro de Pesquisas Leopoldo Americo Miguez de Mello (Cenpes). – 

Sua obra gerou cerca de 5 mil empregos diretos e 15 mil indiretos e contou com elevado índice de conteúdo nacional: cerca de 63%, alcançados principalmente com os serviços de construção de módulos, conversão e integração do navio executados no Brasil. 


Construção 



O casco do navio MT Suva passou por adaptações no estaleiro Jurong, em Cingapura, antes de chegar ao Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca (PE), em janeiro de 2012. No EAS passou pelas etapas de conversão e integração da embarcação em um FPSO, a cargo do consórcio Camargo Correia e Iesa (CCI). 

A construção dos 15 módulos da plataforma, responsáveis pelo processamento e tratamento de óleo, gás e água, também foi feita no Brasil por meio de três pacotes com as contratadas UTC Engenharia, em Niterói (RJ) – módulos de processo e compressão; e Empresa Brasileira de Engenharia (EBE), em Itaguaí (RJ) – módulos de processo. 

Depois de finalizados, os módulos foram transportados por balsas e entregues ao CCI, em Ipojuca, onde foram içados sobre o casco do navio e interligados para posteriores comissionamento e testes, que finalizaram a construção do FPSO. 

Além dos módulos, a P-62 também é composta por pipe-rack (estrutura para tubulação), heliponto, flare e acomodações. A unidade é capaz de gerar 100 MW de energia elétrica, que equivalem ao consumo de uma cidade de 330 mil habitantes; e tem 119 metros de altura, 330 metros de comprimento e seu peso supera 60 mil toneladas. Ficha Técnica Produção: 180 mil barris de petróleo e 6 milhões de m³ de gás por dia Capacidade de armazenamento: 1,6 milhão de barris 

Capacidade de tratamento de água de injeção: 42 mil m³ por dia;

Capacidade de injeção de água: 265 mil barris por dia 

Capacidade de geração elétrica: 100 MW; 

Profundidade de água: 1.600 m 

Conteúdo local: 65% 

Peso total da plataforma: 60.500 toneladas 

Comprimento: 330 metros 


Sobre a Refinaria Abreu e Lima 

A Refinaria Abreu e Lima está instalada em Ipojuca, no Complexo Portuário de Suape, a cerca de 60 km ao sul do Recife. O empreendimento está 83,1% concluído, com previsão de partida de sua primeira fase em novembro de 2014. A unidade processará 230 mil barris diários de petróleo quando a segunda fase, prevista para ser entregue em maio de 2015, entrar em operação. O número representa cerca de 11% da capacidade atual de refino de petróleo no Brasil.
A Abreu e Lima será nossa unidade operacional com a maior taxa de conversão de petróleo em diesel: o equivalente a 70% da produção da unidade. A refinaria produzirá ainda outros derivados como nafta; coque de petróleo; gás liquefeito de petróleo (GLP); entre outros.
Os produtos entregues pela Abreu e Lima se destinam, predominantemente, a atender o mercado do Norte/Nordeste. O empreendimento gera atualmente cerca de 40 mil empregos diretos, e está sendo construído com 86% de conteúdo local.
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Como se sabe, num dos últimos dias de campanha à Presidência em 2002, Lula visitou um estaleiro na costa do Rio.
Estava parado.
Com terra e capim no pátio.
E anunciou que um de seus primeiros atos seria cancelar uma encomenda do Governo da Petrobrax de uma plataforma a Cingapura.
Cancelou e re-fundou a indústria naval brasileira.
Príncipe da Privataria fechou a indústria naval brasileira e ia vender a Petrobrax.
Ia vender em fatias, para ficar mais barato: clique aqui para ler “FHC do México vendeu a Petrobrax de lá”.
Ele preferia dar emprego em Cingapura.
Em poucos anos, a indústria naval e a de navipeças vai empregar mais brasileiros que a indústria automobilística.
E o Aécio, que foge da candidatura a Presidente, quer que o Brasil volte ao Governo FHC…
Que não construiu uma única plataforma – nem nada que se utilizasse de cimento e tijolo.
Quanto mais aço.
Clique aqui para ler “São Paulo, governada há 20 anos pelos tucanos, perde participação no PIB – eles pararam a locomotiva”.
Em tempo: o FHC, se pudesse, tinha vendido o Cenpes à IBM …
Paulo Henrique Amorim
Clique aqui para ler “Abreu e Lima, BR-163, BMW. Chora, Urubóloga, chora !”
E aqui para “Petrobras: uma ode à Política !”

NOTA OPEDEUTA: 
SOU TESTEMUNHA VIVA DO PERÍODO FHC E SUAS CONSEQUÊNCIAS NEFASTAS NA INDÚSTRIA NAVAL DO RIO DE JANEIRO. PROPOSITALMENTE  FOI AFUNDADA EM NOME DOS PRECEITOS NEOLIBERAIS E DO "DEUS MERCADO", EM  QUE O CANALHA MOR FHC  TRANSFORMOU A INDÚSTRIA NACIONAL, PRINCIPALMENTE A NAVAL.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Joel Leite: Venda de automóveis zero bate recorde, ainda com margens de lucro astronômicas

