Grupo de economistas brasileiros e estrangeiros participa de projeto coordenado pelo professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, da Fundação Getúlio Vargas. Novo encontro realizado em São Paulo discute as marcas que serão deixadas pela crise global, o que as turbulências do passado ensinam sobre o futuro, e quais relações há entre instabilidade financeira, câmbio e desisdustrialização no Brasil
Marcel Gomes
São Paulo - Diante de uma crise financeira gestada pela desregulamentação neoliberal, que idéias podem oferecer os economistas heterodoxos aos países que sofrem com instabilidade cambial, desemprego, estagnação e desindustrialização?
A busca por respostas a essa questão é o principal objetivo da nova etapa de um ciclo de seminários que reúne economistas, brasileiros e estrangeiros, nesta quinta e sexta-feira na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo.
A coordenação dos trabalhos é feita por Luiz Carlos Bresser-Pereira, há anos um crítico da ortodoxia neoliberal e que propõe um novo desenvolvimentismo para o Brasil.
Segundo o economista, coordenador do Centro de Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento da FGV, essa nova etapa desenvolvimentista não deve mais estar baseada na substituição das importações, como ocorreu no início da segunda metade do século XX.
A estratégia de agora seriam taxas moderadas de juros, equilíbrio nas contas externas, abertura comercial com política industrial e crescimento baseado na poupança interna - este último ponto de fundamental diferença em relação à ortodoxia neoliberal, que prega expansão econômica através de poupança externa.
No primeiro encontro já realizado pelos pesquisadores, dez reflexões foram apresentadas sobre o conceito de novo desenvolvimentismo. No segundo, o objetivo era a análise do papel da governança e da regulação financeira para a promoção de uma taxa de câmbio competitiva no Brasil. O terceiro seminário, que acontece agora, concentra-se em três metas.
Primeiro, quais efeitos perenes deixará a crise financeira internacional nas economias global e da América Latina; segundo, o que as crises financeiras do passado vividas pelos latino-americanos ensinam sobre o futuro; terceiro, quais relações existem entre instabilidade financeira, taxa de câmbio e desisdustrialização no Brasil.
Toda a complexidade desse debate teórico já pode ser conhecida em artigos escritos pelos economistas, e que podem ser acessados na página do projeto na internet.
Debates do dia
O economista norte-americano Thomas Palley, que assessorou a central sindical AFL-CIO e hoje conduz em Washington o projeto Economia para Sociedades Democráticas e Abertas, defendeu nesta quinta-feira que a crise global tem sido potencializada por uma falha na "arquitetura do euro".
O problema, segundo ele, estaria na inexistência de uma coordenação européia das finanças do bloco, que relega a cada um dos países boa parte da gestão de suas políticas monetárias e fiscais.
Diante da crise de confiança nos títulos da dívida nacionais, o Banco Central Europeu (BCE) pouco pode fazer. Por isso, Palley devende a criação de uma Autoridade para as Finanças Públicas Européias, que atuaria junto ao BCE na governança bancária do bloco.
Isso seria possível, entre outros pontos, através do impulso a um mercado de títulos públicos europeus, "nos quais não haveria traço da nacionalidade dos países". O BCE atuaria comprando e vendendo esses país, de modo a garantir confiança e liquidez.
Palley criticou medidas contracionistas adotadas pelos países europeus para combater a crise. "Essa esquizofrenia dos policymakers europeus, de combater a crise com austeridade, apenas gera mais turbulências", diz ele. Isso ocorreria por uma razão elementar: com a economia mais fraca, a receita do governo cai, ampliando o déficit.
Concordando com Palley sobre os problemas de governança financeira, sobretudo quanto ao excesso de risco assumido pelo setor bancário, o economista Randall Wray, da Universidade Missouri-Kansas City, alertou que a ajuda financeira dada pelo Tesouro dos Estados Unidos ao mercado financeiro não tem sido feita com nova pactuação sobre governança.
"O sistema continua guiado pelo curto prazo, e a ajuda financeira mantém, senão aumentou, os rendimentos dos altos executivos do setor bancário", afirma ele, nominando empresas como Goldman, Bank of America, Citigroup, and JPMorgan-Chase.
Diante disso, Wray defende que a ajuda esteja condicionada à supervisão plena da autoridade monetária no banco que receber os recursos, além de que empréstimos públicos sejam vinculados "às melhores garantias".
