10/08/2010Comandante.MelkDeixar um comentárioIr para os comentários
Por Gustavo Chacra
Quando um líder de um regime ditatorial inimigo adoece, como Fidel Castro em Cuba ou Kim Jong-il, na Coréia do Norte, os Estados Unidos e seus aliados torcem pela queda do regime. Quando o comandante é de um país aliado, como o Egito de Hosni Mubarak, a Casa Branca fica apreensiva, temendo mudanças que coloquem seus interesses em risco.
O líder egípcio completou 82 anos, está doente, passou por tratamento na Alemanha e não tem um vice-presidente. Mais grave, não indicou quem ele gostaria de ver no seu lugar no Cairo.
Apesar das críticas por reprimir a oposição, censurar a imprensa e fraudar eleições, Mubarak sempre honrou seus compromissos com os americanos e os israelenses. Por menos democrático que seja, o presidente do Egito tem sido um aliado leal de Washington e Jerusalém. A dúvida nos EUA é sobre como será o futuro presidente do Egito.
Analistas comparam a sua sucessão com a do líder sírio Hafez al Assad, que morreu há dez anos. No seu lugar, entrou seu filho Bashar al Assad. Caso o mesmo fenômeno aconteça no Egito, o escolhido para o lugar do atual presidente será o seu filho, Gamal Mubarak, que conta com o apoio da emergente elite econômica do Cairo e de Alexandria. Como Bashar al Assad, ele também fala inglês fluentemente, morou no Ocidente e é visto como modernizador. Sua plataforma seria parecida com a da China, que se tornou moda em regimes fechados – abrir a economia, mas manter o país distante da democracia.
“Porém Gamal não é do Exército e existe uma certa relutância dos militares em ver um civil no comando do regime”, disse ao Estado Hani Sabra, analista de Egito da consultoria de risco político Eurasia. Bashar não enfrentou este problema. Apesar de ser oftalmologista, o líder sírio passou por anos de treinamento militar.
O Egito também se difere da Síria por sua história. A sucessão de Hafez para Bashar foi a primeira em Damasco sem envolver golpe. O Egito passou por outras duas sucessões dentro do sistema no atual regime, depois das mortes de Gamal Abdel Nasser e de Anwar Sadat, que antecederam Mubarak. E nenhum dos dois foi sucedido por seus filhos.
Caso o favorito Gamal seja excluído, a avaliação é de que o sucessor de Mubarak “será alguém de dentro do regime. Não deve haver instabilidade”, diz Sabra, acrescentando que dificilmente a rachada Irmandade Muçulmana, principal grupo opositor, assumirá o poder. Além disso, sem democratização, são nulas as chances de elegerem Mohammad el Baradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica.
Todos os outros nomes citados, além de Gamal, são ligados a Mubarak. Omar Suleiman, chefe da inteligência, sempre recebe citações de analistas e diplomatas como um nome forte. Depois de Mubarak, é certamente a figura mais poderosa do Egito. Mesmo que não seja o sucessor do atual presidente, ele certamente estará envolvido na escolha do próximo governante.
Zakaria Azmi, chefe de gabinete de Mubarak e forte no regime, também costuma ter seus nomes nas listas. A Eurasia e outras consultorias de risco político, como a Stratfor, também trabalham com a hipótese de algum militar do segundo escalão ser o escolhido. Assim, o regime teria uma cara mais nova e de dentro do Exército, diferentemente de Gamal. Começaria assim mais uma dinastia na terra dos faraós.
O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de “O Estado de S. Paulo” em Nova York.
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