por Luiz Carlos Azenha

Em 6 de agosto de 2011 o Viomundo publicou um texto da repórter Heloisa Villela, que vive em Washington, no qual ela dizia tomar susto com os preços que encontra quando visita o Brasil.
No corpo do texto ela mencionava reportagem que havia feito com o jornalista Joel Leite, do Auto Informe, que também mantém o blog O Mundo em Movimento.
Trecho:
O Honda City, fabricado em Sumaré, interior de São Paulo, viaja até o México, paga frete, tem que dar lucro para a revendedora, e tal. Bem, os mexicanos compram o carro pelo equivalente a R$ 25.800,00 enquanto os brasileiros desembolsam R$ 56.210,00 pelo mesmo modelo. Pelas contas do Joel, tirando toda a carga tributária, o lucro das concessionárias, e comparando com o preço no México, o fabricante tem um lucro de quase R$ 15.000, por unidade, no Brasil.
Joel é autor de uma investigação que demonstra que os preços astronômicos dos automóveis no Brasil não resultam apenas dos insumos mais caros ou da carga tributária: são resultado, também, do que ele batizou de Lucro Brasil, ou seja, grandes margens de lucro praticadas pelas montadoras.
Falar em Lucro Brasil é uma forma irônica de se referir ao chamado Custo Brasil, que empresários e jornalistas frequentemente usam para tentar vender reformas neoliberais — a redução de direitos trabalhistas, por exemplo — ou para justificar preços completamente divorciados da realidade.
O texto da Heloisa, mais uma reportagem que eu mesmo fiz sobre os automóveis brasileiros, que reproduzi aqui, causaram animado — para não dizer furioso — debate entre os internautas.
O Fábio Passos, por exemplo, argumentou que parte dos reclamos da Heloisa se devia à sobrevalorização do real. Sim, mas nem sempre, como notou o Luiz P, que respondeu:
“Acho que vc não entendeu a ideia do artigo. Lá diz que quando um produto que custa, por exemplo, US$100,00 nos EUA, e por aqui chega a R$500,00 é um caso de especulação. Cito o exemplo baseado em valores concretos de tênis de corrida.
Vamos ilustrar com dois cenários:
1 – Real com valor considerado normal US$1,00 = R$2,50
Pelo câmbio o tênis de US$100,00 deveria custar aqui R$250,00. Então quando ele custa R$500,00 está pelo dobro do preço.
2 – Real hipervalorizado US$1,00 = R$1,60
Pelo câmbio o tênis de US$100,00 deveria custar aqui R$160,00. Então quando custa R$500,00 está mais de três vezes mais caro.
Isso mostra que produto estrangeiro absurdamente caro em um quadro de supervalorização da moeda nacional só pode ser fruto de especulação desenfreada. Nesse quadro os produtos estrangeiros deveriam estar mais baratos. O que acontece por aqui é caso de polícia…”.
Tratando especificamente dos automóveis, destaco alguns comentários:
Marcelo de Matos disse que o problema é o cartel das montadoras; Felipe atribuiu os preços à falta de concorrência; Rodrigo aft disse que o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) não trabalha em defesa da concorrência; Ricardo Alves afirmou que falta ao brasileiro a paciência para pechinchar (ele mesmo diz ter obtido um abatimento de 7 mil reais na compra de um carro zero); Francisco Hugo afirmou que o fato de as montadoras terem suas próprias financeiras faz com que elas ajam também como ‘atravessadoras’; Sergio Navas, que conhece o ramo da siderurgia, alegou que o preço da tonelada de aço laminado longo é de U$ 1.600 no Brasil, contra U$ 830 nos Estados Unidos e U$ 750 na China; Alexandra Peixoto destacou a concentração da cadeia produtiva no Brasil e recomendou este artigo da economista Tânia Bacelar; o David Bonis recomendou a leitura do artigo de Pedro Kutney, do Automotive Business, chamado Os custos, os preços e os bobos.
Noir, num desabafo, disse que “os governos que o Brasil teve ao longo de sua existência foram Governos que governaram para os outros, notadamente os de fora”.
Disse mais:
Bem, sabemos que as coisas boas, somente são boas se funcionam; assim o “capitalismo brasileiro”, transformou-se em um “capitalismo de esgoto”, altamente explorador, selvagem, que não contribui com sua sociedade. Nosso capitalismo é exatamente a “política colonial ” empregada entre 1500 e 1900, extrativista. A diferença é que antigamente se extraia o pau-brasil, ouro, prata, manganês, quartzo, diamantes e no Brasil [de hoje] se extrai “dinheiro”.
O tom do desabafo da Noir me lembrou muito o do jornalista Lúcio Flávio Pinto, já que a ideia subjacente é a mesma: o Brasil como extraordinária fonte de lucros.
[Lúcio tratou do ritmo de exportação de minério de ferro de Carajás -- crime de lesa Pátria, segundo ele --, lamentou a exportação de energia brasileira embutida em lingotes de alumínio destinados ao Japão e afirmou que a Amazônia brasileira está sendo transformada em uma subcolônia -- primeiro, do Sudeste, depois de estrangeiros -- para exportação de energia]
Todos os comentários acima citados e muitos outros, tão importantes quanto, estão aqui e aqui.
Com a notícia publicada pelo Estadão de que nos últimos três anos e meio as montadoras remeteram para as matrizes U$ 14,6 bilhões em lucros e dividendos, achei que tinha chegado a hora de entrevistar o Joel Leite a respeito, levantando com ele as questões mencionadas pelos comentaristas.
Outro motivo da entrevista: a venda de automóveis no Brasil disparou em junho, com a saída de até 20 mil veículos zero num único dia, recorde histórico.
Segundo Joel, as vendas bateram recorde mas não foi por conta da redução da margem de lucro. Pelo contrário, algumas concessionárias que haviam reduzido, aproveitaram para recompor sua margem de lucro. E nem todas as montadores teriam repassado o valor integral da redução do IPI aos consumidores.
O jornalista afirma que os preços de automóveis não caem abaixo de um determinado patamar e deu como exemplo do poder de fogo da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos) a sobretaxa que foi aplicada contra a suposta “ameaça chinesa”.
O Cherry QQ chegava ao Brasil, já com acessórios, a 12 mil reais, mas como ameaçava a produção das empresas instaladas aqui acabou sobretaxado por pressão das montadoras locais. Isso quando a Cherry e a JAC (outra montadora chinesa) detinham apenas 0,6% do mercado, contra 70% da General Motors, Fiat, Volkswagen e Ford.
Joel também comenta campanhas do gênero da Abaixo o Lucro Brasil, ativa no Facebook.
Ouçam a entrevista, enquanto a gente providencia a degravação:


