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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Conheça os perigosos traficantes do Pinheirinho


Na tarde de ontem, conversei com o senador Eduardo Suplicy, quando me foi relatado o resultado de audiência que ele mesmo, o procurador de Justiça de São José dos Campos e o delegado do 3o Distrito Policial da cidade mantiveram com duas moças e um rapaz que alegam ter sido abusados sexualmente por policiais da Rota na madrugada de segunda-feira 22 de janeiro, no dia seguinte à invasão do bairro Pinheirinho pela Polícia Militar.
Enquanto isso, um blog da revista Veja continuava em campanha para criminalizar a população que vi de perto nas duas vezes da semana passada em que estive naquela cidade do interior paulista. O colunista e blogueiro Reinaldo Azevedo, sem ter tirado o traseiro da cadeira, tratava de qualificar os denunciantes como “traficantes”. Escreveu um texto tripudiando sobre a dor daquela gente e sobre a luta por Justiça do senador Eduardo Suplicy.
Confira, abaixo, o que fez o tal colunista da Veja
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Por Reinaldo Azevedo

06/02/2012 às 20:53
No planeta Suplicy – Advogada de denunciantes de suposto estupro tem como clientes presos que Gaeco acusa de pertencer ao PCC
Então… Quanto mais eu pesquiso, mais o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), aquele, vai se mostrando uma pessoa séria, responsável, que só abre a boca para ser justo.
Já contei aqui as circunstâncias todas que desmoralizam a sua denúncia de que uma guarnição da Polícia Militar de São Paulo teria estuprado uma mulher no Pinheirinho. Pois bem… Resolvi aqui fazer as minhas pesquisas.
A Polícia Militar prendeu numa área vizinha ao Pinheirinho — não no Pinheirinho — três homens e um menor de 17 anos, acusados de tráfico de drogas e de portar uma espingarda calibre 12. Fez-se o BO. Os presos estavam acompanhados de sua advogada, Aparecida Maria Pereira. Ninguém relatou abuso sexual nenhum. Dez dias depois, eis que surge a “denúncia”, feita ao Ministério Público Estadual e ao notório Suplicy.
Aparecida Maria Pereira?
Pois é… Encontrei reportagens no jornal “O Vale” que mostram que ela é advogada de vários presos que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) acusa de pertencer ao PCC, especialmente Sérgio Augusto Fonseca, conhecido por “Quase Nada”, e Jorge Pereira dos Santos, o “Jorjão”, ligados ao tráfico de drogas em São José dos Campos. Além deles, sua lista de clientes inclui sete outros acusados.
Pois é… Mesmo assim, acreditem, a página do PT no Senado continua a divulgar as acusações e diz que os denunciantes são ex-moradores do Pinheirinho.
É a mentira como método!
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Na matéria que publiquei ontem (6/2) no início da noite, antecipei matéria da jornalista da Folha de São Paulo Laura Capriglioni sobre esse caso. Em matéria honesta, ela desnuda para o leitor quem são os “perigosos traficantes” que denunciaram os pobres policiais da Rota que tanto cuidado inspiram no colunista da Veja.
Veja, abaixo, o vídeo que contém a matéria de Capriglioni. Em seguida, entrevista que fiz ontem com Suplicy e, ao fim, notícias sobre investigações da situação de mais outra vítima do massacre do Pinheirinho.
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Da Folha.com
por Laura Capriglioni
Perícia começa a investigar acusação de abuso sexual de PMs


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Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 19:31 hs.
Suplicy diz Confiar em supostas vítimas de abuso sexual

