Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 14 de maio de 2012

 

*CONTESTAÇÃO AO ARROCHO NEOLIBERAL CHEGA A ALEMANHA DE MERKEL: em mais uma eleição plebiscitária na UE, a exemplo das que eocorreram na França, Grécia e  Inglaterra,  o arrocho ortodoxo foi rechaçado pelas urnas da Renania, neste fim de semana (LEIA  análise de Flávio Aguiar, de Berlim)**TORNIQUETE SALARIAL: de 2010 a 2012, salários perdem 20% do poder de compra na Grécia; 10% em Portugal e 6% na Espanha: INCONCILIÁVEL: 66% dos eleitores gregos rejeitaram arrocho  exigido pelos credores** como formar governo de maioria que concilie a vontade das urnas com as imposições dos mercados?

PÓS-NEOLIBERALISMO: INTELECTUAIS VÃO À LUTA

A disposição de discutir os desafios do país, não de um ponto de vista diletante ou apenas acadêmico, mas engajado, organizado e direcionado à busca de soluções para os gargalos do desenvolvimento brasileiro, reuniu  meia centena de economistas  das mais diversas especialidades na Unicamp, na semana passada. A iniciativa, desdobrada em três dias de debates, divididos em cerca de uma dezena de mesas, foi o segundo passo na implantação da Rede Desenvolvimentista. Nascida na universidade, a Rede pretende  consolidar-se como uma caixa de ressonância da reconstrução da agenda do desenvolvimento no mundo pós-neoliberal. O desafio  é sedimentar  propostas que recoloquem as finanças, o investimento e os mercados a serviço do crescimento com distribuição de renda. O Estado brasileiro e a integração sul-americana são atores decisivos no enredo desse novo desenvolvimentismo, com motor social. (LEIA MAIS AQUI)

 

Tem algo errado na Alemanha...

Segundo as pesquisas cerca de 60% dos eleitores alemães se mostram satisfeitos com a liderança “austera” de Angela Merkel na Europa. Ela é apontada como a política mais popular da Alemanha nos últimos tempos. Entretanto, no domingo passado seu partido, a União Democrata Cristã, amargou mais uma pesada derrota em eleição regional no estado de Schlewig-Holstein. Neste domingo, nova derrota em Nordrhein-Westfalen, o mais populoso e urbanizado da Alemanha. Enquanto isso, a Der Spiegel destaca na manchete: "Por que a Grécia deve abandonar o euro". O artigo é de Flávio Aguiar, direto de Berlim.

Que me desculpem os puristas, mas a expressão popular do título descreve melhor a situação do que o castiço “há algo...”.

Porque tem algo muito errado por aqui. Algo fora do lugar. Algo que não está batendo.

Vejam só: segundo as pesquisas (e até agora não há motivos para desconfiar delas), uma grande maioria (60% pelo menos) dos eleitores alemães se mostram satisfeitos com a liderança “austera” de Angela Merkel na Europa. Ela é apontada como a política mais popular da Alemanha nos últimos tempos.

Entretanto, no domingo passado seu partido, a União Democrata Cristã amargou mais uma pesada derrota em eleição regional, a segunda em uma semana. No dia 6, enquanto François Hollande era eleito na França e a eleição grega desenhava o impasse no país e de novo na zona do euro, o partido de Merkel perdeu o estado de Schlewig-Holstein, o situado mais ao norte, na fronteira com a Dinamarca. Este é um estado predominantemente rural, e há muito tempo era governado pela CDU de Merkel.

Agora, no dia 13, foi a vez do diametralmente oposto Nordrhein-Westfalen, o mais populoso e urbanizado da Alemanha. São 18 milhões de habitantes. É uma região tradicionalmente industrializada, sede-matriz das indústrias Krupp. Ela abriga a 4ª. maior conurbação da Europa, a do chamado “Ruhrgebiet”, depois das de Londres, Paris e Moscou. Com mais de sete milhões de habitantes, ela abriga cidades como Bochum, Duisburg, Mülheim, Dortmund, Hagen, Essen, entre outras. É a única grande conurbação européia que não tem uma capital como centro. Aliás, não tem centro, propriamente. Fazem parte do estado cidades como Düsseldorf e Wuppertal (terra natal de Engels). Foi uma das únicas regiões onde, durante anos, os trabalhadores enfrentaram, armados, os Freikorps, berço das organizações nazistas SA e SS, e até o exército alemão.

Pois agora aparece no noticiário: essa região está em processo de grave desindustrialização, com desemprego em alta. Faltam investimentos públicos em várias áreas, inclusive na área cultural, considerada estratégica: Bochum, recentemente, foi uma das capitais culturais da Europa. Claro que isso se refletiu na votação de domingo. A CDU afundou, com 26,3% dos votos, seu pior resultado desde 1949. O SPD, com 39,1% e o Partido Verde, com 11,3%, devem formar o novo governo. Pergunta-se: onde está o “milagre alemão”? No estado, aparece apenas, parece, a face feia desse “milagre”, distribuído no país de maneira dramaticamente desigual.