Viomundo: Quais são as últimas do mercado automobilístico?
Joel Leite: O mês de junho fechou com vendas recordes, aumento de vendas históricos. Para você ter uma ideia, o mês teve só 20 dias úteis, sendo que um deles  ainda foi espremido junto ao feriado, quer dizer, você pode considerar 19 dias úteis. Mas mesmo considerando 20, você teve 17 mil carros por dia vendidos. Para você ter uma ideia do que isso significa, nesses últimos anos, quando as vendas estão bombando, o mercado crescendo, as vendas tem sido de 13 mil carros por dia, 14, eventualmente 15 num mês muito especial. Neste mês de junho a média foi 17, na última semana foram 20 mil carros por dia. Isso resultado do que? Da redução dos preços em consequência da retirada do IPI para carro 1.0 e redução do IPI para carro acima de 1.0, que o governo fez no final do mês de maio. Quer dizer: abriu a mão do imposto e com isso vários carros, várias montadoras abaixaram o preço, não todos, por sinal, mas foi o suficiente para provocar essa corrida às revendas, foi realmente uma procura enorme, que é possível até que não se mantenha nos próximos meses, é um pouco artificial, mas contribuiu para isso, para ser o segundo maior mês da historia e a maior venda diária de toda a história da indústria.
Viomundo: Joel, praticando aqueles preços que você denunciou como sendo parte do Lucro Brasil ou não, ou os preços andaram caindo muito?
Joel Leite: Não, não, os preços cairam somente o necessário para reduzir… a consequência da redução do IPI. Ninguém participou mais, além do governo, dessa redução dos preços. Ao contrário, muitas montadoras mantiveram os preços ou tiveram uma redução abaixo do que seria o necessário com a redução do IPI. Ouvi de um dirigente do setor de distribuição… ele disse que muitas concessionárias estavam trabalhando com uma margem reduzida. Então, o que eles fizeram com essa redução do IPI? Recompuseram a margem. Ele falou claramente que em vez de repassar todo esse valor para o consumidor, eles acabaram acertando a vida deles aí, recompondo a margem, muitos carros tiveram uma redução [de preço] menor que o IPI [reduzido] provocou.
Viomundo: Nos seus textos você menciona que as montadoras instaladas  no Brasil muitas vezes são responsáveis por boa parte do lucro das matrizes. E aí tem uma notícia de hoje, do Estadão, do Iuri Dantas, dizendo que nos últimos três anos e meio elas remeteram 14,6 bilhões de dólares em lucros e dividendos. É uma informação que vem ao encontro do que você tem dito, né?
Joel Leite: Exato, isso é uma amostra de que… na verdade o que acontecia quando as montadoras reclamavam junto ao governo por uma redução de preço? O que elas queriam era manter a sua margem de lucro, que é bastante alta, solicitavam uma redução de imposto para poder baixar o preço, sem fazer a sua parte, esse é o grande problema. A gente sabe que a margem de lucro no Brasil é muito grande, foi comprovado isso, dito pelos próprios dirigentes internacionais das montadoras instaladas aqui, a margem de lucro é muito grande no Brasil, é maior do que em qualquer outro país. Quando eles querem incrementar a venda, em vez de reduzir essa margem eles acabam apelando para o governo, que dá guarida a isso, o governo acaba sempre atendendo. Aconteceu isso no início da crise de 2009, em dezembro de 2008, foi o que manteve o Brasil vendendo [automóveis] bem em 2009 e 2010. Aconteceu novamente agora. É possível que… o imposto é para voltar no mês de agosto, é possível que ainda isso se estenda até o fim do ano.
Viomundo: Joel, você disse que hoje o governo controla o mercado de automóveis. O que você quis dizer com isso?
Joel Leite:  Quando as marcas importadas chegaram ao Brasil mais fortemente, especialmente as chinesas, chegaram há dois anos com carro mais barato, carro totalmente equipado e ao preço de um carro básico brasileiro. O consumidor de um carro básico — Gol, Palio, Celta, esses carros pequenos — ele nunca teve a oportunidade de comprar um carro totalmente equipado, porque ele teria de pagar à parte vidro elétrico, o trio elétrico, air bag, direção hidráulica, ar condicionado, essas coisas que são básicas em qualquer carro do mundo, no Brasil não tem.
Para você ter uma ideia, Azenha, há muitos anos, quando o espelho retrovisor do lado direito não era obrigatório nos carros, as montadoras não equipavam o carro com espelho retrovisor [do lado direito], para você ter uma ideia. Um item absolutamente básico. Ele era considerado opcional, só passou a ser equipado [com o espelho retrovisor do lado direito] depois que a lei obrigou. É o que vai acontecer com o air bag e [o freio] ABS daqui dois anos, quando será obrigado.
Hoje, a montadora não coloca esse equipamento e faz ele [o comprador] pagar à parte. O que aconteceu, voltando ao raciocínio? O carro chinês, especialmente, chegou com esses equipamentos e começou a ganhar mercado. A pressão das montadoras fez o governo impor um IPI adicional de 30 pontos percentuais, praticamente inviabilizando a operação dessas marcas no Brasil. Se você pegar as duas coreanas, a Hyundai e a KIA, que já estão no Brasil há muito tempo e estavam conquistando seu espaço, também sofreram. A KIA, por exemplo, teve uma queda de 47% nesse semestre, no fechamento do semestre, em relação ao primeiro semestre do ano pasado. Culpa do aumento do imposto.
Por outro lado, a empresa que mais cresceu nesse semestre foi a Nissan, beneficiada com a importação… ela também é uma importadora, ela importa a maior parte dos seus carros vendidos aqui, ela foi beneficiada porque o governo aceitou… o México faz parte de acordo [automotivo] com o Brasil e não recolhe imposto de importação e também não recolhe o IPI adicional de 30 pontos. Quer dizer, o governo é que controlou esse mercado, é um mercado absolutamente artificial. O carro não está sendo vendido porque ele é mais bonito, porque tem o melhor desempenho, porque tem o melhor custo-beneficio ou porque a montadora fez uma grande estratégia de marketing. Está sendo vendido porque houve um controle artificial desse mercado através do imposto do governo.
Viomundo: O que você diz de certa forma concorda com uma de nossas comentaristas, Noir, que diz que essa margem de lucro é falta de governo…
Joel Leite: É a falta de governo. Você vê nesse relato que você acabou de dizer que saiu aqui no Estadão… da remessa de lucros. A remessa de lucros, o volume foi mais ou menos o mesmo volume do valor que o governo deveria ter recolhido de impostos neste período, nestes três anos depois da crise e que acabou abrindo mão em benefício das montadoras.
 Viomundo: O leitor Felipe disse que o problema é falta de concorrência, é verdade?
Joel Leite: Não é falta de concorrência. Nós temos hoje no Brasil mais de 40 montadoras, mais de 40 marcas, todas as grandes marcas mundiais e muitas pequenas estão operando no Brasil. Imagine você, o Paraguai vende carro mais barato que a gente, o Chile — que não fabrica nenhum carro — importa tudo, vende carro mais barato que a gente. Aí você vai dizer que o imposto lá [no Chile] é baixo. É verdade, é baixo, mas se você pega a Argentina, o imposto é menor que o do Brasil mas não tão mais baixo assim. E as diferenças de preço são absurdas, absurdas. Quer dizer, você compara o preço do carro no Brasil com países de primeiro mundo, onde tem uma realidade diferente — Estados Unidos, Europa, Japão — e compara com paises do terceiro mundo, com paises miseráveis, em qualquer comparação o carro brasileiro é mais caro. Não existe explicação… O custo Brasil, que eles consideram, o custo de operação, custo de logística, de transporte, de todos estes problemas que existem na operação industrial e comercial no Brasil… para o consumidor isso não é custo, é lucro [alheio]. Alguém lucra, se não é a montadora que tem essa maior parte do lucro, é a concessionária, é a oficina, é o transporte, é o cegonheiro, esse dinheiro se perde na cadeia e quem vai pagar o preço final é o consumidor, né?
segue

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

RECESSÃO MUNDIAL: O BRASIL QUE SE CUIDE

Graças à preservação da Petrobrás como instrumento do Estado brasileiro, o mercado nacional se mantém, há anos, relativamente imune às turbulências originárias do Oriente Médio, blindagem reforçada pela regulação soberana das reservas do pré-sal. Há flancos, porém, e um deles remete a eventual desaceleração das exportações aos mercados asiáticos, que acumulam sinais de contração, segundo Nouriel Roubin. Mas não só. Cada vez mais, o gigantesco mercado interno brasileiro, um dos poucos em expansão no mundo, torna-se o alvo cobiçado da ociosidade existente em parques fabris de todas as latitudes. De pouco adianta vitaminar o crédito e o consumo de massa no país se isso vai gerar demanda e empregos fora daqui.(LEIA MAIS AQUI)


Qual é o “Plano B”?

Uma das causas para a rápida ascensão do Brasil no ranking das economias mundiais é a relação comercial com a China, que evoluiu de US$ 2,3 bilhões em 2001, para US$77 bilhões no ano passado. Cresceu tanto o ingresso de capitais chineses no Brasil, que além de maior parceiro comercial e maior comprador de produtos agropecuários, a China tornou-se também o maior investidor no setor produtivo brasileiro. No curto prazo, as compras e investimentos chineses são bem-vindos, mas será que eles resistem a uma análise de caráter estratégico? O artigo é de Milton Pomar.

(*) Artigo publicado originalmente na revista Amanhã (edição de Fevereiro/2012).

Dentro de mais alguns anos, o Brasil deverá entrar para o clube das cinco maiores economias do mundo, do qual fazem parte hoje os Estados Unidos, China, Alemanha, Japão e França. Seremos então o país com o 5º maior PIB. Provavelmente na época já não teremos a maior taxa de juros do mundo, nem estaremos mais na companhia dos quatro países com a pior concentração de renda, mas o Brasil continuará sendo o maior em exportações de soja, açúcar, carnes, celulose, café, suco de laranja, etanol de cana-de-açúcar, minério de ferro etc. Como o único critério para ser aceito nesse clube é a grandeza do PIB, o Brasil fará parte dele, mesmo distante dos demais sócios em aspectos decisivos: nível educacional da população; dimensão do mercado consumidor; participação na indústria mundial; transporte de cargas por ferrovia e hidrovia; taxa de investimento em relação ao PIB; participação do comércio exterior na formação do PIB; e investimento em Ciência, Tecnologia e Inovação.

Uma das causas para essa rápida ascensão do Brasil no ranking das economias mundiais (era a 12ª maior, há apenas dez anos), é a relação comercial com a China, que evoluiu de US$ 2,3 bilhões em 2001, para US$77 bilhões no ano passado. As exportações brasileiras para a China batem recordes, ano após ano: US$ 44,3 bilhões em 2011, quase o dobro das vendas para os EUA (US$ 25,9 bilhões). Mantido esse ritmo de crescimento, superior a 40% anuais, o comércio com a China deverá atingir US$300 bilhões em 2015. E há os investimentos no Brasil, cada vez maiores, em indústrias de diversos setores, de vários estados. Cresceu tanto o ingresso de capitais chineses no Brasil, que além de maior parceiro comercial e maior comprador de produtos agropecuários, a China tornou-se também o maior investidor no setor produtivo brasileiro.