O senador Eduardo Suplicy falou ao blog sobre a visita que fez nesta segunda-feira a São José dos Campos para participar de oitiva de duas moças – uma de 26 e outra de 20 anos – e de um rapaz – de 17 anos – pelo promotor Laerte Levai e pelo delegado do 3º Distrito Policial da cidade. Os jovens acusam policiais da Rota de terem praticado abuso sexual contra si.
Após os depoimentos, as autoridades foram ver de perto a casa onde teria ocorrido o suposto abuso, no bairro Campo dos Alemães, zona sul da cidade.
O parlamentar pelo PT de São Paulo informa que foi encontrado o cabo de vassoura untado de creme e talco com o qual os policiais teriam ameaçado o rapaz e as moças de empalação caso não praticassem sexo oral neles. Segundo os depoentes, os policiais os instruíram sobre o que causaria a empalação de acordo com a profundidade com que fosse praticada.
Segundo Suplicy, ele mesmo, o promotor, o delegado, a jornalista da Folha de São Paulo Laura Capriglione e jornalistas da CBN, da Band, de O Globo e da revista Caros Amigos ouviram os depoimentos dos jovens e teriam ficado “plenamente convencidos” pelos seus relatos.
O rapaz de 17 anos e três outros homens que estavam na casa no bairro Campo dos Alemães quando foi invadida pela polícia na madrugada de segunda-feira (23.01), estão presos. O menor de idade está na Fundação Casa e os adultos, em prisão comum. As moças e o pai do menor, que tem 87 anos, não foram presos.
Suplicy ainda relata que irá pedir ao governo federal, ao governador Geraldo Alckmin, à ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e ao ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardoso, proteção para os três jovens, os quais afirma que estariam em estado de choque e tomados por puro pavor.
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Defensoria representará ao MPE contra Hospital Municipal de SJC



No último sábado (4/2), voluntário do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) localizou uma das pessoas que desaparecera durante a operação de reintegração de posse do terreno ocupado pela comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos.
Ivo Teles dos Santos, de 69 anos, desde o dia 22 de janeiro esteve internado na UTI do Hospital Municipal daquela cidade, em estado de coma.  Segundo informações fornecidas por sua ex-esposa, Osorina Ferreira de Souza – que também é sua procuradora -, ele fora internado como vítima de agressão.
O registro dessa informação constaria, segundo Osorina, do Boletim de Atendimento de Urgência (BAU) que todos os hospitais têm que fazer para quem recorre ao pronto-atendimento. Tal informação, aliás, coaduna-se com depoimentos de dezenas de testemunhas que afirmam que assistiram ao idoso ser espancado pela polícia militar.
Sabendo disso, parlamentares, advogados, defensores públicos e membros da OAB que integraram a força-tarefa que no último sábado esteve pela segunda vez em SJC, dirigiram-se, naquele mesmo dia, ao hospital, de forma a confirmarem a informação da ex-esposa de Santos.
O hospital, porém, na pessoa de seu administrador, Marcelo Guerra, recusou-se a apresentar à força-tarefa – e até à ex-esposa de Santos, sua procuradora – o Boletim de sua internação, no qual constaria que foi causada por agressão.
Há versões, não confirmadas, de que a ordem teria partido do Secretário de Saúde de SJC, Danilo Stanzani.
Parlamentares que ficaram esperando até o fim da noite de sábado pelo BAU e não foram atendidos, naquele mesmo dia informaram ao blog que se a recusa do hospital em apresentar o documento à responsável pelo idoso fosse mantida seria lavrado um boletim de ocorrência.
Hoje, através de um dos advogados dos moradores do Pinheirinho, doutor Antonio Donizeti Ferreira, este blog obteve informação de que em vez de registrar o caso na polícia, optou-se por deixar que a Defensoria Pública represente ao Ministério Público Estadual de SJC para que exija do hospital a apresentação do documento.
O estado de Santos, segundo o advogado, é grave. Continua na UTI e o hospital persiste na tese de que ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), rejeitando a causa que a sua ex-esposa – e procuradora – afirma que viu registrada no BAU quando o localizou naquela instituição: agressão física.

domingo, 8 de maio de 2011

Carta de um Nobel da Paz a Barack Obama



Quando te outorgaram o Prêmio Nobel da Paz, do qual somos depositários, te enviei uma carta que dizia: “Barack, me surpreendeu muito que tenham te outorgado o Nobel da Paz, mas agora que o recebeu deve colocá-lo a serviço da paz entre os povos; tens toda a possibilidade de fazê-lo, de terminar as guerras e começar a reverter a situação que viveu teu país e o mundo”. No entanto, ao invés disso, você incrementou o ódio e traiu os princípios assumidos na campanha eleitoral frente ao teu povo, como terminar com as guerras no Afeganistão e no Iraque e fechar as prisões em Guantánamo e Abu Graib no Iraque. O artigo é de Adolfo Pérez Esquivel.

