Aécio preconiza processo de desenvolvimento flutuante. Uma montanha russa ordenada pelo livre fluxo dos capitais, com seu carrossel de arrocho e desemprego.
por: Saul Leblon
A decisão tomada no Encontro Nacional do PT de dar à reforma política e à democracia a centralidade que lhes cabe na luta pelo desenvolvimento não pode ser subestimada.
É mais que uma inflexão de método.
Vem rejuvenescer a meta histórica –esgarçada sob o peso da responsabilidade institucional e da correlação de forças, mas também pelo estiolamento ideológico de alguns setores do partido-- de construir neste país uma verdadeira democracia social.
Aquela que se ergue a contrapelo da lógica capitalista, e propicia às grandes massas que não detém a riqueza, mesmo assim, um poder de voz e peso na ordenação da sociedade e da economia.
Há consequências.
E elas não são desprezíveis.
Dilma sintetizou a principal delas em uma frase de contundente antagonismo com aquilo que tem sido dito de forma cifrada ou explícita pelos candidatos do dinheiro grosso:
‘Não fomos eleitos para promover o arrocho contra o trabalhador’.
O arrocho é a operação intrínseca à agenda ortodoxa que, na opinião do próprio presidenciável Aécio Neves, interliga a sua candidatura à de Campos e assemelhados.
É tudo a mesma sopa.
No fundo foi isso que disse o tucano na semana passada, em ato falho, num cenário propício: o clube dos endinheirados, em Comandatuba, onde ele e Campos se exibiram aos donos do país, sob a batuta do animador Dória Jr.
Não foi uma agenda de exceção.
Dias antes, conforme o cada vez mais insuspeito jornal Valor Econômico, o ex-governador mineiro e seu fiador no mercado, Armínio Fraga, estiveram na sede do Itaú, em São Paulo, para falar a clientes milionários do banco .
Membros de uma confraria que, segundo o mesmo Valor, tem R$ 577 bilhões empoçados no sistema bancário, os rentistas do Itaú estão se lixando para as urgências do investimento brasileiro.
Seu país é a taxa de juro.
Essa linha de frente daquilo que Keynes definia como ‘a obsessão mórbida pela liquidez’, ouviu Aécio e Armínio com atenção prestativa.
Ao final, aplaudiu-os de pé.
A razão da empatia não foi revelada pelo igualmente prestativo Valor.
Mas uma coisa é certa: se foi pronunciada, dificilmente a palavra arrocho teve ali a mesma conotação empregada por Dilma no encontro do PT.
O antagonismo retórico, de qualquer forma, não basta.
A luta pela reeleição desta vez se dá em condições de beligerância que prometem suplantar as de 2002 e a do cerco de 2006 ensejado pela farsa do ‘mensalão’.
O combate à quase insurgência conservadora --que outro nome dar a isso que figura como uma convocação diária ao extermínio do PT e de seu governo?—precisa ir além dos enunciados.
Aécio e assemelhados preconizam um processo de desenvolvimento flutuante.
Uma montanha russa ordenada pelo livre fluxo dos capitais, portanto, entregue à inconstância da especulação financeira, com seu carrossel de bolhas, colapso e desemprego.
A isso dá-se o nome de mercados autorreguláveis.
A resposta à cosmologia da incerteza só pode ser política.
Mas, sobretudo, deve ser imediatamente palpável para ser crível e relevante nas condições de vale tudo impostas à disputa pelo campo conservador.
Significa dizer que um segundo governo Dilma precisa se tornar perceptível desde já, na campanha eleitoral.
Significa, ademais, que as resoluções anunciadas no Encontro do PT desenham um caminho sem volta que requer imediata transposição das palavras para os atos.
Entre eles, a imediata deflagração de um processo de negociações por um pacto pelo desenvolvimento, capaz de selar a nova identidade da agenda progressista –e de seu método de luta.
Trata-se de dar consequências ao propósito de deslocar a correlação de forças do país para uma democracia social, ancorada em ganhos de produtividade, crescimento, distribuição de renda e melhor qualidade de vida.
Um requisito crucial dessa travessia é a credibilidade de seu negociador .
Ademais da legitimidade própria, é imperativo que guarde sintonia estreita com a candidata-presidenta , que dificilmente poderia exercer esse papel de forma direta e imediata, por força de sua dupla função.
Esse personagem-ponte existe.
Chama-se Lula.
Tem tudo para ser o porta-voz de um compromisso claro de Dilma e do PT com a emancipação das grandes massas que saíram da miséria e as que ascenderam na pirâmide de renda nos últimos anos.
O conservadorismo fez do ‘centro da meta da inflação’ uma espécie de leilão público para escrutinar qual, dentre os seus candidatos, estaria disposto a ir mais fundo no arrocho monetário calibrado pela alta dos juros.
A mesma gincana pode ser observada em relação ao superávit primário. Ou à desregulação trabalhista.
