Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Miriam Leitão e Bob Jefferson estão órfãos
A colunista de O Globo, Miriam Leitão, produziu uma peça de jornalismo curiosa para tentar condenar Lula por apontar Dilma Rousseff como candidata a sua sucessão. Miriam compara o discurso de Lula ao coronelismo da República Velha e diz que age como se estivesse entregando uma capitania hereditária.
Seria importante lembrar à colunista que o Brasil é uma democracia e quem vai decidir o futuro presidente é o povo. Ou seja, Lula pode dizer que prefere Dilma, mas o povo pode pensar diferente. Fernando Henrique Cardoso, que governou o país por oito anos, assim como Lula, preferia que José Serra o sucedesse, em 2002, mas o povo escolheu Lula.
A colunista completa seu ataque a Lula afirmando que o discurso de “pai e mãe do povo” infantiliza o povo brasileiro. É uma teoria interessante, mas sugeriria à colunista global que encaminhasse o debate a José Serra, o candidato de sua predileção. Afinal, o tucano tenta descaradamente pegar uma carona em Lula, talvez imaginando que o processo sucessório seja exatamente como o vê Miriam Leitão, a entrega de uma capitania hereditária.
Nessa falsa aproximação a Lula, Serra reforça o paternalismo visto por Miriam. Aliás, um aliado do tucano, o petebista Roberto Jefferson descreveu muito bem isso em matéria da Reuters reproduzida pelo próprio O Globo. Diz o Jefferson sobre a perda de identidade da campanha do Serra: “Não tem oposição mais, todos são filhos do Lula. E o Lula quer fazer do patriarcado dele um matriarcado para que todos passem a ser filhos da Dilma Rousseff.”
Bob Jefferson e Miriam Leitão pensam da mesma forma, mas o político é menos tendencioso ao apontar que a oposição quer desfrutar do que seria o patriarcado de Lula. O que Jefferson e Leitão evitam enxergar é que a popularidade de Lula, que jamais se disse pai do povo, se deve à maneira como governou o país, com atenção preferencial aos pobres. A população que lhe atribui aprovação recorde, deseja a continuidade de seu governo, e ela está personificada em Dilma, a sua candidata. E não na oposição, que nem se nomeia assim para tentar tirar uma casquimha de Lula.
Mas Miriam Leitão não para por aí. Afinal, diante da dianteira de Dilma é preciso usar todas as armas para ajudar Serra. A colunista traça um paralelo entre Brasil e Estados Unidos, naquela velha cantilena do que é bom para os EUA, é bom para o Brasil, tão ao gosto do seu candidato.
Certamente pensando no excelente momento da economia do país, diz a colunista que a economia “é decisiva, mas nem sempre”. E lembra da derrota de Al Gore, que perdeu as eleições presidenciais mesmo com o apoio de Bill Clinton, quando os EUA viviam um de seus melhores momentos econômicos na história. Esse argumento é mole de derrubar. Em primeiro lugar, como escreve a própria Miriam, Gore queria distância de Clinton por conta do caso Monica Levinsky. Só com isso, a comparação já não seria apropriada porque Dilma foi próxima de Lula durante o seu governo e deseja manter essa proximidade, não apenas na campanha, mas durante o seu governo. A segunda questão é que Gore perdeu a eleição de forma controversa, para dizer o mínimo, com uma manipulação dos votos da Flórida, governada pelo irmão do candidato oposicionista.
Miriam argumenta que se Clinton tivesse feito uma campanha paternalista seria ainda mais rejeitado. “Lá, eles não acham que eleitores passam de mão em mão como uma massa sem vontade própria”, escreveu. O que Miriam Leitão quis dizer com isso? Que os EUA são melhores que o Brasil? Que o povo americano sabe escolher melhor que o brasileiro? A velha mentalidade colonizada sempre se manifesta nessas horas.
Seria importante lembrar à colunista que a massa “esclarecida” de eleitores norte-americanos que não aceita ser controlada, elegeu George Bush, o responsável por duas guerras das quais os EUA não se desvencilharam até hoje, que causaram mais de 20 mil vítimas no Afeganistão e mais de 375 mil vítimas no Iraque, incluindo 138 mil soldados americanos feridos em combate e pelo menos 45 mil mortes de iraquianos, entre rebeldes, soldados do governo de Saddam Hussein e civis.
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