A sociedade brasileira assiste atônita a essa ofensiva comercial chinesa. As quantias crescentes tendem a ofuscar a análise qualitativa do que é comprado e do que é vendido pela China, e se diz assim porque a iniciativa é muito mais dela. Diversas lideranças industriais têm protestado, alertando sobre os riscos da desindustrialização que já estaria ocorrendo no Brasil. Alguns intelectuais, em geral economistas, escrevem com freqüência sobre os possíveis impactos dessa relação desigual – o Brasil comprando manufaturados da China e ela comprando commodities, ambos em quantidades crescentes. Até agora, o resultado das trocas comerciais com a China tem sido positivo para o Brasil, tendo inclusive mais do que dobrado em 2011, em relação a 2010, a ponto de responder por quase 40% do superávit total da balança comercial brasileira. No curto prazo, as compras e investimentos chineses são bem-vindos, mas será que eles resistem a uma análise de caráter estratégico?

O movimento de lá para cá segue claramente uma estratégia, perceptível nos discursos e ações dos dirigentes políticos e das empresas chinesas – apesar de serem de setores diferentes, revelam sintonia entre si, como se cada qual soubesse a sua parte no jogo. Enquanto isso, do lado de cá, há divergências em relação ao que fazer com a China nos governos, legislativos, universidades, entidades empresariais e sindicais, mídia etc. O meio empresarial brasileiro está visivelmente “rachado” no tema China, entre os setores que estão ganhando muito dinheiro – agronegócio, mineração e comércio –, e os segmentos do setor industrial que estão perdendo. Sindicalistas, intelectuais, empresários e integrantes dos governos falam da possibilidade do ressurgimento do desemprego, caso as importações de manufaturados da China continuem crescendo, e muitos temem, em relação a empresas chinesas, a concessão de áreas de exploração de petróleo e a venda de terras agrícolas e minas, entre outros perigos para a economia e a soberania nacionais.

Quem analisa a situação do ponto de vista estratégico para o Brasil, leva em consideração o que ocorreu com os Estados Unidos na relação com a China, desde que esta iniciou seu programa de reformas e abertura, em 1980, após o fim do bloqueio norte-americano (que durou de 1949 a 1979). Naquele ano, a China não estava entre as dez maiores economias do mundo; até 2020, será a maior economia mundial. Durante as décadas de 1980 e 90, a China realizou uma proeza impensável: conseguiu a transferência de milhares de indústrias dos EUA para o território chinês, onde elas respondem hoje por mais de 60% das exportações “made in China”. Esse fenômeno resultou na redução significativa da participação dos EUA na indústria mundial, no período 1980/2010, e na multiplicação por dez da participação da China (de 1,5% para 15%). Outro indicador impressionante dessa inversão do peso dos dois países no mundo é revelado pela Organização Mundial do Comércio (OMC): no período 1948/2010, a China saiu de 0,9% de participação nas exportações mundiais para 10,6%, e os EUA caíram de 21,7% para 13,2%. No mesmo período, os EUA mantiveram a sua fatia nas importações mundiais em 13%, enquanto a China saltou de 0,6% para 9,3%.

Perdendo parte considerável da sua importância na indústria e comércio mundiais para a China, restou aos EUA fincar pé nas exportações agrícolas e cortar fundo nas despesas militares, reduzindo centenas de bilhões de dólares do orçamento do Pentágono, diminuindo os efetivos das bases que ainda mantêm em quase todo o mundo e retirando-se do Iraque. A prioridade militar dos EUA agora é o Pacífico, onde precisam manter presença ostensiva por causa justamente da China. Registre-se que o encolhimento militar dos EUA é inversamente proporcional à modernização das forças armadas chinesas, que tem realizado expressivos investimentos em equipamentos bélicos, treinamentos etc. Mas nada é mais simbólico da transformação radical promovida pela China na relação com os EUA, do que o fato dela ser hoje a sua maior credora, com quase um trilhão e meio de dólares em títulos do Tesouro norte-americano.

Como tudo isso ocorreu muito rápido, e a situação chinesa de hoje é infinitamente superior à de 1980, causa arrepio na espinha pensar no que pode acontecer com o Brasil na relação com a China, se deixarmos o barco correr para ver aonde a correnteza vai nos levar. Daí o medo (quase pânico) de muitos que acompanham o assunto, de que as coisas cheguem a um ponto sem volta, que se traduziria, em termos práticos, no Brasil tão-somente grande exportador de commodities para o mundo, particularmente para a China, e dependente da importação de manufaturados, em especial chineses, com perdas econômicas gigantescas, resultando em desemprego, queda da arrecadação e tudo o mais que os EUA enfrentam hoje. Situação agravada pelo peso chinês em setores estratégicos da economia nacional, como mineração e energia.

Diferenças importantes a considerar
Ainda que esse quadro assustador baseie-se no exemplo norte-americano, há aspectos diferenciais no caso brasileiro que devem ser considerados, para que se possa estabelecer a relação com a China em outras bases, de maneira a assegurar ao Brasil os recursos necessários ao desenvolvimento do país e melhor participação no maior mercado consumidor do mundo.

Sabemos da realidade brasileira, do potencial e das debilidades estruturais das diferentes regiões. Mas o que se sabe realmente sobre a China no Brasil – nas universidades, entidades empresariais e sindicais, governos federal, estaduais e das maiores cidades, empresas internacionalizadas e na mídia? Mesmo onde os ganhos são mais expressivos, sob todos os aspectos, como é o caso do agronegócio (ainda que o lucro das mineradoras esteja nas alturas), pouco se investe para conhecer as características do mercado, as tendências das demandas alimentares chinesas e as possíveis iniciativas do governo e empresários do país para lucrarem com o setor, sem abrirem mão da soberania alimentar, algo vital para a China.

Chega a ser perturbador constatar a leviandade com que o país é tratado por gente importante, expressa na utilização de informações erradas e em uma dose considerável de preconceitos. É inegável que estamos despreparados para lidar em pé de igualdade política e comercial com a segunda maior economia do mundo. Felizmente, essa situação está mudando para melhor, há mais pessoas no Brasil se preocupando em aprofundar o conhecimento e as relações com a China, buscando oportunidades não apenas comerciais, mas também de intercâmbios em áreas diversas.

A soja é um bom exemplo dos benefícios da entrada decisiva da China no mercado mundial. O Brasil atingiu a produção de 1 milhão de toneladas em 1969; dez anos depois, chegou a 15 milhões de toneladas. Foram necessários mais 20 anos para a produção dobrar. Com a China comprando, em dez anos a produção brasileira dobrou novamente, atingindo 70 milhões de toneladas. Significa que não apenas houve aumento da produção, mas também da produtividade – resultado de ciência e tecnologia e da utilização de insumos industriais. Essa mesma lógica serve para a celulose; etanol de cana-de-açúcar; carnes suína, bovina e de frango; fumo; suco de laranja; algodão; e outros produtos agrícolas.

Maior compradora de produtos agropecuários do Brasil, tudo indica que a China seguirá importando em velocidade muito superior ao do crescimento da sua economia: tem 20% da população mundial e há cada vez mais pessoas com maior poder aquisitivo; dispõe de pouca água (6% da existente no mundo), mal distribuída e com risco de contaminação; seu estoque de terras disponíveis para agricultura está no “limite vermelho”; o esforço permanente para aumentar a produtividade agrícola tem um custo muito alto, que requer subsídios cada vez maiores; e a produção de grãos tem se mantido em 550 milhões de toneladas. O detalhe aparentemente contraditório é que a China não só exporta produtos agrícolas, como tende a transformar-se rapidamente em um grande pólo agroindustrial, utilizando matérias-primas próprias e importadas para a industrialização em larga escala de alimentos e outros produtos.

Passar de maior importadora agrícola, para maior exportadora de alimentos industrializados, papel, tecidos de algodão e outras fibras naturais, móveis de madeira etc para a Ásia (2,5 bilhões de pessoas), será o grande “pulo do gato” do dragão chinês. Vendedora por natureza, altamente capitalizada, com 800 milhões de pessoas economicamente ativas, localização central, fronteiras terrestres e ligação ferroviária atual ou futura com 15 países, a China revolucionará a logística de transporte mundial de uma maneira fantástica, porque construirá ferrovias entre países da Ásia Central, na sua região oeste, e o Oceano Pacífico, onde possui os maiores portos do mundo e gigantesca frota mercante. Esse plano foi anunciado por autoridades do governo central chinês em 2008, na cidade de Chengdu, capital de Sichuan, durante evento reunindo 12 províncias e regiões autônomas e representantes dos países vizinhos. Quando estiver concretizada essa “Rota da Seda sobre trilhos”, as trocas comerciais da Ásia com o restante do mundo atingirão volumes impensáveis hoje.