Estimado Barack, ao dirigir-te esta carta o faço fraternalmente para, ao mesmo tempo, expressar-te a preocupação e indignação de ver como a destruição e a morte semeada em vários países, em nome da “liberdade e da democracia”, duas palavras prostituídas e esvaziadas de conteúdo, termina justificando o assassinato e é festejada como se tratasse de um acontecimento desportivo.

Indignação pela atitude de setores da população dos Estados Unidos, de chefes de Estado europeus e de outros países que saíram a apoiar o assassinato de Bin Laden, ordenado por teu governo e tua complacência em nome de uma suposta justiça. Não procuraram detê-lo e julgá-lo pelos crimes supostamente cometidos, o que gera maior dúvida: o objetivo foi assassiná-lo.

Os mortos não falam e o medo do justiçado, que poderia dizer coisas inconvenientes para os EUA, resultou no assassinato e na tentativa de assegurar que “morto o cão, terminou a raiva”, sem levar em conta que não fazem outra coisa que incrementá-la.

Quando te outorgaram o Prêmio Nobel da Paz, do qual somos depositários, te enviei uma carta que dizia: “Barack, me surpreendeu muito que tenham te outorgado o Nobel da Paz, mas agora que o recebeu deve colocá-lo a serviço da paz entre os povos; tens toda a possibilidade de fazê-lo, de terminar as guerras e começar a reverter a situação que viveu teu país e o mundo”.

No entanto, ao invés disso, você incrementou o ódio e traiu os princípios assumidos na campanha eleitoral frente ao teu povo, como terminar com as guerras no Afeganistão e no Iraque e fechar as prisões em Guantánamo e Abu Graib no Iraque. Não fez nada disso. Pelo contrário, decidiu começar outra guerra contra a Líbia, apoiada pela OTAM e por uma vergonhosa resolução das Nações Unidas. Esse alto organismo, apequenado e sem pensamento próprio, perdeu o rumo e está submetido às veleidades e interesses das potências dominantes.

A base fundacional da ONU é a defesa e promoção da paz e da dignidade entre os povos. Seu preâmbulo diz: “Nós os povos do mundo...”, hoje ausentes deste alto organismo.

Quero recordar um místico e mestre que tem uma grande influência em minha vida, o monge trapense da Abadia de Getsemani, em Kentucky, Tomás Merton, que diz: “a maior necessidade de nosso tempo é limpar a enorme massa de lixo mental e emocional que entope nossas mentes e converte toda vida política e social em uma enfermidade de massas. Sem essa limpeza doméstica não podemos começar a ver. E se não vemos não podemos pensar”.

Você era muito jovem, Barack, durante a guerra do Vietnã e talvez não lembre a luta do povo norteamericano para opor-se à guerra. Os mortos, feridos e mutilados no Vietnã até o dia de hoje sofrem as consequências dessa guerra.

Tomás Merton dizia, frente a um carimbo do Correio que acabava de chegar, “The U.S. Army, key to Peace” (O Exército dos EUA, chave da paz): “Nenhum exército é chave da paz. Nenhuma nação tem a chave de nada que não seja a guerra. O poder não tem nada a ver com paz. Quanto mais os homens aumentam o poder militar, mais violam e destroem a paz”.
Acompanhei e compartilhei com os veteranos da guerra do Vietnã, em particular Brian Wilson e seus companheiros que foram vítimas dessa guerra e de todas as guerras.

A vida tem esse não sei o quê do imprevisto e surpreendente fragrância e beleza que Deus nos deu para toda a humanidade e que devemos proteger para deixar às gerações futuras uma vida mais justa e fraterna, reestabelecendo o equilíbrio com a Mãe Terra.

Se não reagirmos para mudar a situação atual de soberba suicida que está arrastando os povos a abismos profundos onde morre a esperança, será difícil sair e ver a luz; a humanidade merece um destino melhor. Você sabe que a esperança é como o lótus que cresce no barro e floresce em todo seu esplendor mostrando sua beleza.

Leopoldo Marechal, esse grande escritor argentino, dizia que: “do labirinto, se sai por cima”.