Mas há mais: o FDP, partido do liberalismo econômico, que parecia condenado a desaparecer nas próprias cinzas, renasce delas: obteve inesperados 8,6% dos votos, aparentemente, segundo vários comentaristas, subtraídos em boa parte da própria aliada CDU. O que está havendo? Ainda não se sabe, esta é a verdade.

Do outro lado do espectro ideológico, também há mudanças importantes. A Linke, também pela segunda vez, foi expelida de um parlamento por não atingir a cláusula de barreira. Ficou com apenas 2,5% dos votos (a cláusula exige 5%). Em compensação, pela quarta vez o surpreendente Partido Pirata conseguiu eleger parlamentares para uma câmara onde tinha zero: ficou com 7,8% dos votos e 20 cadeiras. Aparentemente (de novo essa palavra é necessária) os piratas, que já roubaram votos dos verdes, estão agora roubando votos da Linke.

O que isso significa? Ninguém sabe ainda. Porque, na verdade, ninguém sabe o que fazer com os piratas. Às vezes nem eles mesmos. Há algumas semanas um dos candidatos a líder do PP deu uma declaração escapachante: disse que o crescimento rápido do seu partido só tinha paralelo no do Partido Nazista nas décadas de 20 e 30. O Partido quase explodiu, e o candidato a líder teve de recolher as velas e ir remar em outra maresia.

Por seu turno, diante de movimentos grevistas dos metalúrgicos (IG Metall), que exigem 6,5% de reajuste salarial contra 3% , subdividos em 14 meses, que os patrões oferecem, pela primeira vez o Ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, admitiu publicamente que talvez se deva rever a política de congelamento salarial (na prática) que foi um dos pilares desse propalado “milagre alemão”. O índice reivindicado pelos metalúrgicos equivaleria a aumento real de 3% nos atuais salários, diante de uma inflação avaliada entre 2 e 2,7%, por diferentes fontes. Schäuble reconheceu que um reajuste de salários poderia incentivar o consumo (que reportagem do Financial Times chamou de “anêmico”) no país, favorecendo uma recuperação econômica da Europa como um todo.

É com essa Alemanha algo confusa e de números e cifras discrepantes, mas solidamente ancorada no seu sistema bancário e financeiro, a tal ponto que não se sabe quem é dono de quem, que Angela Merkel vai se reunir com François Hollande na 4ª. Feira, depois da posse deste, no Champs Elysées, na 3ª.

Hollande vem duplamente embalado: pela vitória do dia 6 e por pesquisas que dão 46% dos votos para a esquerda (Socialistas e a Frente de Esquerda que apoiou Mélénchon).

Merkel não vai embalada, mas embrulhada por essa sala da de números colidentes.

Enquanto isso, a partir de Atenas e do impasse político grego, a zona do Euro entra de novo em frenesi. A manchete da revista Der Spiegel dessa semana diz: “Akropolis, adieu! Warum Griechenland jetzt den Euro verlassen muss” (Por que a Grécia agora deve abandonar o euro)”.

Sinal dos tempos. E da confusão.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A crise do euro e a indigência de idéias



Em toda a celeuma, que semanalmente provoca crises de adrenalina em escala mundial, ressalta-se a falta absoluta de alternativas de um lado ou do outro do Atlântico. Até o momento ideólogos de direita na mídia e nas universidades conseguiram criar um muro férreo em torno da idéia central de que a solução de tudo parte, como item número um da agenda única, da contenção de despesas públicas, da “independência” dos bancos centrais e da privatização de bens públicos. O artigo é de Flávio Aguiar.

Na que passou e neste começo de semana um pequeno terremoto agitou o governo alemão. As forças mais à direita, representadas pelo vice-chanceler Philipp Rösler, do FDP, e pelo primeiro ministro da Baviera (da União Social Cristã, CSU, co-irmã da União Democrata Cristã da chanceler Ângela Merkel), Horst Seehofer, começaram a falar abertamente de um endurecimento em relação à Grécia. O vice-chanceler aventou a possibilidade de uma moratória ou falência da Grécia em relação à sua dívida pública (movimento que agora atende pelo termo “default” ou “reestruturação”), enquanto Seehoffer aventou a simples possibilidade de expulsar aquele país da zona do euro.