A capacidade de transporte por ferrovia é uma das razões da competitividade imbatível chinesa: mais de 80 mil km, ligação entre todas as municipalidades, capitais de províncias e de regiões autônomas, velocidade média de 80 km/h para carga (os trens de passageiros vão de 100 km/h a 350 km/h), com um movimento tão grande que só perde para o dos Estados Unidos. Após construir a ligação ferroviária entre Qinghai e Lhasa (capital do Tibet), a última entre capitais que faltava, e as ferrovias de alta velocidade, entre Beijing e Shanghai, o próximo objetivo é aumentar a malha para 100 mil km.

Uma ferrovia ligando o Oeste brasileiro ao Pacífico aumentará a competitividade da exportação de soja para a Ásia, tornando o preço do produto brasileiro imbatível. Essa possibilidade, mais o potencial agrícola, florestal e mineral da região, tornam o investimento na construção muito atraente para empresas chinesas, que também se interessarão em vender locomotivas, vagões e trilhos. Considerando os cenários possíveis do setor agropecuário mundial para os próximos dez anos, essa ferrovia adquire uma importância extraordinária para o agronegócio brasileiro, cujo crescimento internacional (exportou US$94,6 bilhões ano passado, 24% a mais em relação a 2010) incomoda muito a concorrência, principalmente a norte-americana, que será a mais afetada por essa ferrovia na disputa pelo mercado asiático. Apesar disso, até aonde se sabe, não há nenhum trabalho da região ou do governo federal sendo desenvolvido com o objetivo de atrair investimentos do país com a maior liquidez do mundo.

As oportunidades do crescimento chinês
Crescer tanto, com dezenas de milhões de pessoas migrando o tempo todo das áreas rurais e demandando infra-estruturas e empregos nas cidades, gera várias contradições e desigualdades. Trata-se de construir, nos próximos 30 anos, o equivalente a dois “brasis”. Calcular as quantidades necessárias de energia, cimento, aço, alumínio, vidro, madeira, plástico, e tudo o mais, para tantos edifícios residenciais e comerciais, indústrias, escolas, hospitais etc, chega a ser surreal. Além disso, durante o processo contínuo de migração e construção, deverá continuar ocorrendo aumento da renda, e por conseqüência, aumento do consumo, como tem sido desde 1980, efetivando um ingresso na classe média chinesa de mais 300 milhões, ou 400 milhões, elevando o seu mercado consumidor para inacreditáveis 700 ou até 800 milhões de pessoas.

Ainda que muitos analistas não acreditem que o fenômeno chinês vá continuar por muito tempo mais, é bom considerar essa possibilidade, e se preparar para aproveitar as oportunidades em todas as áreas, porque a China precisará importar mais, seu parque industrial não dá conta de atender a demanda doméstica, muito menos o crescimento dela decorrente da decisão governamental de continuar o crescimento via consumo interno. Mas de onde ela vai importar mais, se os custos de produção europeus, norte-americanos, japoneses e brasileiros são muito maiores dos que os seus? Por isso, a China precisará investir muito, na própria China e no restante do mundo, para aumentar a capacidade de produção e reduzir custos. Ano passado, ela recebeu 103 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros, e teria investido no exterior pouco mais de US$60 bilhões.

Esse movimento simultâneo (atrair investimentos e investir em outros países) continuará em grande escala, porque ao mesmo tempo em que é “obrigada” a investir em ativos em outros países, precisa obter capital alheio, porque o seu superávit na balança comercial está caindo (ano passado foi US$28 bilhões menor, em relação a 2010), e a tendência é continuar assim, conforme aumentem as suas importações. Prova da sua disposição de continuar atraindo capital estrangeiro é a decisão do governo, anunciada dia 30 de dezembro de 2011, e em vigor a partir de 30 de janeiro de 2012, de abrir mais setores da economia ao investimento estrangeiro. O objetivo declarado pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China e o Ministério do Comércio é atrair investimentos em “indústrias emergentes estratégicas”: economia de energia, energias alternativas, veículos de combustíveis alternativos, despoluição, tecnologias de informação de nova geração, biotecnologia, produção de equipamentos modernos e materiais avançados.

Ao mesmo tempo, permitirá aumento do capital estrangeiro em alguns setores, velha reivindicação dos investidores, que se recusavam a ficar minoritários nas sociedades. O comunicado conjunto dá conta ainda que o governo “continuará dando as boas-vindas aos investidores estrangeiros em indústrias de ponta e de serviços modernos”, e também os incentivará a investir nas indústrias de reciclados.

As novas diretrizes do governo chinês reforçam a atração de investimentos e indicam por onde caminhará a política industrial do país nos próximos anos: o governo retirará o apoio ao capital estrangeiro na produção de automóveis, devido à necessidade de obter “um saudável desenvolvimento da produção nacional nesse setor” e tampouco apoiará o investimento estrangeiro nos setores de silício poli-cristalino e química de hulha, devido ao receio de excesso de oferta industrial e excesso de capacidade instalada. Por fim, o governo chinês anunciou que produzirá “uma política detalhada para as regiões central e oeste do país, levando em consideração as diferenças de desenvolvimento regional”.

Atrair investimentos da China para o Brasil
A Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), conta com escritório na China, em Beijing. Sua congênere chinesa, a Ccpit, com a qual possui acordo de cooperação, está estruturada a nível central, setorial, provincial e municipal. Enquanto o Brasil possui uma APEX, a China possui 700 Ccpit. Quando o Brasil se dispuser a atrair investimentos chineses, precisará de escritórios e equipes da APEX também em Shanghai, Guangzhou e outras grandes cidades chinesas. Tem que estar perto, tem que conviver, conhecer, estabelecer relações. Essa lógica vale também para a representação diplomática brasileira na China. Além da embaixada e consulado em Beijing, há consulados também em Shanghai, Guangzhou e Hong Kong. A equipe brasileira é hoje bem maior do que era há dez anos, mas ainda assim, não chega a 10% do efetivo norte-americano e é menos de um terço da representação do Canadá. Com um agravante: muda a cada quatro anos. Ou seja, quando o diplomata começa a conhecer a China, ele vai embora.
O Banco do Brasil tem um escritório em Shanghai, onde está a maioria das empresas brasileiras na China. Mas falta Banco do Brasil em Guangzhou, no sul da China, e em Beijing, no norte. Aumentar a presença institucional do Brasil na China é fundamental para todos que queiram se relacionar com o país: estudantes, empresários, governos, artistas, esportistas. Enquanto o programa do governo federal de envio de estudantes para o exterior quer “exportar” 75 mil jovens para o mundo, o governo Obama anunciou sua disposição de mandar 100 mil estudantes somente para a China (contrapondo-se assim aos 130 mil estudantes chineses nos EUA), para aprenderem a língua e conhecerem a cultura do principal adversário dos EUA.

Competição e competitividade
O panorama mundial é deveras preocupante, mas para muitos no Brasil a relação comercial com a China é mais preocupante ainda pelos riscos que implica, até porque algumas das empresas que querem vir para o Brasil são estatais. Ainda está vivo na memória o ocorrido na segunda metade do século passado, quando o Brasil foi “invadido” e “dominado” por empresas norte-americanas, alemãs, japonesas, francesas, italianas etc, que tornaram-se donas de minas, fazendas e indústrias. De mais a mais, competir com as empresas chinesas parece ser impossível, elas trabalham com juro de 5%, quase metade da carga tributária brasileira, custos de produção e de transportes muito menores e margens de lucro inferiores às praticadas no Brasil.

