A expressão 'contração fiscal expansionista' sugere um simples oxímoro, mas representa mais que uma contradição vocabular quando se sabe que abriga a viga mestra da proposta conservadora para a crise mundial. Pulsa nesse paradoxo, ademais, uma visão de desenvolvimento recorrente em terras brasileiras, baseada na hipótese de que um bom arrocho nas despesas públicas e nas políticas sociais é pré-condição para se 'liberar' espaço à queda dos juros e, ato contínuo, festejar o 'crescimento saudável' capitaneado pelo setor privado. O tacão de Angela Merkel sobre os parceiros do euro; a decadência inglesa sob Cameron; a pobre Espanha com 48,5% da juventude desempregada; Portugal do extremismo conservador que flertou com a volta da mais valia absoluta e a sofrida Grécia das crianças que desmaiam de fome em sala de aula, sem esquecer o embate orçamentário nos EUA, são protagonistas da gigantesca massa de interesses e sacrifícios em ebulição no interior desse inocente jogo de palavras. No fundo, estamos novamente às voltas com o bordão do Estado mínimo adaptado às condições da maior crise do capitalismo desde 1929. Não há nada de acadêmico nisso. A resiliência de um marco divisor que esfarela direitos e cospe desemprego planeta afora, em troca de uma improvável redenção purgativa da economia, é a evidência mais óbvia de que o colapso neoliberal ainda não produziu um antídoto ancorado em forças sociais aptas a inaugurar um novo ciclo histórico. É desse horizonte escuro e inóspito que irrompem sinais bruxelantes de uma 'recuperação' trombeteada pela mídia, na qual bancos e grandes corporações emergem leves, líquidos e lucrativos. Mas a renda, a qualidade do emprego, os direitos e a subjetividade despencam na maioria das nações. Bancos e grandes corporações acumulam cerca de US$ 13 trilhões em caixa no mundo rico. Mas não emprestam, não investem, nem contratam. Coube ao Presidente do Santander, Emilio Botín, elucidar esse desencontro com uma explicação que desmente o suposto poder regenerador do oxímoro ortodoxo: " O crédito não flui e não emprestamos mais porque não há demanda solvente na sociedade", justificou Don Botín na 3ª feira, em Madrid. Em resumo, a 'contração' vai bem, já a contrapartida expansionista patina --justamente porque a contração vai bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários sujeitos a moderação.