A posição de Rösler aventava para a possibilidade (ainda no campo das conjecturas) de que o FDP não venha a votar no Parlamento Alemão (Bundestag) pela aprovação do novo pacote de ajuda à Grécia, da ordem de mais uma centena de bilhões de euros, além de outra centena já comprometida. Essas declarações públicas vieram na esteira de uma crise de confiança em relação aos bancos franceses, que, com os alemães, estão entre os maiores credores da Grécia, no caso do já esperado nessa altura “default”grego, discutindo-se muitas vezes o quando isso deverá ocorrer.

A maré chegou a tal ponto que o Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble e a própria chanceler vieram a público pedir que membros do governo e da coalizão se calassem sobre a possibilidade da falência, e desautorizaram qualquer especulação no sentido de que o governo alemão encarava até mesmo uma perspectiva de “autorizar” esse movimento por parte da Grécia ou sua saída da zona do euro, retornando ao passado dracma.

Há no ar o temor de que, se a Grécia declarar uma moratória ou a impossibilidade de pagar o total de sua dívida, Portugal e Irlanda venham a fazer o mesmo, seguidos por Espanha e Itália. Aí sim o sistema bancário europeu balançaria, a maré montante da crise atravessaria o Reno e chegaria com fragor à Alemanha de Frankfurt e Berlim, e a tsunami decorrente atravessaria o Atlântico engolfando, mais uma vez, Washington e Nova York.

Em toda a celeuma, que semanalmente provoca crises de adrenalina em escala mundial, ressalta-se a falta absoluta de alternativas de um lado ou do outro do Atlântico. Até o momento ideólogos de direita na mídia e nas universidades conseguiram criar um muro férreo em torno da idéia central de que a solução de tudo parte, como item número um da agenda única, da contenção de despesas públicas, da “independência” dos bancos centrais (como se isso existisse), e, portanto, que a solução passa pela privatização incontida e incondicional dos bens públicos capazes de tornar o Estado um vetor de desenvolvimento, pelo corte substancial nos investimentos, sobretudo os sociais, e pela dispensa e arrocho em relação aos trabalhadores e aposentados do setor.

Nada há que se contraponha a essa maré de idéias que já não deram certo em várias partes do mundo, mas que são fáceis de defender, mesmo sem argumentos, porque se apóiam numa espécie de “senso comum” de que um estado robusto é um “gigante de desperdício”. Não estou me referindo a campanhas movidas por extremas direitas dentro e fora da mídia, do tipo praticado pelos Tea Party e Fox News, ou agências do Império de Murdoch; refiro-me ao consenso médio da grande maioria de comentaristas econômicos, a editoriais e a dirigentes partidários dos mais variados matizes, que nada têm a oferecer como alternativas a essas mezinhas herdeiras do neoliberalismo.

No pico desse círculo vicioso e viciado de idéias, os dirigentes financeiros da Europa – nos governos e nas instituições privadas – chantageiam cada vez mais o governo grego porque este ainda não demitiu o suficiente seus funcionários e porque ainda não privatizou, na pressa desejada, os 50 bi de euros que ainda tem por privatizar. A ameaça (que provocará uma hecatombe) é a de não entregar as parcelas da ajuda prometida no tempo devido, para que, no fundo, a Grécia possa repassa-las, em grande parte, aos bancos credores.

Quando se parte para alternativas partidárias, o campo fica confuso. Os partidos socialistas ou social democratas se renderam à retórica do Consenso de Washington há muito tempo, e agora não sabem como sair disso. Os Partidos Verdes aderem mais e mais a uma espécie de “bio-capitalismo” que não confronta o “disco rígido” do programa da financeirização da política, da produção e do mundo.

No caso da Alemanha, voz isolada, a Linke prega, mais recentemente, uma valorização da política, da distribuição mais eqüitativa de renda e da democracia como alternativa às propostas de administração da crise baseada nos princípios que construíram a própria crise. Essa é uma alternativa interessante, mas que ainda está no balbucio, e a que falta necessárias correntes de solidariedade e sustentação Europa afora(para dizer o mínimo), pois os movimentos de trabalhadores, estudantes e aposentados na Grécia, Portugal, Irlanda, parecem lutar sozinhos contra o consenso geral de que “eles estão errados” e “defendem privilégios insustentáveis”, isto é, seus direitos legalmente constituídos.

Diante desse quadro desolador, parece mentira, mas algumas idéias razoáveis aparecem... no campo do FMI! Como, por exemplo, a admissão (ainda feita a boca pequena nos corredores) de que o “default” da Grécia pode muito bem ocorrer, não por “incompetência” ou “vagabundagem” dos gregos, como quer explicar a direita, mas simplesmente porque a dívida tornou-se impagável e honrá-la significa, como vem acontecendo, prostrar a possibilidade de qualquer reação pelo país.

Enquanto isso, na caluda e na moita, os chineses, que já arrendaram o porto do Pireu, consideram a possibilidade de “comprar” a dívida italiana. Será?