E creio, Barack, que depois de seguir tua rota errando caminhos, você se encontra em um labirinto sem poder encontrar a saída e te enterra cada vez mais na violência, na incerteza, devorado pelo poder da dominação, arrastado pelas grandes corporações, pelo complexo industrial militar, e acredita ter todo o poder e que o mundo está aos pés dos EUA porque impõem a força das armas e invade países com total impunidade. É uma realidade dolorosa, mas também existe a resistência dos povos que não claudicam frente aos poderosos.

As atrocidades cometidas por teu país no mundo são tão grandes que dariam assunto para muita conversa. Isso é um desafio para os historiadores que deverão investigar e saber dos comportamentos, políticas, grandezas e mesquinharias que levaram os EUA á monocultura das mentes que não permite ver outras realidades.

A Bin Laden, suposto autor ideológico do ataque às torres gêmeas, o identificam como o Satã encarnado que aterrorizava o mundo e a propaganda do teu governo o apontava como “o eixo do mal”. Isso serviu de pretexto para declarar as guerras desejadas que o complexo industrial militar necessitava para vender seus produtos de morte.

Você sabe que investigadores do trágico 11 de setembro assinalam que o atentado teve muito de “auto golpe”, como o avião contra o Pentágono e o esvaziamento prévios de escritórios das torres; atentado que deu motivo para desatar a guerra contra o Iraque e o Afeganistão, argumentando com a mentira e a soberba do poder que estão fazendo isso para salvar o povo, em nome da “liberdade e defesa da democracia”, com o cinismo de dizer que a morte de mulheres e crianças são “danos colaterais”. Vivi isso no Iraque, em Bagdá, com os bombardeios na cidade, no hospital pediátrico e no refúgio de crianças que foram vítimas desses “danos colaterais”.

A palavra é esvaziada de valores e conteúdo, razão pela qual chamas o assassinato de “morte” e que, por fim, os EUA “mataram” Bin Laden. Não trato de justificá-lo sob nenhum conceito, sou contra todas as formas de terrorismo, desde a praticada por esses grupos armados até o terrorismo de Estado que o teu país exerce em diversas partes do mundo apoiando ditadores, impondo bases militares e intervenção armada, exercendo a violência para manter-se pelo terror no eixo do poder mundial. Há um só eixo do mal? Como o chamarias?

Será que é por esse motivo que o povo dos EUA vive com tanto medo de represálias daqueles que chamam de “eixo do mal”? É simplismo e hipocrisia querer justificar o injustificável.

A Paz é uma dinâmica de vida nas relações entre as pessoas e os povos; é um desafio à consciência da humanidade, seu caminho é trabalhoso, cotidiano e portador de esperança, onde os povos são construtores de sua própria vida e de sua própria história. A Paz não é dada de presente, ela se constrói e isso é o que te falta meu caro, coragem para assumir a responsabilidade histórica com teu povo e a humanidade.

Não podes viver no labirinto do medo e da dominação daqueles que governam os EUA, desconhecendo os tratados internacionais, os pactos e protocolos, de governos que assinam, mas não ratificam nada e não cumprem nenhum dos acordos, mas pretendem falar em nome da liberdade e do direito. Como pode falar de Paz se não quer assumir nenhum compromisso, a não ser com os interesses de teu país?

Como pode falar da liberdade quanto tem na prisão pessoas inocentes em Guantánamo, nos EUA e nas prisões do Iraque, como a de Abu Graib e do Afeganistão?

Como pode falar de direitos humanos e da dignidade dos povos quando viola ambos permanentemente e bloqueia quem não compartilha tua ideologia, obrigando-o a suportar teus abusos?

Como pode enviar forças militares ao Haiti, depois do terremoto devastador, e não ajuda humanitária a esse povo sofrido?

Como pode falar de liberdade quando massacra povos no Oriente Médio e propaga guerras e tortura, em conflitos intermináveis que sangram palestinos e israelenses?

Barack, olha para cima de teu labirinto e poderá encontrar a estrela para te guiar, ainda que saiba que nunca poderá alcançá-la, como bem diz Eduardo Galeano. Busca a coerência entre o que diz e faz, essa é a única forma de não perder o rumo. É um desafio da vida.

O Nobel da Paz é um instrumento ao serviço dos povos, nunca para a vaidade pessoal.

Te desejo muita força e esperança e esperamos que tenha a coragem de corrigir o caminho e encontrar a sabedoria da Paz.

Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz 1980.
Buenos Aires, 5 de maio de 2011