Repare essas frases do advogado de Matarazzo, que está tentando uma proeza incrível, até mesmo para a tradição tucana de manter seus quadros indevassáveis e intocáveis: proibir que a Polícia Federal o investigue. Suas razões:
“O que me causa espanto é que vivemos um momento em que todo homem público tem que ser investigado. Um cidadão assume o governo e já se abre inquérito contra ele. O homem público está estigmatizado neste país.”
(…)
“O grande problema disso tudo é o desgaste político, fica sangrando.”
É o cúmulo do cinismo. Condena-se Dirceu sem absolutamente nenhuma prova. Já o trensalão tucano, há emails, contas, cartas, depoimentos, testemunhas, investigações na Suíça, documentos. E agora, o único político tucano que as autoridades tiveram coragem de investigar, e mesmo assim em inquérito “exclusivo”, vai tentar, junto ao Judiciário, proibir que seja investigado pela Polícia Federal.
E isso porque ele “fica sangrando”.
O PSDB nunca deixou abrir uma CPI em São Paulo pelas mesmas razões. Já o PT experimentou incontáveis CPIs, e seus quadros são condenados impiedosamente pela mídia mesmo que o crime seja tão grave quanto comprar uma tapioca.
Não sei porque, mas tenho a impressão que a mídia não vai dar um pio contra as chorumelas esfarrapadas de Matarazzo.
Acho que o PSDB poderia fazer logo um projeto de lei para instituir no Brasil, de maneira oficial, a inviolabilidade tucana. Eu ajudo no texto, que poderia ser algo assim: fica proibido, a partir desta data, criar CPIs que prejudiquem o PSDB; nenhum político do partido pode ser investigado; inquéritos eventualmente abertos contra crimes nos quais tucanos sejam suspeitos serão automaticamente fechados ou engavetados. Ficou bom?
Abaixo a notícia do Estadão sobre mais uma genial ideia tucana: barrar inquérito.
*
Matarazzo quer barrar inquérito da PF
Defesa de vereador tucano estuda entrar com habeas corpus contra nova investigação no caso Alstom
por Fausto Macedo, no Estadão.
por Fausto Macedo, no Estadão.
A defesa do vereador Andrea Matarazzo (PSDB) estuda ir à Justiça com pedido de habeas corpus para evitar a abertura de inquérito da Polícia Federal contra o tucano no âmbito do caso Alstom – suposto esquema de propinas a funcionários públicos da área de energia do Estado, entre 1998 e 2003, nos governos Mário Covas e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB.
A alegação central é de que a investigação – requerida pela Procuradoria da República e autorizada pela 6.ª Vara Criminal Federal em São Paulo – “não tem causa, nem objeto”.
O criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, que representa Matarazzo, destaca que “não há nada a temer”, mas faz um alerta. “O que me causa espanto é que vivemos um momento em que todo homem público tem que ser investigado. Um cidadão assume o governo e já se abre inquérito contra ele. O homem público está estigmatizado neste país.”
Matarazzo já foi investigado pela PF no inquérito Alstom. Ex-secretário de Energia de Covas, ex-ministro de Comunicação Social do governo Fernando Henrique Cardoso e ex-secretário de Cultura das gestões Alberto Goldman e Alckmin, o tucano foi indiciado por corrupção passiva, mas ele afirma que não conhece os lobistas, empresários e executivos que protagonizaram o escândalo.
“Não assinei o contrato e nenhum aditamento, todas as atas estão lá”, disse Matarazzo. “Fiquei apenas 7 meses no cargo de secretário, em 1998. A Eletropaulo estava em pleno processo de privatização. O grande problema disso tudo é o desgaste político, fica sangrando.”
Há três semanas, ao apresentar à Justiça denúncia criminal contra 12 investigados do caso Alstom, a Procuradoria excluiu Matarazzo porque reconheceu expressamente “inexistência de provas” contra ele.
No entanto, a Procuradoria requereu inquérito específico sobre o tucano alegando que ainda são aguardados documentos da Suíça em nível de cooperação jurídica internacional.
O advogado do vereador afirma que nenhum documento poderá comprometer Matarazzo. “Mas, suponha-se que mandem para o Brasil a prova de um crime. Aí sim o Ministério Público poderia requisitar inquérito policial ou aditar a denúncia já oferecida. O caminho natural é este, jamais abrir um inquérito sem fato a ser investigado.”
Para o criminalista Mariz de Oliveira, o novo inquérito representa “uma punição política, uma punição fora da lei”.
Para o criminalista Mariz de Oliveira, o novo inquérito representa “uma punição política, uma punição fora da lei”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários sujeitos a moderação.