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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Pesquisas, solidão e discurso errático abalam Serra



As mais recentes pesquisas eleitorais expressam e agravam a crescente dificuldade de posicionamento político da candidatura de José Serra (PSDB). Com um discurso errático que, ora procura pegar carona nas realizações do governo Lula, ora situa-se no terreno da extrema-direita, a campanha tucana oscila sem rumo certo. Num dia o candidato diz vai duplicar os benefícios do Bolsa Família, noutro critica a política de gastos do governo Lula, noutro ataca o Mercosul, a Bolívia e procura vincular a candidata do PT à guerrilha colombiana. Desorientação é tamanha que mesmo aliados como Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Agripino Maia (DEM-RN) evitam associação com nome de Serra na campanha.
Marco Aurélio Weissheimer
Com seu humor habitual o jornal Hora do Povo satiriza a debandada nas fileiras da candidatura de José Serra à presidência da República. “Ninguém que aparecer ao lado do morto. Campanhas do PSDB e do DEM tiram nome de Serra em 12 Estados”, destaca a HP. Nos últimos dias, a Folha de São Paulo vem publicando matérias sobre a resistência dos aliados de Serra em usar o nome e a imagem do candidato tucano em seus materiais de campanhas nos Estados. De Norte e Sul do país, marqueteiros das mais diferentes matizes dão um mesmo um conselho: associar o nome a Serra pode custar muitos votos. Mesmo lideranças xiitas da oposição, como Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Agripino Maia (DEM-RN) estão distribuindo material de campanha sem mencionar a candidatura Serra.

Mesmo em Estados onde o PSDB governa, como é o caso do Rio Grande do Sul, a solidão tem sido companheira de Serra. O candidato tucano esteve em Porto Alegre no dia 23 de julho, quando participou de uma caminhada pelo centro da cidade. Não contou com a companhia da governadora Yeda Crusius (PSDB), que alegou problemas de agenda para não participar do ato. Neste caso, fica difícil dizer quem evitou quem uma vez que a popularidade de Yeda Crusius não é das maiores em função da sucessão de denúncias e escândalos de corrupção em seu governo. Se nomes como Arthur Virgílio, José Agripino Maia e Yeda Crusius não querem aparecer ao lado de Serra, quem o fará? O problema adquire contornos dramáticos na campanha tucana no momento em que as pesquisas começam a convergir apontando para a estagnação da candidatura tucana e para o crescimento contínuo da candidatura de Dilma Rousseff (PT).

"Pesquisa das pesquisas" aponta tendência de alta de Dilma
A pesquisa Ibope divulgada dia 31 de julho, dando uma vantagem de cinco pontos para Dilma Rousseff (39 a 34) confirma uma tendência apontada pelo Doxa, Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, que vem fazendo uma média de todas as pesquisas realizadas em 2010. Segundo dados deste ano, atualizados até 25 de julho, Dilma saltou de 25 para 41 pontos na média de todas as pesquisas. Já Serra permanece estagnado na casa dos 36 pontos. Dos últimos levantamentos divulgados, apenas o Datafolha ainda mostra Serra na frente de Dilma (um ponto). Os demais institutos de pesquisa apontam para a tendência citada acima.

Mas tudo isso é conseqüência. Os verdadeiros problemas da candidatura Serra, conforme já admitem seus próprios aliados, é de natureza política. Com um discurso errático que, ora procura pegar carona nas realizações do governo Lula, ora situa-se no terreno da extrema-direita, a campanha de Serra oscila de um lado para o outro. Num dia o candidato diz vai duplicar os benefícios do Bolsa Família, noutro critica a política de gastos do governo Lula, noutro ataca o Mercosul, a Bolívia e procura vincular a candidata do PT à guerrilha colombiana. Nesta terça-feira, Raimundo Costa, repórter especial de Política do jornal Valor Econômico, observa em sua coluna:

“O candidato insiste em cometer erros "testados" em outras campanhas dele mesmo. Este é o caso do discurso de Serra sobre a Bolívia, o Irã e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - as Farcs, um problema que já se apresentara à campanha presidencial de 2002, que Serra perdeu para Lula. Todas as pesquisas feitas à época mostraram que eram assuntos distante das pessoas e do interesse só dos eleitores já convertidos à causa tucana”.

Costa escreve ainda que deu tudo errado na coreografia de campanha ensaiada por Serra e que a prioridade do PSDB agora é evitar que Dilma ganhe a eleição já no primeiro turno:

Pelos cálculos do PSDB, o tucano chegaria ao horário eleitoral gratuito à frente da candidata do PT, Dilma Rousseff. Três dos quatro institutos de pesquisa mais conhecidos já apontam a petista à frente - o Datafolha registra empate técnico, mas também a melhoria de Dilma e a queda de Serra em todas as demais variáveis, do voto feminino à rejeição do eleitor. Na prática, o tucano entra no período de propaganda de rádio e televisão com uma preocupação mais imediata: manter o que tem e evitar que Dilma liquide as eleições já no primeiro turno.

Primeiro debate e novas pesquisas
Na quinta-feira, a partir das 22 horas, ocorre, na TV Bandeirantes o primeiro debate presidencial em cadeia nacional. As pesquisas eleitorais que devem ser divulgadas nos próximos dias (Sensus e Ibope, pelo menos) tornaram-se um pesadelo para a campanha de Serra. Caso se confirme a manutenção da tendência apontada pelo Doxa, a vantagem de Dilma pode chegar perto da casa dos 8 pontos, o que faria aumentar ainda mais a debandanda direta ou disfarçada nas hostes serristas Brasil afora. É um fato bem conhecido das campanhas eleitorais. Quanto mais a data da eleição se aproxima, maior a tendência de os candidatos preocuparem-se, sobretudo, com a sua própria eleição.

Percepção de melhoria da economia beneficia Dilma
Os problemas de Serra não terminam por aí. A pesquisa Ibope de 31 de julho mostra ainda, conforme destaca matéria do jornal O Estado de São Paulo, uma correlação direta entre o desempenho de Dilma Rousseff e a percepção dos eleitores de que houve melhora nas oportunidades de emprego e no poder de compra da população nos últimos dois anos. Segundo o Ibope, sete em cada dez eleitores consideram que seu poder de compra melhorou desde 2008. Neste segmento da população, Dilma tem 47% das intenções de voto, uma vantagem de 17 pontos em relação a Serra. Em relação ao emprego, 57% dos eleitores ouvidos pelo Ibope disseram que as oportunidades melhoraram “um pouco” ou “muito”. Neste segmento, Dilma tem 47% e Serra apenas 28%.

Essa percepção, afirma a mesma matéria, ajudaria a explicar o fato de Serra ter seu melhor desempenho no Sul do país. Nesta região, a percepção de melhora das condições de vida atinge 58% do eleitorado, contra 75% no Nordeste. “Dada as diferenças de perfil econômico, Nordeste e Sul sofreram impactos distintos de políticas públicas do governo, como a valorização do salário mínimo e a ampliação de programas sociais”, conclui a matéria.



Fotos: Carta Capital

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