Há dificuldades, mas nada que justifique uma capa alarmista como a da revista Exame, publicação de negócios da Editora Abril, que acaba de chegar às bancas. A capa questiona "como salvar o mandato de Dilma", como se a presidente já tivesse se transformado numa espécie de "pato manco" da política.
A reportagem, assinada pelos repórteres Humberto Maia e Patrick Cruz, adota um tom extremamente negativo, ancorada em declarações em off – de personagens "anonymous". Um banqueiro não identificado, por exemplo, diz que até recentemente o Brasil era comprado por todos. Hoje, seria difícil vendê-lo (muito embora os investimentos estrangeiros diretos sejam próximos a US$ 60 bilhões). Outras fontes em off questionam o suposto intervencionismo do governo e ironizam programas como o "Minha Casa Melhor", que estaria sendo apelidado de "Minha Geladeira, Minha Vida".
Quem surge em on, para dar declarações, é o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados. Coincidentemente, ex-secretário de Política Econômica no governo FHC e também pai do jornalista André Lahoz, diretor de redação de Exame. "O governo tem sido marcado por baixo investimento, frustração e má gestão", diz Mendonça de Barros.
Na reportagem, Exame sugere uma série de medidas que poderiam salvar o governo Dilma. Eis algumas delas: pacote fiscal, alta expressiva dos juros para resgatar a credibilidade do Banco Central, arrocho nos salários e restrição à atuação da Petrobras nos leilões do pré-sal. Ao menos, Exame reconhece que é baixa a probalidade de que Dilma adote tais medidas.
Pretensiosa a ponto de recomendar caminhos para salvar um governo popular, a Abril exerce pouco a autocrítica. É público e notório que a editora vive hoje um de seus piores momentos e está prestes a decidir sobre o fechamento de vários títulos – o que inclui ícones como a revista Playboy. Comandada por Fábio Barbosa e pelos herdeiros de Roberto Civita, a editora enfrenta um déficit de confiança, receita publicitária em queda e perda de assinantes – o que deflagrou o início de um doloroso processo de demissões em todas as revistas.
Da próxima vez, Exame poderia questionar em sua capa como salvar a própria Abril.
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