Wray e Palley foram apenas dois dos economistas que têm traçado novas rotas para as finanças globais. O grupo ao qual eles pertencem aposta no aprofundamento da produção teórica como forma de combate à ortodoxia - para eles, frágil na teoria e cada vez mais ineficiente na prática.
A busca por respostas a essa questão é o principal objetivo da nova etapa de um ciclo de seminários que reúne economistas, brasileiros e estrangeiros, nesta quinta e sexta-feira na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo.
A coordenação dos trabalhos é feita por Luiz Carlos Bresser-Pereira, há anos um crítico da ortodoxia neoliberal e que propõe um novo desenvolvimentismo para o Brasil.
Segundo o economista, coordenador do Centro de Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento da FGV, essa nova etapa desenvolvimentista não deve mais estar baseada na substituição das importações, como ocorreu no início da segunda metade do século XX.
A estratégia de agora seriam taxas moderadas de juros, equilíbrio nas contas externas, abertura comercial com política industrial e crescimento baseado na poupança interna - este último ponto de fundamental diferença em relação à ortodoxia neoliberal, que prega expansão econômica através de poupança externa.
No primeiro encontro já realizado pelos pesquisadores, dez reflexões foram apresentadas sobre o conceito de novo desenvolvimentismo. No segundo, o objetivo era a análise do papel da governança e da regulação financeira para a promoção de uma taxa de câmbio competitiva no Brasil. O terceiro seminário, que acontece agora, concentra-se em três metas.
Primeiro, quais efeitos perenes deixará a crise financeira internacional nas economias global e da América Latina; segundo, o que as crises financeiras do passado vividas pelos latino-americanos ensinam sobre o futuro; terceiro, quais relações existem entre instabilidade financeira, taxa de câmbio e desisdustrialização no Brasil.
Toda a complexidade desse debate teórico já pode ser conhecida em artigos escritos pelos economistas, e que podem ser acessados na página do projeto na internet.
Debates do dia
O economista norte-americano Thomas Palley, que assessorou a central sindical AFL-CIO e hoje conduz em Washington o projeto Economia para Sociedades Democráticas e Abertas, defendeu nesta quinta-feira que a crise global tem sido potencializada por uma falha na "arquitetura do euro".
O problema, segundo ele, estaria na inexistência de uma coordenação européia das finanças do bloco, que relega a cada um dos países boa parte da gestão de suas políticas monetárias e fiscais.
Diante da crise de confiança nos títulos da dívida nacionais, o Banco Central Europeu (BCE) pouco pode fazer. Por isso, Palley devende a criação de uma Autoridade para as Finanças Públicas Européias, que atuaria junto ao BCE na governança bancária do bloco.
Isso seria possível, entre outros pontos, através do impulso a um mercado de títulos públicos europeus, "nos quais não haveria traço da nacionalidade dos países". O BCE atuaria comprando e vendendo esses país, de modo a garantir confiança e liquidez.
Palley criticou medidas contracionistas adotadas pelos países europeus para combater a crise. "Essa esquizofrenia dos policymakers europeus, de combater a crise com austeridade, apenas gera mais turbulências", diz ele. Isso ocorreria por uma razão elementar: com a economia mais fraca, a receita do governo cai, ampliando o déficit.
Concordando com Palley sobre os problemas de governança financeira, sobretudo quanto ao excesso de risco assumido pelo setor bancário, o economista Randall Wray, da Universidade Missouri-Kansas City, alertou que a ajuda financeira dada pelo Tesouro dos Estados Unidos ao mercado financeiro não tem sido feita com nova pactuação sobre governança.
"O sistema continua guiado pelo curto prazo, e a ajuda financeira mantém, senão aumentou, os rendimentos dos altos executivos do setor bancário", afirma ele, nominando empresas como Goldman, Bank of America, Citigroup, and JPMorgan-Chase.
Diante disso, Wray defende que a ajuda esteja condicionada à supervisão plena da autoridade monetária no banco que receber os recursos, além de que empréstimos públicos sejam vinculados "às melhores garantias".
Wray e Palley foram apenas dois dos economistas que têm traçado novas rotas para as finanças globais. O grupo ao qual eles pertencem aposta no aprofundamento da produção teórica como forma de combate à ortodoxia - para eles, frágil na teoria e cada vez mais ineficiente na prática.
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