O primeiro presidente negro eleito pelos Estados Unidos, Barack Obama estará no Rio de Janeiro no próximo domingo. Quando vi a informação em algum site de notícias, me chamou a atenção o fato do discurso, que acontecerá na Cinelândia, ser gratuito e aberto ao público. Fui tomada por uma sensação de incômodo que não soube explicar aos meus colegas. O incômodo não vem do fato da visita de Obama ao Brasil. Nem do discurso gratuito e aberto ao público. Longe disso.
Lá pelos idos de 2008, lembro-me de me emocionar com a eleição do cara. Caminhando pelo Maracanã, bairro onde moro, vi um morador de rua gritando que, finalmente, tínhamos conseguido nossa liberdade (sic). Achei graça. Mas a sensação, talvez fosse essa mesmo para a gente, que ainda tem uma gota de indignação dos anos de W.Bush, que não foram anos bons. Imagine para mim, natural de Governador Valadares?
Para quem não sabe ou não se lembra, a cidade é estigmatiza por exportar seus filhos - são mais de 30 mil, dizem as pesquisas – para aquela terra em busca de oportunidade. Cresci vendo tios, tias, vizinhos, amigos deixando a calmaria da cidade em busca do “eldorado”, em tempos que uma moeda fraca acabava fazendo com que essas pessoas melhorassem de vida, mesmo ocupando subempregos e vivendo a duras penas naquele país frio.
Este texto não tem a finalidade de expressar aquela postura de demonizar os norte-americanos. Isso é tão datado. Não significa que eu também não tenha ressalvas em relação à política daquele país. Aos muros erguidos nas fronteiras. Ao preconceito em relação a negros, homossexuais, latinos que ainda teimam direcionar as ações daquela nação. Às guerras sem propósitos. Ao boicote ao Wikileaks. Às sanções econômicas que há anos vem sufocando Cuba. As ressalvas são muitas.
Não sou tola e entendo a importância de um líder da expressão de Obama no Brasil. Mas eu, que vivi tempos de “batermos pinico” para oTio Sam, entendo que a nossa postura como brasileiros deva ser outra. É lindo Obama discursar na Cinelândia. Lá foi palco, como frisou Paulo Henrique Amorim, da vitória de Leonel Brizola e que também recebeu Lula e Dilma (eu estava nesse dia).
Os tempos são outros. Eu cresci, ganhei senso crítico. E o Brasil também. Cresceu e amadureceu como nação e hoje trata de igual para igual com TODAS AS NAÇÕES DO MUNDO. Os Estados Unidos estão entre elas.
Vi o Brasil dizer não à ALCA e a discutir questões pertinentes à nossa economia na Organização Mundial do Comércio. Vi o Brasil mediar conflitos e ampliar a relação com outros países. Sobretudo, entendi a nossa postura como liderança na América Latina. Méritos dos 8 anos de trabalho do nosso querido operário presidente, Luís Inácio Lula da Silva, que mostrou que “yes, we can!!!”
Eu não estou indignada com a presença de Obama aqui, porque o Brasil já se provou múltiplo nas suas relações. Fomos concebidos entre as diferenças e, por isso, mesmo que não da melhor maneira possível, conseguimos entendê-las. Esse bom mocismo yankee, que vai sortear camisas, livros e, pasmem, um Iphone e um Ipad aos brasileiros que melhor saudarem o presidente norte-americano é que me incomoda, (veja aqui - acréscimo deste ContextoLivre) . Houve um tempo que os colonizadores nos davam espelhos de presente.
O Obama que vem aqui não é o homem que comoveu o morador de rua lá do Maracanã. Nem aquele que prometeu tirar as tropas do Iraque e universalizar o sistema de saúde daquele país. É um presidente cuja nação está maculada pela maior crise econômica da história e que vem perdendo espaço e prestígio, embora ainda seja a maior economia do mundo. E o Brasil também não é o mesmo. Sua presença tem sido noticiada com confetes e serpentinas que são de direito ao primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América pelas nossas competentes corporações midiáticas.
Agora, por favor, um pouco mais de respeito com o meu povo. Vamos recebê-lo bem, porque assim reza a diplomacia e também porque receber bem é quase uma digital do brasileiro. Não precisamos de brindes, sovenir ou regalos
Nós estamos no controle. Então, por favor, nada de resquícios imperialistas. Mister Presidente, we can buy an Iphone and Ipad. Isso é reflexo de uma economia estabilizada, do crescimento do nosso poder aquisitivo. Nos trate com mais respeito. Há 8 anos deixamos de ser cidadãos de segunda classe. Nós temos autoestima e uma presidenta que nos representa. Entendemos nosso papel no mundo e estamos prontos para assumi-lo, começando com uma cadeira fixa no Conselho de Segurança da ONU.
Cássia Ferreira Andrade é jornalista e valadarense.
By: MobilizaçãoBR
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários sujeitos a moderação.