Segundo colunista da Folha, frase "nós dois somos possibilidades e sabemos disso", emitida pela ex-ministra em entrevista é clara e objetiva admissão de candidatura própria
247 – Colunista da Folha, Janio de Freitas diz que entrevista de Marina Silva sobre possibilidade de ser candidata em 2014 é uma faca nas costas de Eduardo Campos. Leia:
O não dito pelo dito
A frase 'nós dois somos possibilidades', emitida por Marina, atinge Eduardo Campos pelas costas
A frase "nós dois somos possibilidades e sabemos disso", emitida por Marina Silva, é a precipitação talvez involuntária, mas certamente sincera e sem dúvida verdadeira, de um desmentido que atinge Eduardo Campos e sua candidatura pelas costas.
É clara e objetiva a admissão de candidatura própria na frase de Marina Silva, recolhida por Ranier Bragon e Matheus Leitão (Folha de ontem). Frase que não ficou contida por mais do que umas 24 horas após a revelação, pelo intermediário da entrada de Marina Silva no PSB, de que Eduardo Campos recebeu com resistência a proposta de adesão, preocupado em salvaguardar sua candidatura. Argumentou que não poderia retirá-la, e perguntou: "Vou ser constrangido?" [a retirá-la].
Resposta contada aos mesmos repórteres pelo próprio interlocutor de Eduardo Campos, deputado Walter Feldman: "Eu disse: A Marina pretende te apoiar, você não será constrangido a retirar sua candidatura, queremos uma aliança programática. Estamos no seu projeto".
Em texto dos dois entrevistadores: "Segundo relato do deputado, ele disse ao governador que Marina não tinha essa intenção [JF: de ser a candidata à Presidência] e que pretendia (mesmo com 26% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha) apoiar o pessebista, com apenas 8%".
Ainda na relato de Feldman, Eduardo Campos relutou ante a sugestão de um encontro com Marina Silva, temeroso de desgaste se a conversa fracassasse. Por fim concordou, foi encontrá-la em Brasília, e nenhuma candidatura esteve sob condição.
Mas está. Desde já. Ou, quem sabe, desde antes. Eis o trecho todo nas palavras de Marina Silva:
"Para nós, não interessa agora ficar discutindo as posições. Nós dois somos possibilidades e sabemos disso. Que possibilidade seremos, o processo irá dizer e estamos abertos a esse processo".
Bem nítido: "Não interessa [discutir] AGORA", o mesmo que dizer da expectativa já existente de discutir a questão adiante. Quando? Não será Eduardo Campos a ter a palavra a respeito. Nem será o PSB que a decidir. "O processo irá dizer." E, mais do que falar por si, Marina se permite falar pelo próprio Campos: "ESTAMOS abertos a esse processo".
O oposto do assegurado a Eduardo Campos, como relatado por seu interlocutor, intermediário de Marina Silva e testemunha do encontro, Walter Feldman, que deixou o PSDB para acompanhar sua líder no projeto via PSB.
A situação de Eduardo Campos não deixa de ter graça. Ele começa a mostrar-se a verdadeira Dilma Rousseff imaginada nas tantas loas à jogada "brilhante e inovadora" de Marina Silva ao incorporar-se à candidatura do PSB, contra a da presidente à reeleição. Ao menos desde ontem pela manhã, quando publicada a entrevista de sua nova associada, Eduardo Campos só pode ser um exemplo de apreensão. Mas sorridente, muito sorridente. Obrigado a sorrir, a repetir-se feliz com o acordo e, claro, absolutamente confiante no apoio de Marina. E, quanto mais se mostre assim, mais será o contrário.
Até por uma possível dor nas costas.
Caiado, traído e abandonado por Campos, abre o verbo
Sensacional a entrevista de Natuza Nery e Márcio Falcão com o “ruralista histórico” Ronaldo Caiado, ex-quase-futuro Ministro de Eduardo Campos.
Caiado, que está se sentindo traído e abandonado por toda a parte – leia aqui como ele diz que os médicos, ao aceitarem um acordo para que os colegas estrangeiros possam trabalhar, também o apunhalaram – abriu o bico e entregou o assédio de Eduardo Campos, que agora o nega.
De manhã, na CBN, Caiado disse mais: que Eduardo Campos “não teve sequer a hombridade” de dizer que seu apoio seria descartado por ordem de Marina Silva.
Leia a entrevista e veja como – eu disse antes – como a marca de Caim está ficando cada vez mais impressa na testa da tal “nova política”…
Caiado diz que foi atropelado por aliança Marina-Campos
Natuza Nery e Márcio Falcão
Folha – O sr. foi rifado?
Ronaldo Caiado - Eduardo Campos me recebeu em Pernambuco, em sua residência. Assumi, em março, a candidatura dele à Presidência. Fui o único do meu partido, um dos poucos do Brasil [naquele momento]. Ele disse que iríamos sair do duelo [governo/oposição], dessa política de identificar inimigo para ser eleito e prometeu trazer todas as tendências.
