Sarney, o presidente.
Os Planos Cruzado I, Cruzado II, Bresser e Verão não tinham conseguido resolver o problema da inflação.
Dois anos antes, o Ministro Funaro tinha decretado a moratória da divida externa, porque o Brasil não tinha um centavo de dólar em caixa.
A campanha presidencial estava nas ruas, e o Dr. Roberto Marinho ainda não sabia se apoiava Mario Covas, Orestes Quércia ou Guilherme Afif Domingues (iluminadamente assessorado por Paulo Guedes, hoje "colonista" do Globo).
Qualquer um, desde que não fossem o Lula ou o Brizola.
A Veja e a Globo ainda não tinham feito de Collor o Salvador da Pátria, “O caçador de marajás”.
Por aí se vê que a situação era confusa.
Tão confusa que, mais tarde, o Fernando Henrique só não foi Chanceler do Collor porque o Covas não deixou.
Em fevereiro de 1989, este ansioso blogueiro era editor de Economia na Rede Globo e tinha a mania de guardar papel.
E o Senador lhe enviou o programa “Os desafios do Brasil e do PSDB, documento elaborado pela Comissão Diretora Nacional Provisória para discussão nas bases partidárias”.
O bilhete anexo dizia:
“Paulo Henrique,
Receba aí o parto da montanha. Deu trabalho alinhavar. O difícil, como você sabe, não é fazer programas (somos nisso especialistas). O difícil é ter votos … Mas teremos. Um abraço Fernando Henrique”
Cinco anos depois, ele teve os votos e se elegeu Presidente.
O documento tem pontos interessantes.
Defende o parlamentarismo.
Os tucanos e o Cerra principalmente defendem o parlamentarismo sempre que estão FORA do poder.
(O documento não defende o “voto distrital”, um dos pontos cardeais dos tucanos de hoje – clique aqui para ler o que diz Henrique Fontana, relator o projeto de reforma política e defensor do voto proporcional misto.)
O documento joga pesado na “dívida externa” – o PSDB vai pagar a dívida sem inviabilizar o desenvolvimento do país.
E, se preciso for, tomará medidas unilaterais para proteger o país.
Seria uma nova moratória?
Ou o PSDB jogava para a plateia?
Não foi o que fez o Presidente Fernando Henrique, que, por três vezes, bateu às portas do FMI.
No capítulo “resgate da dívida social”, não há qualquer menção ou defesa de um programa sequer parecido com Bolsa Escola ou Bolsa Família, sobre os quais os tucanos invocam a paternidade.
Ao contrário.
O documento critíca os “populistas” (clique aqui para ler sobre “populismo” e Jango em “Ferreira revisita Jango e Gaspari leva um tiro no peito”).
Não aceita qualquer tipo de “compensação social”, mas “justiça social”, que “requer discernimento, continuidade, investimentos, progresso técnico e, obviamente, fortes pressões redistributivas”.
Ou seja, trololó.
Ainda na “política de redistribuição de rendas”, o documento avisa que “o sistema tributário será progressivo”.
Não foi.
O Governo do PSDB não aumentou o imposto dos ricos ou diminuiu o dos pobres.
Foi, aí, outra peripécia dirigida à plateia.
E a privatização.
A privatização sempre foi centro do programa, a sua razão de ser.
“Onde for correto privatizar, o PSDB privatizará.”
“O critério fundamental para essas decisões há de ser a subordinação ao interesse nacional e desse ao interesse popular”.
E, nessa linha de obediente subordinação, ele e o Cerra venderam a Light e seus bueiros com um sorriso nos lábios.
A Vale – está neste vídeo histórico.
A telefonia ao passador de bola, com aquela advertência inesquecível – “se isso der m… “.
Quase venderam o Banco do Brasil e a Caixa (como atesta esse documento do Ministério da Fazenda de seu Governo).
Abriram uma brecha na política de exploração de petróleo e começaram a desmanchar a Petrobras, para transformá-la na Petrobrax.
É o que fariam os tucanos, com a ajuda da Chevron – veja a prova no documento do WikiLeaks que trata da conversa com a Chevron, em plena campanha presidencial –, tivesse o Padim Pade Cerra sido eleito em 2002 ou em 2010.
Amigo navegante, que sorte a da Dilma, hein?
Pelo jeito, este é o mesmo PSDB que vai para a eleição de 2014.
Com o programa de fevereiro de 1889.
Desculpe, revisor: 1989.Paulo Henrique Amorim
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