Competindo com todos os países, o Brasil comprou e vendeu um total de US$482 bilhões em 2011, quase o mesmo, em termos populacionais, que os US$3,6 trilhões obtidos pela China. Mais do que a competitividade das chinesas, a maior dificuldade comercial das empresas brasileiras naquele mercado é a competição com empresas do mundo inteiro, que já estão lá há vários anos. Existem algumas dezenas de empresas do Brasil na China, e dezenas de milhares dos outros países. Enquanto uma empresa do setor lácteo nacional reluta em investir no mercado chinês, empresas da China importam anualmente 100 mil vacas leiteiras do Uruguai, Nova Zelândia e Austrália, com o objetivo de formar um rebanho leiteiro de alta qualidade. Hoje a China já produz mais leite de vaca do que o Brasil, e importa leite em pó a preços inferiores aos praticados por nossas empresas no mercado internacional.

O aumento da entrada de produtos chineses no Brasil é resultado exclusivo da ação de empresas brasileiras, dos setores industrial e do agronegócio, que vão até lá comprar, visando obter redução de custos e a elevação das margens do que produzem, e do setor comercial, que busca preços que permitam margens elevadas na revenda. Entidades empresariais desses setores organizam e levam comitivas para comprar na China, e esse movimento cresceu demais nos últimos cinco anos, resultando em aumento da quantidade de empresas que importam da China e em US$33 bilhões de compras em 2011.

Esse quadro complexo, contraditório e volátil, requer da sociedade e do governo brasileiros definições de como lidar com a China, de maneira a permitir realizar uma ofensiva articulada, visando estreitar relações nas áreas cultural, esportiva, educacional e de ciência e tecnologia; aumentar a presença institucional do Brasil no país; e estimular ações dos governos e das empresas, de atração de investimentos e de penetração no mercado chinês, inclusive através de instalação de indústrias lá. Temos necessidade e condições de fazer tudo isso, nós só não temos um “Plano B”.

(*) Milton Pomar é empresário, editor da revista em chinês “Negócios com o Brasil”




sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Petrobras: “sabedoria” do mercado engasga o professor “sabichudo”

 
Como o “especialista” Adriano Pires tem parcos recursos intelectuais, e ficha graduada na ANP de FHC, O Globo escalou agora um economista da PUC carioca – que, com honrosas exceções é o grande consulado tucano no Rio de Janeiro – para atacar a Petrobras. Rogério Werneck, em artigo publicado hoje, à guisa de “dar conselhos” à nova presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster toma a si a tarefa de não baixar o fogo de artilharia contra a maior empresa brasileira.
E adivinhem o que ele aconselha, no artigo intitulado “O engasgo da Petrobras” ?
Lógico, abrir o pré-sal às empresas privadas – e estrangeiras – e interromper o ” faustoso programa de favorecimento à produção local de equipamentos”, ou seja, importar navios, sondas, maquinario, etc.
Justiça seja feita, nem o “líder e guia espiritual” da privataria, Fernando Henrique Cardoso jamais foi tão explícito.
A Petrobras, segundo Werneck, por estabelecer conteúdos elevados de produção nacional, teria sido transformada em um “poderoso cartório de distribuição de benesses a produtores de equipamentos”.
Leia-se, à indústria brasileira, aquela mesmo que o tucanato serrista vive falando que está se acabando.
Diz ele que, comprando fora, a empresa será mais eficiente.
E usa como exemplo a contratação, no Brasil, de sondas para águas ultraprofundas, que teria gorado por preços elevados demais.
Ora, sondas têm mesmo preços elevados em todo o mundo. Aqui, para serem feitas pela primeira vez, certamente não atingirão os preços de indústrias que as fazem há décadas e em escala em outros países. Mas podem chegar bem perto, até porque o horizonte de produção destes equipamentos não se encerrará nas primeiras encomendas.
A Petrobras está sendo criteriosa e dando as “freadas de arrumação” que são necessárias para moderar os apetites de lucro dos possíveis fornecedores. E a nova presidente da empresa, pelo seu estilo, teve nisso uma das razões de sua escolha. Porque Graça Foster irá, certamente, endurecer e exigir isso, e até mesmo, pontualmente, recusar um ou outro preço exorbitante comprando lá fora.
Mas a Petrobras e o Brasil não podem abrir mão de criar aqui um parque produtivo da indústria do petróleo para, em lugar disso, simplesmente importar ou alugar lá fora os equipamentos indispensáveis.
Não apenas porque isso seria um crime contra o povo brasileiro, que tem o direito de aproveitar em empregos, renda, impostos e aquisição de conhecimento aquilo que a cadeia produtiva do petróleo tem a dar como, sobretudo, porque é uma estupidez acelerar importações de alto valor agregado – como são os equipamentos petrolíferos – para apressar exportações de petróleo bruto, cujo preço de daqui a dois anos não se pode precisar e dificilmente se sustentará nos atuais patamares.
Mas o professor Werneck é um “fundamentalista de mercado”, parte de uma corrente sectária que acha que a “sabedoria” dos agentes privados irá despejar o maná sobre nós. Ou, pelo menos, sobre o Leblon e os Jardins.
Há muitos anos defende o dogma dos preços absolutamente livres dos derivados de petróleo, na base do “quem pode, paga, quem não pode que se dane”.
E o faz com bravura, em sua duradoura cátedra no Estadão e agora em O Globo. Em 2002, criticava Serra por ser “pouco fernandista”, em 2006, criticava Alckmin por ter “caído na esparrela” de não defender as privatizações de peito aberto. E em 2010, sem mais santos aos quais apelar, maldizia o favoritismo de Dilma Rousseff afirmando que se devia a políticas absurdas como as compras no Brasil feitas pela Petrobras e à, como classificava, “custosa” política de “reajuste sistemático do salário-mínimo a taxas substancialmente mais altas que a inflação”.
Mas o cultuador da sabedoria do “mercado” acabou se engasgando, ele próprio, diante do seu Oráculo. A Petrobras acaba de fazer uma captação no exterior de US$ 7 bilhões, às menores taxas de juros já obtidas pela empresa, dinheiro que será usado para acelerar o desenvolvimento da exploração de petróleo em bases racionais e não no esquema “Agnelli” do minério de ferro, o do “arranca tudo depressa, vende logo e o país que se lixe”.
E os US$ 7 bilhões, notem, foram menos de um terço da demanda do mercado por títulos da Petrobras. Porque o mercado sabe que a Petrobras é um dos mais sólidos investimentos do mundo.
E o mercado, que o professor Werneck julga sábio, é mais sabido do que ele.
Por: Fernando Brito

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Por que a América Latina não cresce como a Ásia?

Em 1980 o parque industrial brasileiro era maior que o da Tailândia, Malásia, Coréia do Sul e China combinados. Em 2010, a indústria brasileira representou pouco menos de 15% em comparação com esses países. Acho que o que tem que perguntar é por que o Brasil representa 75% do comércio mundial de ferro e só dois por cento do de aço em um país que tem a Embraer. E não é só o Brasil. Temos o caso do Chile, que hoje exporta muito mais cobre concentrado que fundido que há 20 anos. A avaliação é de Gabriel Palma, professor chileno da Universidade de Cambridge, em entrevista à Carta Maior.

Londres - Ao fim de 2011 a economia brasileira teve crescimento nulo. No princípio deste ano, um prestigioso instituto britânico, o Centre for Economic and Busines Research, colocou o Brasil à frente do Reino Unido na lista das “top 10” economias do mundo e previu que, em 2020, sua economia superaria à da Alemanha, hoje segundo exportador mundial depois da China. Carta Maior dialogou com Gabriel Palma, acadêmico chileno da Universidade de Cambridge, na Grã Bretanha, especialista em política econômica comparada, que há anos procura desentranhar por que os países da Ásia têm um crescimento sustentável que não existe na América Latina.

