Cotado para ser ministro da Fazenda num eventual governo Aécio Neves, o economista Armínio Fraga defendeu a proposta colocada pelo presidenciável tucano de adotar rapidamente, ainda no primeiro dia de mandato, o que chamou de "medidas impopulares"; "o custo de tomar as medidas porventura impopulares é muito menor do que o de não tomar", disse Armínio; "as pessoas têm de cair na real"; numa longa entrevista, ele defendeu um teto para o gasto público, a autonomia do Banco Central e disse ainda que o salário mínimo cresceu demais nos últimos anos
13 DE ABRIL DE 2014 ÀS 07:28
247 - Desde que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) defendeu, num encontro com empresários, a adoção de medidas impopulares, talvez já no primeiro dia de mandato, esse debate começou a crescer. A senadora Gleisi Hoffmann, por exemplo, cobrou dos oposicionistas que explicitem que medidas seriam essas (leia mais aqui). Neste domingo, em entrevista aos jornalistas Ricardo Grinbaum e Alexa Salomão, do Estado de S. Paulo (leia aqui a íntegra), o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, avançou no tema. "O custo de tomar as medidas porventura impopulares é muito menor do que o de não tomar", afirmou. "As pessoas têm de cair na real".
Armínio, que deve ser anunciado por Aécio como seu ministro da Fazenda, caso seja vitorioso nas eleições de outubro, tocou em vários pontos que, aos olhos de muitos, seriam impopulares. Eis alguns deles.
Salário mínimo
"É outro tema que precisa ser discutido. O salário mínimo cresceu muito ao longo dos anos. É uma questão de fazer conta. Mesmo as grandes lideranças sindicais reconhecem que, não apenas o salário mínimo, mas o salário em geral, precisa guardar alguma proporção com a produtividade, sob pena de, em algum momento, engessar o mercado de trabalho."
Gasto público
"O Brasil precisa, urgentemente, pensar numa reforma tributária que simplifique o sistema. Isso envolveria, essencialmente num primeiro momento, todo o aparato de tributação indireta. ICMS. IPI. Organizar e simplificar seria muito bom. Cabe mencionar que, ao meu ver, o crescimento da carga tributária precisa ser limitado. Para isso, volto um pouquinho ao lado macro - o Brasil precisa também adotar um limite para relação gasto público e PIB."
Privatizações
"Mas penso que todos os [setores] da infraestrutura se oferecem bem para esse caminho - o que o governo chama de concessões. É a mesma coisa. Eu não tenho medo de usar a palavra que acho correta. Mas praticamente todos da infraestrutura cabem em regimes de concessão, em parcerias público privadas, sem perda de controle do regramento que cabe ao Estado em vários desse setores."
Bancos públicos
"Mas o BNDES vem se agigantando, fazendo empréstimos a taxas muito baixas, sem, ao meu ver, uma análise do impacto social desses programas, até para que se possa decidir se vale a pena continuar ou não. Carece de transparência. Minha impressão é que vai ser preciso fazer essa análise - e o papel do BNDES, a médio prazo, será menor."
Autonomia do Banco Central
"Eu gosto de usar a nomenclatura "autonomia operacional". Ou seja: a definição das metas ficaria com o governo e, claro, deveriam ser metas de longo prazo para não ficarem expostas aos ventos do círculo político. Mas o governo preservaria esse direito. Isso significa ter mandatos para os dirigentes do Banco Central. Claro que se houvesse problemas na atuação, se não estiverem cumprindo os seus objetivos, o governo, no limite, poderia pedir ao Senado a remoção de quem for, inclusive do presidente. Esse é um sistema bem testado e requer um Banco Central transparente."
Política externa
"Toda a política externa do Brasil precisa ser repensada. Essa estranha predileção por parcerias e aproximações com regimes autoritários, como Cuba e outros exóticos, não tem trazido nenhum benefício ao Brasil. Não quero dizer que o Brasil não precisa ter um diálogo com todo mundo, com a Venezuela, por exemplo. Mas o Brasil precisa se engatar nas grandes locomotivas mundiais."
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