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A sórdida campanha da grande mídia em torno do processo movido pela ditadura militar contra a presidente eleita Dilma Rousseff tenta criminalizar as ações armadas de guerrilheiros contra a tirania “da mesma forma como a Coroa portuguesa atribuiu como criminosa a insurgência política de Tiradentes”, como bem lembrou o jornalista Paulo Henrique Amorim. “E lá estavam as velhas conhecidas familias Marinho, Frias, Mesquita e Civita, da velha mídia, engajadas em demonizar os guerrilheiros, em entusiasmados editorais, colunas e na deturpação do noticiário. Hoje, coerentes com o passado em prol da ditadura, fazem o mesmo ao colocaram suas mãos sujas no processo de Dilma, vilipendiando a verdade”, diz Amorim.
Aqueles que pegaram em armas contra o regime criminoso de 1964, mesmo se estavam politicamente equivocados, foram herois, como herois foram os integrantes da resistência francesa, italiana e iugoslava ao nazismo na Europa. Já os donos dos jornalões foram cúmplices do regime criminoso, o qual eles não apenas apoiaram como – no caso da Folha de S. Paulo – emprestaram veículos impressos e rodantes para ajudar os torcionários. Para estes, a ditadura só podia ser “ditabranda”.
Dos 339 militantes assassinados pela ditadura militar, destaco três, cuja morte completa 40 anos este ano. São eles: Mário Alves, dirigente do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Joaquim Câmara Ferreira (Toledo), dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN) e Eduardo Collen Leite (Bacuri), também da ALN – ambos mortos pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.
Mário Alves (1923-1970) Baiano, filho de latifundiários, participou da União Nacional dos Estudantes (UNE) durante o Estado Novo. Ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB) em 1939 e foi um dos líderes do movimento antifascista em Salvador. Dirigiu os jornais comunistas Novos Rumos e Voz Operária. Com o golpe de 1964, foi preso mas libertado um ano depois em função de um habeas corpus. Crítico da linha moderada do PCB, foi afastado em 1967 junto com outros dirigentes, como Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira, Jacob Gorender, Apolonio de Carvalho e outros. Junto com Gorender e Apolonio fundou o PCBR. Foi preso em 16 de janeiro de 1970 pelo DOI-CODI do Rio de Janeiro. Morreu sob torturas no dia seguinte, tendo sido barbaramente seviciado.
Joaquim Câmara Ferreira (“Toledo” – 1913-1970) Paulistano, era jornalista e dedicou sua vida à militância. Ingressou no PCB em 1933 e dirigiu diversos jornais do partido. Liderou o trabalho clandestino no setor ferroviário. Preso e torturado no DOPS durante o Estado Novo, elegeu-se vereador em Jaboticabal (SP) pelo PCB. Perdeu o mandato em 1947, com a cassação do registro do PCB. Foi para a URSS realizar estudos políticos. Em 1967, rompeu com o PCB pela esquerda e, junto com Carlos Marighella, fundou a Ação Nacional Libertadora (ALN). Participou do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrik em setembro de 1969, que foi trocado por 15 presos políticos. Preso em São Paulo em 23 de setembro, Toledo foi levado para um sítio clandestino e torturado pela equipe do delegado Sérgio Fleury, onde morreria em consequência dos ferimentos. Segundo as informações oficiais, ele morreu no dia 23 de outubro, mas essa foi uma armação da repressão para justificar outro assassinato, o de Bacuri.
Eduardo Collen Leite (“Bacuri” – 1945-1970) Mineiro, começou na Política Operária (Polop), vinculando-se posteriormente à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), da qual se retirou para fundar a Resistência Democrática (Rede) e, em 1969, ingressar na ALN. Participou de diversas ações armadas e foi protagonista de dois sequestros de diplomatas. Preso em 21 de agosto de 1970 no Rio de Janeiro pela equipe do delegado Fleury, Bacuri foi levado para um cárcere privado e depois ao Cenimar (serviço secreto da Marinha) e ao DOI-CODI. Bacuri foi barbaramente torturado durante 109 dias em diversas dependências policiais e militares. Em outubro foi removido para o DOPS de São Paulo. Em 25 de outubro, os jornais divulgaram que Bacuri tinha sido levado para identifcar Toledo e tinha conseguido fugir. Enquanto isso, ele continuava sendo submetido a torturas no DOPS, conforme testemunhas de 50 presos políticos da época, que inclusive realizaram um panelaço para protestar contra a farsa. Uma das mais torpes manchetes da época foi a da Folha da Tarde, de propriedade da Folha da Manhã, que também editava a Folha de S. Paulo: ” METRALHADO E MORTO OUTRO FACÍNORA”.
Bacuri foi retirado da cela com o corpo cheio de hematomas e queimaduras em 27 de outubro de 1970. Nunca mais foi visto.
Bacuri foi retirado da cela com o corpo cheio de hematomas e queimaduras em 27 de outubro de 1970. Nunca mais foi visto.
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