No Brasil o copo está meio vazio ou meio cheio?

Gabriel Palma – Que a economia brasileira em termos de Produto Bruto Interno tenha passado a do Reino Unido não é tão significativo como pareceria à primeira vista porque o Brasil tem três vezes a população britânica. Se for comparado este dado com outras estatísticas brasileiras como a desaceleração, a desindustrialização, a "commoditificação" da economia, o panorama muda. Meu ponto de partida é outro. O que venho me perguntando faz tempo é por que os países da América Latina não podem crescer como os da Ásia. Na Coréia, Singapura, Taiwan, Malásia, Tailândia, Indonésia e China, o crescimento foi de dois dígitos durante décadas. Na América Latina não. Dá-se um crescimento de dois dígitos que dura uns anos e depois se esvazia. E não acontece só no Brasil. Acontece no Chile, na Argentina, no resto da região.

E qual é a resposta a essa pergunta?

Gabriel Palma – Como você pode imaginar é muito complexa. Mas os dados são muito claros. Em 1980 o parque industrial brasileiro era maior que o da Tailândia, Malásia, Coréia do Sul e China combinados. Em 2010, a indústria brasileira representou pouco menos de 15% em comparação com esses países. Acho que o que tem que perguntar é por que o Brasil representa 75% do comércio mundial de ferro e só dois por cento do de aço em um país que tem a Embraer. E não é só o Brasil. Temos o caso do Chile, que hoje exporta muito mais cobre concentrado que fundido que há 20 anos. O caso do México, que nos anos 80 se propôs um desenvolvimento exportador com as montadoras. Hoje tem a mesma proporção de montadoras que 30 anos atrás.

A China, que também teve este modelo exportador nos anos 80, hoje exporta a metade de sua produção com produtos de alto valor agregado. Há uma ambição econômica na Ásia que contrasta com a inércia que se sente na América Latina. Isso não quer dizer que não há tentativas. Na Argentina se está experimentando algo diferente. No Brasil, Mantega está tentando, mas se choca com o Banco Central. Na Ásia todos parecem querer se superar.

Entretanto, no caso do Brasil se calcula que uns 10 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza na última década, sinal de que houve avanços.

Gabriel Palma – No Brasil como no Chile e na Argentina, houve avanços, tanto neste sentido como na redução do desemprego. No Brasil temos o salário mínimo e o bolsa-família que dará a 11 milhões de famílias subsídios que lhes permitam baixar os níveis de pobreza. A questão é que todo este bolsa-família é 0,5% do PIB. Agora, se com 0,5% do PIB se consegue esta redução da pobreza, por que não se tenta com 1% do PIB que não é nada do outro mundo e que reduziria em 11 milhões mais a pobreza? Segundo um estudo da CEPAL, há seis países latino-americanos, entre eles a Argentina, o Brasil e o Chile, nos quais custaria menos de 1% do PIB terminar com a pobreza. Se falarmos da Índia, com 500 milhões de pobres, a tarefa é titânica: custa 10% do PIB terminar com a pobreza. Na América Latina não. No Chile, com 20 anos de governo da Concertação se reduziu primeiro a pobreza de 40% a 20% e, uma década mais tarde, 10%. Hoje voltou a dar um salto a 15%. Inclusive com governos progressistas, que têm uma vontade política neste sentido, com contas fiscais em ordem e um boom de commodities, o avanço é muito menor do que poderia ser.

Há um assunto que trata do desenvolvimento também. A pobreza está inevitavelmente vinculada com o modelo econômico que se aplica.

Gabriel Palma – Não resta dúvida. No Brasil há uma crescente "commoditificação" da economia. Há 10 anos as commodities representavam 25% do total. Hoje constituem 50%. Há um grande desenvolvimento das commodities, mas com poucos produtos processados e com um abandono da indústria manufatureira que é lamentável. O atual modelo econômico, que começou nos anos 80, aprofundou-se com Cardozo e continuou com Lula, se baseia em um tipo de câmbio sobrevalorizado e na entrada de capital, o que vem causando a desindustrialização do país. Não há país asiático que siga esta política macro.

O governo lançou o programa Brasil Maior para revitalizar a indústria. O caminho pode ser este?

Gabriel Palma – Se parar a decadência já me conformo. Ao olhar a taxa de investimento total – nacional, estrangeira, pública e privada – por trabalhador no Brasil, se percebe que hoje são menores do que nos anos 80. Ao comparar com a China se percebe que o investimento aumentou 12 vezes com respeito aos anos 80. O Brasil vem há 30 anos com um investimento público menor que 3% do PIB. Hoje a infra-estrutura está caindo aos pedaços. E as taxas de juro são usurárias. No último estudo da Federação de Comercio de São Paulo, a taxa de juros média do cartão de crédito batia em 230 % anual. Fala-se muito da criação de una nova classe média graças ao acesso ao crédito, mas além de acesso ao consumo o que eu vejo é um grande endividamento com taxas de mora muito altas.

Há uma bomba-relógio no setor financeiro do Brasil?

Gabriel Palma – Não acho que seja como a dos Estados Unidos e Europa. Há problemas, mas as contas fiscais são sustentáveis, a dívida externa caiu, o setor produtivo não tem grandes dívidas. O melhor que se pode dizer do Brasil é que não há nenhuma bomba-relógio financeira nos próximos cinco anos. Mas também está claro que não vai haver um crescimento de mais de três ou 4 % e terá um grande desenvolvimento do setor financeiro e das commodities. O último informe global do Banco Santander é muito interessante neste sentido. No Brasil estão 15% de seus ativos e 30 % de seus lucros mundiais. Por isso todos receberam Lula como um herói em Davos.

Que impacto pode ter esta situação do Brasil em seus vizinhos em meio à atual crise econômica?

Gabriel Palma – A grande vantagem dos países latino-americanos é que a demanda das commodities vai continuar. Isto amortiza o impacto de uma crise externa. Acho que a atual crise mundial vai deixar lembranças, não tanto pela profundidade, mas pelo tempo que vai custar para sair. Neste sentido, a América Latina teria que se preparar para cinco ou dez anos de dificuldades no setor externo e se concentrar mais em potencializar seu mercado doméstico.

Tradução: Libório Junior

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Indústria nunca faturou tanto. Bye-bye Serra forever !


Saiu na Folha:

Faturamento da indústria brasileira é o maior da história, aponta CNI


MÁRIO SERGIO LIMA

DE BRASÍLIA


Nunca a indústria brasileira teve um faturamento real tão elevado na história. Segundo a série histórica apresentada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), o indicador atingiu 120,3 pontos em setembro, com ajuste sazonal, superando o índice de março deste ano, de 119,6 pontos, recorde histórico até então.


Os números demonstram a vitalidade do crescimento da indústria brasileira em 2010, que já superou os efeitos da crise e não mais encontra-se  (sic – PHA) em recuperação, mas em crescimento. Em relação ao índice pré-crise, o avanço é de 5,9%.


(“Crise” é aquela da urubóloga Miriam Letão – PHA)


No terceiro trimestre, o faturamento cresceu 3,9% ante o trimestre anterior e, mesmo em caso de não apresentar mais ganhos nos meses seguintes, a indústria já garantiu uma alta de 9,3% em 2010 na comparação com o ano anterior.