Há ofertas cada vez mais explícitas de arrocho no mercado. E o dinheiro ensaia um levante da república argentária rumo a outubro, em intercurso obsceno com a mídia isenta (ideológicos são os blogs progressistas).
Sua bandeira-mestra é ampliar a fatia rentista na divisão da renda nacional.
A resposta de um pacto pelo desenvolvimento deve ser distinta em sua hierarquia de prioridades.
A fatia dos salários no PIB figura desde logo como sua espinha estruturante.
Muito se avançou em 12 anos de valorização do salário mínimo, formalização do mercado de trabalho e expansão do emprego.
Mas o fato é que a fatia do trabalhador na renda no país ainda está aquém do que foi no início dos anos 90.
No ciclo do tucano FHC, 1995 e 2002, essa participação decresceu.
Caiu de 48% para 42,4% do PIB, empurrada pelas políticas antipopulares conhecidas –entre elas o rebaixamento virulento do poder de compra do salário mínimo, a informalidade galopante e a depressão instalada no mercado de trabalho.
No período seguinte, 2002 até meados de 2010, a fatia do salário na renda brasileira cresceu de 42,4% para 43,4% . Mantém-se em torno disso na média dos últimos anos.
Qual a meta para esse decisivo guarda-chuva da justiça social num segundo governo Dilma?
Em Comandatuba ou no Itaú a pergunta não faz sentido.
Ela só faz sentido quando passa a existir um portador disposto a respondê-la afirmativamente.
É isso que cabe a um pacto pelo desenvolvimento a ser deflagrado desde já.
Trata-se de dar à deliberação do encontro do PT a sua dimensão de um caminho distinto e sem volta em relação à ganância rentista.
Mais que nunca, as mudanças requeridas pelo desenvolvimento brasileiro exigem a participação direta de seus interessados para serem efetivadas.
O 14º Encontro do PT resgatou essa convicção.
Trata-se agora de exercê-la – com a celeridade que a hora exige.
Trata-se de dar consequências ao propósito de deslocar a correlação de forças do país para uma democracia social, ancorada em ganhos de produtividade, crescimento, distribuição de renda e melhor qualidade de vida.
Um requisito crucial dessa travessia é a credibilidade de seu negociador .
Ademais da legitimidade própria, é imperativo que guarde sintonia estreita com a candidata-presidenta , que dificilmente poderia exercer esse papel de forma direta e imediata, por força de sua dupla função.
Esse personagem-ponte existe.
Chama-se Lula.
Tem tudo para ser o porta-voz de um compromisso claro de Dilma e do PT com a emancipação das grandes massas que saíram da miséria e as que ascenderam na pirâmide de renda nos últimos anos.
O conservadorismo fez do ‘centro da meta da inflação’ uma espécie de leilão público para escrutinar qual, dentre os seus candidatos, estaria disposto a ir mais fundo no arrocho monetário calibrado pela alta dos juros.
A mesma gincana pode ser observada em relação ao superávit primário. Ou à desregulação trabalhista.
Há ofertas cada vez mais explícitas de arrocho no mercado. E o dinheiro ensaia um levante da república argentária rumo a outubro, em intercurso obsceno com a mídia isenta (ideológicos são os blogs progressistas).
Sua bandeira-mestra é ampliar a fatia rentista na divisão da renda nacional.
A resposta de um pacto pelo desenvolvimento deve ser distinta em sua hierarquia de prioridades.
A fatia dos salários no PIB figura desde logo como sua espinha estruturante.
Muito se avançou em 12 anos de valorização do salário mínimo, formalização do mercado de trabalho e expansão do emprego.
Mas o fato é que a fatia do trabalhador na renda no país ainda está aquém do que foi no início dos anos 90.
No ciclo do tucano FHC, 1995 e 2002, essa participação decresceu.
Caiu de 48% para 42,4% do PIB, empurrada pelas políticas antipopulares conhecidas –entre elas o rebaixamento virulento do poder de compra do salário mínimo, a informalidade galopante e a depressão instalada no mercado de trabalho.
No período seguinte, 2002 até meados de 2010, a fatia do salário na renda brasileira cresceu de 42,4% para 43,4% . Mantém-se em torno disso na média dos últimos anos.
Qual a meta para esse decisivo guarda-chuva da justiça social num segundo governo Dilma?
Em Comandatuba ou no Itaú a pergunta não faz sentido.
Ela só faz sentido quando passa a existir um portador disposto a respondê-la afirmativamente.
É isso que cabe a um pacto pelo desenvolvimento a ser deflagrado desde já.
Trata-se de dar à deliberação do encontro do PT a sua dimensão de um caminho distinto e sem volta em relação à ganância rentista.
Mais que nunca, as mudanças requeridas pelo desenvolvimento brasileiro exigem a participação direta de seus interessados para serem efetivadas.
O 14º Encontro do PT resgatou essa convicção.
Trata-se agora de exercê-la – com a celeridade que a hora exige.
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