Na entrevista no Mau Dia Brasil,
quando foi gentilmente poupada do jatinho em que
viajou dez vezes, Bláblárina
mentiu sobre Belo Monte.
E sobre o BNDES, como se vê nesse irrespondível artigo de Fábio Kerche, originalmente publicado na Fel-lha (
dicionarizada):
Marina e o BNDES
Fábio Kerche
O BNDES é um dos principais
instrumentos que o governo brasileiro dispõe para implementar sua
política econômica. É o governo em exercício que escolhe as áreas
prioritárias e as linhas de atuação do banco, que as executa por meio de
um rigor técnico garantido por seu capacitado corpo funcional.
Para ficarmos em apenas dois
exemplos: no governo Fernando Henrique Cardoso, o BNDES teve um papel
fundamental nas privatizações e no governo Lula, respondendo à forte
crise iniciada em 2008, expandiu o crédito à indústria e à
infraestrutura.
É, portanto, absolutamente legítimo
que o papel do BNDES seja debatido na campanha eleitoral. O próximo
presidente terá a responsabilidade de manter ou modificar as prioridades
do banco nos próximos anos, decisão que poderá afetar todo o
financiamento ao setor produtivo brasileiro.
Mas esse necessário debate
eleitoral seria mais proveitoso para o país se fosse lastreado por um
correto diagnóstico por parte dos candidatos. Como corrigir rumos se não
conseguimos entender a atual direção? Esse parece ser o caso da
candidata do PSB à Presidência, Marina Silva. Senão, vejamos.
Nesta quinta-feira (25), em
entrevista ao programa “Bom Dia Brasil”, da TV Globo, a candidata disse
que “o que enfraquece os bancos é pegar o dinheiro do BNDES e dar para
meia dúzia de empresários falidos, uma parte deles, alguns deles que
deram, enfim, um sumiço em bilhões de reais do nosso dinheiro”. O número
de imprecisões só dessa frase é impressionante.
Em primeiro lugar, o BNDES não “dá”
dinheiro a ninguém, ele empresta. Isso significa que o banco recebe de
volta, corrigidos por juros, os seus financiamentos. Sua taxa de
inadimplência é de 0,07% sobre o total da carteira de crédito, segundo o
último balanço, sendo a mais baixa de todo o sistema bancário no
Brasil, público e privado.
Isso nos leva a outra imprecisão da
fala da candidata. A qual “sumiço” de recursos ela se refere se o BNDES
recebe o dinheiro de volta e obtém lucros expressivos de suas
operações? O lucro do primeiro semestre, de R$ 5,47 bilhões, foi o maior
da história do banco.
Em relação aos empresários
“falidos”, talvez a candidata, em um esforço de transformar em regra a
exceção, esteja se referindo ao caso Eike Batista. Se isso for verdade,
temos mais uma imprecisão: seja por causa de um eficiente sistema de
garantias das operações, seja porque grupos sólidos assumiram algumas
empresas, o BNDES não sofreu perdas frente aos problemas enfrentados
pelo empresariado.
Por fim, nada mais falso do que
dizer que o BNDES empresta para “meia dúzia”. No ano passado, o banco
fez mais de 1 milhão de operações, sendo que 97% delas para micro,
pequenas e médias empresas.
Embora o BNDES não tenha a
capilaridade dos bancos de varejo, a instituição aumentou seus
desembolsos para as pequenas empresas de cerca de 20% do total liberado
na primeira década de 2000 para mais de 30% no ano passado. Se
retirássemos as típicas áreas onde os pequenos não atuam (setor público,
infraestrutura e comércio exterior), os financiamentos para os menores
representariam 50% dos desembolsos do banco.
Das cem maiores empresas que atuam
no Brasil, 93 mantém relação bancária com o BNDES. Entre as 500 maiores,
480 são seus clientes. Como sustentar que o BNDES escolhe “meia dúzia”
se o banco apoia quase todas as empresas brasileiras dos mais variados
setores de nossa economia?
A candidata Marina lembrou
recentemente que uma mentira repetida diversas vezes não a transforma em
verdade. Isso também vale para o papel que o BNDES vem desempenhando
nos últimos anos.
FÁBIO KERCHE, 43, doutor em ciência
política e pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, é assessor da
Presidência do BNDES. Foi secretário-adjunto e secretário de Imprensa da
Presidência da República (governo Lula)
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