Na escalada da imprensa contra a presidente Dilma, agora é a revista Época, de João Roberto Marinho, que propõe o seu silêncio; "a presidente Dilma se comporta como se soubesse tudo", afirma o editorial da publicação, que a compara com Lula e diz que o antecessor se saiu melhor; também neste domingo, o Estadão questiona a capacidade cognitiva de Dilma
247 - Aos poucos, os veículos da mídia tradicional explicitam sua guerra à presidente Dilma Rousseff. Na semana passada, as capas de Veja e Época, dedicadas à chamada "crise do tomate", foram um marco importante. Neste domingo, num editorial raivoso, o jornal Estado de S. Paulo, que enfrenta grave crise financeira, questionou a capacidade cognitiva da presidente Dilma Rousseff.
Mas, neste fim de semana, o fato mais importante é o editorial da revista Época, de João Roberto Marinho, dado o peso das Organizações Globo na mídia brasileira. O texto "Menos palavrório, Dilma", que abre a edição da semanal, é praticamente um "Cala a boca, Dilma", na linha dos personagens Caco Antibes e Magda.
Segundo o texto, "ao transformar a taxa de juros numa bandeira política, a presidente mina a credibilidade do BC". Já é sabido que, por razões políticas e econômicas, a Globo trabalha para que o Brasil chegue em 2014 com inflação alta, crescimento baixo e os juros mais altos possíveis. Mas o editorial desta semana explicita a guerra. Eis um trecho:
"A presidente Dilma se comporta como se soubesse tudo. Na questão dos juros, ela deveria conter seus arroubos voluntaristas. Toda vez que ela fala sobre o assunto, mina a credibilidade do BC em seu papel de condutor das expectativas de inflação. O ideal seria que o BC, à semelhança de seus similares nas nações desenvolvidas, tivesse, assegurada em lei, independência para exercer seu papel de guardião da moeda. Como o Brasil não amadureceu a esse ponto, o melhor seria que Dilma se mirasse no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula, na prática, deu autonomia ao então presidente do BC, Henrique Meirelles, para tomar as medidas necessárias para controlar a inflação. Os resultados de Lula foram, em todos os indicadores, muito superiores aos obtidos por Dilma até aqui".
ESTADÃO PARTE PARA A AGRESSÃO A DILMA
Jornal conduzido por Francisco Mesquita Neto, praticamente, questiona a capacidade cognitiva da presidente; num editorial rasteiro, fala de sua dificuldade de "concatenar ideias", do seu "despreparo", de "atentado à lógica" e de uma suposta "impulsividade destrambelhada"; jornal oferece ainda "um tomate" a quem entender o que a presidente fala
247 - Em crise aguda, o jornal Estado de S. Paulo estreia nesta segunda-feira um novo projeto gráfico, reflexo de mudanças editoriais, que resultaram na demissão de dezenas de profissionais e no enxugamento dos cadernos. A crise, no entanto, não parece ser apenas financeira, mas também de ideias. Num editorial publicado neste domingo, o jornal da família Mesquita parte para a agressão contra a presidente Dilma Rousseff, em que praticamente questiona a sua capacidade cognitiva. Leia abaixo:
Já se tornou proverbial a dificuldade que a presidente Dilma Rousseff tem de concatenar ideias, vírgulas e concordâncias quando discursa de improviso. No entanto, diante da paralisia do Brasil e da desastrada condução da política econômica, o que antes causaria somente riso e seria perdoável agora começa a preocupar. O despreparo da presidente da República, que se manifesta com frases estabanadas e raciocínio tortuoso, indica tempos muito difíceis pela frente, pois é principalmente dela que se esperam a inteligência e a habilidade para enfrentar o atual momento do País.
No mais recente atentado à lógica, à história e à língua pátria, ocorrido no último dia 16/4, Dilma comentava o que seu governo pretende fazer em relação à inflação e, lá pelas tantas, disparou: "E eu quero adentrar pela questão da inflação e dizer a vocês que a inflação foi uma conquista desses dez últimos anos do governo do presidente Lula e do meu governo". Na ânsia de, mais uma vez, assumir para si e para seu chefe, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, os méritos por algo que não lhes diz respeito, Dilma, primeiro, cometeu ato falho e, depois, colocou na conta das "conquistas" do PT o controle da inflação, como se o PT não tivesse boicotado o Plano Real, este sim, responsável por acabar com a chaga da inflação no Brasil. Em 1994, quando disputava a Presidência contra Fernando Henrique Cardoso, Lula chegou a dizer que o Plano Real era um "estelionato eleitoral".
Deixando de lado a evidente má-fé da frase, deve-se atribuir a ato falho a afirmação de que a inflação é "uma conquista", pois é evidente que ela
queria dizer que a conquista é o controle da inflação. Mas é justamente aí que está o problema todo: se a presidente não consegue se expressar com um mínimo de clareza em relação a um assunto tão importante, se ela é capaz de cometer deslizes tão primários, se ela quer dizer algo expressando seu exato oposto, como esperar que tenha capacidade para conduzir o governo de modo a debelar a escalada dos preços e a fazer o País voltar a crescer? Se o distinto público não consegue entender o que Dilma fala, como acreditar que seus muitos ministros consigam?
A impulsividade destrambelhada de Dilma já causou estragos reais. Em março, durante encontro dos Brics em Durban (África do Sul), a presidente disse aos jornalistas que não usaria juros para combater a inflação, sinalizando uma opção preferencial pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), Em sua linguagem peculiar a tala foi a seguinte: "Eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico. (...) Então, eu acredito o seguinte: esse receituário que quer matar o doente, ao invés de curar a doença, ele é complicado. Eu vou acabar com o crescimento no país? Isso está datado, isso eu acho que é uma política superada". Imediatamente, a declaração causou nervosismo nos mercados em relação aos juros futuros, o que obrigou Dilma a tentar negar que havia dito o que disse. E ela, claro, acusou os jornalistas de terem cometido uma "manipulação inadmissível" de suas declarações, que apontavam evidente tolerância com a inflação alta - para não falar da invasão da área exclusiva do Banco Central.
O fato é que o governo parece perdido sobre como atacar a alta dos preços e manter a estabilidade a duras penas conquistada, principalmente com um Banco Centra submisso à presidente. Por razões puramente eleitorais, Dilma não deverá fazer o que dela se espera, isto é, adotar medidas amargas para conter a escalada inflacionária. Lançada candidata à reeleição por Lula, ela já está em campanha.
Num desses discursos de palanque, em Belo Horizonte, Dilma disse, em dilmês castiço, que a inflação já está sob controle, embora todos saibam que não está. "A inflação, quando olho para a frente, ela está em queda, apesar do índice anualizado do ano (sic) ainda estar acima do que nós queremos alcançar, do que nós queremos de ideal", afirmou. E completou: "Os alimentos também começaram a registrar, mesmo com todas as tentativas de transformar os alimentos no tomate (sic), os alimentos começaram uma tendência a reduzir de preço". Ganha um tomate quem conseguir entender essa frase.
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