Ronaldo Caiado - Eduardo Campos me recebeu em Pernambuco, em sua residência. Assumi, em março, a candidatura dele à Presidência. Fui o único do meu partido, um dos poucos do Brasil [naquele momento]. Ele disse que iríamos sair do duelo [governo/oposição], dessa política de identificar inimigo para ser eleito e prometeu trazer todas as tendências.
Está magoado?
Decepcionado, um balde de água fria. Não temos mais como estar juntos em Goiás. Não vou ter o pé em duas canoas. Quando conversei com Eduardo, não havia esse preconceito. Não imaginei esse gesto agressivo da ex-senadora. Essa tese de inimigo histórico é política talibã.
Decepcionado, um balde de água fria. Não temos mais como estar juntos em Goiás. Não vou ter o pé em duas canoas. Quando conversei com Eduardo, não havia esse preconceito. Não imaginei esse gesto agressivo da ex-senadora. Essa tese de inimigo histórico é política talibã.
Haverá consequências?
É espantoso alguém querer pleitear a Presidência e ter essa visão tão excludente do setor, nacionalmente o maior pilar da economia. Como vou conviver com uma chapa de candidato a presidente que é preconceituosa com o setor primário [agronegócio]? Eu sempre fui muito coerente, mas nunca intolerante. Hoje, não sei identificar se o candidato é Eduardo ou Marina.
É espantoso alguém querer pleitear a Presidência e ter essa visão tão excludente do setor, nacionalmente o maior pilar da economia. Como vou conviver com uma chapa de candidato a presidente que é preconceituosa com o setor primário [agronegócio]? Eu sempre fui muito coerente, mas nunca intolerante. Hoje, não sei identificar se o candidato é Eduardo ou Marina.
O sr. ainda votaria nele para presidente?
[Silêncio] Não. Dispensou meu voto e está excluindo o setor que represento. Não tenho como me posicionar favorável a candidato que diz: ‘Olha, existe aqui uma barreira para o produtor rural’. Senti nele uma posição tíbia. Não o reconheço. Não foi a Marina quem aderiu ao Eduardo, foi ele quem aderiu à Marina.
[Silêncio] Não. Dispensou meu voto e está excluindo o setor que represento. Não tenho como me posicionar favorável a candidato que diz: ‘Olha, existe aqui uma barreira para o produtor rural’. Senti nele uma posição tíbia. Não o reconheço. Não foi a Marina quem aderiu ao Eduardo, foi ele quem aderiu à Marina.
O sr. carrega o símbolo ruralista, mas não é exagero dizer que isso foi um veto ao setor?
Não consigo entender uma pessoa querer governar o Brasil e não querer conversar com representantes de um segmento que é alicerce do país. Eles poderiam, ao menos, ter me avisado que eu fui vendido.
Não consigo entender uma pessoa querer governar o Brasil e não querer conversar com representantes de um segmento que é alicerce do país. Eles poderiam, ao menos, ter me avisado que eu fui vendido.
Vendido ou trocado?
Isso me faz lembrar do Afonsinho, jogador de futebol. Ele foi substituir Gerson numa partida no Maracanã. Entra em campo, começa com tudo. Vem o lateral, dá uma trava nele e diz: ‘Ô, seu babaca, você não sabe que esse jogo foi vendido, não?’. Podiam ao menos ter me dito que eu tinha sido vendido na noite de sábado. Eu fui atrás da bola, busquei apoio para ele, fiz campanha naquela euforia toda e, de repente, levo o tranco. Deviam ter me dito: Caiado, acorda, você já foi vendido! Faltou sinceridade.
Isso me faz lembrar do Afonsinho, jogador de futebol. Ele foi substituir Gerson numa partida no Maracanã. Entra em campo, começa com tudo. Vem o lateral, dá uma trava nele e diz: ‘Ô, seu babaca, você não sabe que esse jogo foi vendido, não?’. Podiam ao menos ter me dito que eu tinha sido vendido na noite de sábado. Eu fui atrás da bola, busquei apoio para ele, fiz campanha naquela euforia toda e, de repente, levo o tranco. Deviam ter me dito: Caiado, acorda, você já foi vendido! Faltou sinceridade.
O sr. colocou algum veto à Marina no sábado?
Eles telefonaram para mim eufóricos de alegria. Eu disse que não tinha preconceito.
Eles telefonaram para mim eufóricos de alegria. Eu disse que não tinha preconceito.
E depois, o que houve?
Não sei se foi uma virose, uma bactéria [risos]. Sábado me ligaram até para dizer que o governador futuramente me queria ministro da Agricultura. Veja, eu não estou desenhando algo que não quis ver, não. Eu botei o pé na calçada, e um carro a 300 Km/h me atropela. Não deu nem para ver [a placa].
Não sei se foi uma virose, uma bactéria [risos]. Sábado me ligaram até para dizer que o governador futuramente me queria ministro da Agricultura. Veja, eu não estou desenhando algo que não quis ver, não. Eu botei o pé na calçada, e um carro a 300 Km/h me atropela. Não deu nem para ver [a placa].
Por: Fernando Brito
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