Outro indicador que vem apresentando crescimento contínuo no ano é o emprego na indústria, que já supera em 2% o índice pré-crise. Também levando-se em conta a série histórica com ajuste sazonal, no qual o índice atingiu 111,5 pontos, o resultado é recorde.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Os anos FHC e a morte da alma nacional



Neste momento em que se discute o futuro do Brasil e que o país está colocado diante de dois caminhos, a Carta Maior relembra a obra de um grande brasileiro, o jornalista Aloysio Biondi, que, durante a década de 90, foi uma das raras vozes a se levantar contra a abertura econômica sem freios e a condução das privatizações pelo governo Fernando Henrique Cardoso. No primeiro artigo desta série, Biondi escreve sobre como FHC não destruiu apenas a economia nacional, tornando-a dependente do exterior. "Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional, o sonho coletivo. Com o jogo perverso de estimular a busca de pretensas vantagens individuais, o governo FHC destruiu a busca de objetivos coletivos".
(*) Artigo publicado na revista Bundas, em 7 de agosto de 1999

Para conhecer a vida e a obra de Aloysio Biondi

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Reverencialmente, peço licença ao mestre Celso Furtado para repeti-lo: 

“Nunca estivemos tão longe do país com que sonhamos um dia”.

Uma pequena frase. Capaz, porém, de detonar um turbilhão de lembranças, das emoções e expectativas, dos dias em que o Brasil era um país e tinha sonhos. Um povo que sonhava virar Povo. Estudantes, intelectuais, empresários, trabalhadores, agricultores, classe média envolvidos no debate pelo desenvolvimento, conscientes, todos, de que havia um preço a pagar, resistências a enfrentar. Inimigos, interesses externos a vencer. Um país com alma, sonhos. 

Durante 40 anos, 45 anos, houve crises de todos os tipos. Mas havia o amanhã, a promessa do amanhã. A busca do amanhã. Um lugar no mundo. Na década de 50, com a economia resumida praticamente ao café, açúcar, algodão e outros produtos agrícolas, o país lançou-se à loucura de buscar a industrialização. Sem dólares para importar máquinas e equipamentos, pois os preços dos produtos agrícolas estavam de lastros no mercado mundial, estrangulando países pobres como o Brasil. Mesmo assim, o país ousou. Era a época em que os intelectuais e formadores de opinião escreviam livros, artigos, teses sobre e contra as políticas de estrangulamento que os países ricos impunham a países como o Brasil. Ou faziam músicas, peças teatrais, filmes sobre a realidade brasileira. Reforçavam a alma brasileira. O sonho realizável. Será que dona Ruth Cardoso se lembra disso? 

Chegou a década de 60, e com ela o golpe militar inspirado pelos EUA, desvios de rota que, no entanto, não conseguiram enterrar de vez os sonhos de construção de um país... A alma nacional resistia. Veio a crise do petróleo, no começo dos anos 70, e o país, que produzia 130 mil barris por dia, mergulhou novamente no abismo da falta de dólares, na recessão, no avanço da miséria. Um país “quebrado”, com total falta de dólares, mas que insistia em sonhar com um amanhã.

Em nome desse sonho, novamente, a população pagou a conta. O governo contraiu dívidas fabulosas, criou impostos, apertou o cinto e o crânio dos brasileiros, para canalizar o dinheiro disponível, dos impostos ou empréstimos, para montar indústrias capazes de fornecer produtos que ainda eram importados, de aço a alumínio, de celulose a petroquímicos, de máquinas a sistemas de telecomunicações. Substituir importações para economizar dólares, necessários para a compra do petróleo, ainda não descoberto em grande escala no território brasileiro. 

Para atender a todas essas novas indústrias, era preciso também construir usinas, as Itaipus, rodovias, ferrovias (o Brasil chegou a produzir 5.000 vagões por ano, com encomendas do governo), sistemas de telecomunicações. Mais aperto de cinto, mais impostos, menos dinheiro para as questões sociais, nunca esquecidas nem mesmo nos debates e escritos dos economistas, ou de empresários. Mas havia a esperança do amanhã. O sonho, de que fala mestre Furtado, de um país economicamente forte, exatamente por dispor de todos os recursos naturais para isso, mas também capaz, ao atingir esse estágio, de maior justiça social, de extinção da miséria. Habitado por um Povo. Orgulhoso de si. Solidário, porque se reconhecendo no outro.

No começo dos anos 90, o sonho estava ao alcance da mão, o amanhã chegava. O Brasil conquistara uma posição entre as dez maiores economias do mundo. Melhor ainda: o Brasil nadava em dólares, porque era capaz de realizar exportações muito maiores do que as importações. Poucos se lembram disso hoje, mas o Brasil tinha um dos maiores saldos comerciais positivos (exportações menos importações) do mundo, na casa dos 10 a 15 bilhões de dólares por ano. Tinha dólares seus, não precisava mais de empréstimos ou de capital das multinacionais para realizar investimentos e manter a economia em expansão, para criação de empregos e solução dos problemas do seu povo. Foi ontem, e está tudo tão distante. 

A serviço de outros países, o governo escancarou o mercado às importações e às multinacionais. Feiticeiros malditos transformaram o saldo positivo da balança comercial em um “rombo” permanente, deram vantagens na cobrança de impostos sobre a remessa de juros e de lucros estimulando o envio de dólares para o exterior, elevaram os juros para cobrir os rombos criados, “quebraram” assim a União, Estados, Municípios. Destruíram a indústria e a agricultura. Em cinco ou seis anos, clones malditos dos intelectuais de ontem destruíram o que havia sido construído ao longo de décadas. Destruíram mais. Destruíram o sonho, a Alma Nacional.

O que somos hoje? Um quintal dos países ricos? Não. Somos um curral. Bovinos ruminando babosamente enquanto o vizinho do lado, o trabalhador, o funcionário público, o aposentado, o agricultor, o empresário, todos, um a um, são arrastados para o grande matadouro em que o país se transformou, com suas mil formas de abate como o desemprego, os cortes na aposentadoria, as falsas reformas do funcionalismo, a falência, as importações. Bovinos ruminando no curral, enquanto empresas de todos os portes são engolidas por grupos estrangeiros e até o petróleo, ou os campos mais fabulosos de petróleo do mundo, com poços capazes de produzir 10.000 (dez mil) barris por dia, em um único poço, são entregues a preço simbólico às multinacionais.

Em cinco anos, o governo Fernando Henrique Cardoso não destruiu apenas a economia nacional, tornando-a dependente do exterior. Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional, o sonho coletivo. Para isso, e com a ajuda dos meios de comunicação, jogou o consumidor contra os empresários nacionais, “esses aproveitadores”; o contribuinte contra os funcionários públicos, “esses marajás”; o pobre contra os agricultores, “esses caloteiros”; a opinião pública contra os aposentados, ”esses vagabundos”. 

No governo FHC, o brasileiro foi levado a esquecer que, em qualquer país do mundo, a sociedade só pode funcionar com base em objetivos que atendam aos interesses, necessidades de todos – ou, mais claramente, não se pode por exemplo ter uma política de importação indiscriminada, a pretexto de beneficiar o consumidor, sem provocar desemprego e quebra de empresas. Ou, a longo prazo, desemprego generalizado.

Com o jogo perverso de estimular a busca de pretensas vantagens individuais, o governo FHC destruiu a busca de objetivos coletivos. Destruiu a Alma Nacional, o Projeto Nacional. A violenta desnacionalização sofrida pelo Brasil, em sua economia, vai eternizar a remessa de lucros, dividendos, juros para o exterior. Isto é, vai torná-lo totalmente dependente da boa vontade dos governos de países ricos em fornecer dólares e, portanto, de ordens e autorizações desses governos de países ricos. Uma espécie de colônia, mesmo, como alertou o economista Celso Furtado em palestra que ele encerrou com sua frase, arrasadora para quem viveu o Brasil de 50 para cá, “nunca estivemos tão distante do Brasil com que um dia sonhamos”. 

Mesmo sem tê-lo consultado a respeito, uma sugestão: escreva a frase de Furtado em um pedaço de papel, e a releia todos os dias. Ou faça decalques com ela. Sugira que seus amigos façam o mesmo.

E comece a agir. Ainda há tempo de ressuscitar a Alma Nacional, antes que o Brasil vire colônia.