Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

JN inventa 'monólogo' no grampo, para dar munição a Álvaro Dias


O Jornal Nacional da TV Globo editou a notícia sobre o escândalo de Carlinhos Cachoeira para, em vez de esclarecer o telespectador, gerar "suspense" político.

Pessoas envolvidas ou citadas:

Claudio Abreu: ex-diretor da construtora Delta e provável sócio oculto de Cachoeira;

Dadá: araponga e "faz-tudo" Cachoeira.

Marcelão (seria Marcello Lopes): ex-assessor da Casa Militar do governo do Distrito Federal. Matéria da Folha o aponta como acusado também de participar da interceptação ilegal de e-mails, negada por ele.

Cláudio Monteiro: chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz (PT/DF).

João Monteiro: foi exonerado do SLU (Serviço de Limpeza Urbana do DF) no fim do mês passado.

Primeiro o telejornal mostrou um diálogo de janeiro de 2011 entre Claudio Abreu e Dadá:
DADÁ: O Marcelão ‘tá’ aqui comigo, entendeu? Eu ‘tava’ falando para o Carlinhos o seguinte, ele veio da reunião com o Cláudio Monteiro, entendeu? Então ele ‘tava’ falando o seguinte, que é ideal você dar um presente para o cara. A nomeação só vai sair na terça-feira no Diário Oficial.
CLAUDIO ABREU: Dadá, resume. O que é que é para dar para ele?
DADÁ: Dá o dinheiro para o cara, meu irmão.
CLAUDIO ABREU: Faz o seguinte, vamos dar R$ 20 mil pra ele e R$ 5 mil por mês, pronto. Nós vamos dar R$ 20 mil para ele agora e R$ 5 mil por mês, entendeu?
DADÁ: Vou falar com o Marcelão aqui.
O JN diz que, segundo a investigação, o diálogo fala da nomeação de João Monteiro na SLU, cargo do interesse da Delta, pois tem contratos de limpeza urbana com órgão vindos do governo anterior a Agnello.

Só com esse trecho do diálogo fica inconclusivo. Incrimina apenas Marcelão, mas não dá para ter certeza sobre para quem estaria sendo negociada a propina: se era para Cláudio Monteiro como se suspeita, ou para João Monteiro, ou mesmo para Marcelão.

Em seguida, mostra outro telefonema ente DADÁ e Cachoeira, que reforçariam indícios de envolvimento de Cláudio Monteiro, o alvo do JN:
DADÁ: Já recebeu os rádios aí?
CACHOEIRA: Chegou quatro ‘chip’ aqui. Você quer que guarde para você?
DADÁ: Quero, quero. Ele vai dar um para o Cláudio Monteiro e outro para o Marcelão. Tem que estar fazendo a ponte com ele. Tem que ficar perto dele.
O JN pecou ao não informar a data desse diálogo, nem ter buscado informar se a voz de Cláudio Monteiro e Marcelão passaram a aparecer em outros grampos, já que eles teriam ganho aparelhos para se comunicar supostamente com Cláudio Abreu ou Cachoeira, monitorados pela PF.

Mas até aqui, ainda que superficial, a matéria foi válida. Atende ao interesse público de levantar a questão, e é saudável que se apure quem é culpado e quem é inocente nessa história.

O jornalismo desandou completamente quando, em vez de mostrar um diálogo grampeado, o JN mostrou um monólogo (!). Eis o que JN levou ao ar:
Em outra gravação, em apenas uma frase, Dadá resume como a quadrilha de Cachoeira operava:
“A regra é clara, você faz, você recebe. Você não fez, não vai receber”.
A Globo teve a cara-de-pau de colocar só esse monólogo aí em cima, gerando um suspense, como se telejornal fosse novela.

Com quem Dadá estava falando?
E qual o assunto pelo qual o interlocutor queria receber?

Se tiver conexão com os outros diálogos acima, ele está dizendo que o esquema não deu certo. Significa provavelmente que alguém, ou os próprios mecanismos de controles e fiscalização, ou mesmo o acaso barrou alguma negociata. Se o JN tivesse mostrado o diálogo, em vez do monólogo, talvez fosse possível tirar conclusão de quem é inocente e de quem é culpado.

Obviamente que a Globo tem profissionais que sabem fazer jornalismo quando quer ou deixam, e se escondeu esse diálogo só pode ter sido editado de propósito.

E o propósito é deslocar a pauta de Marconi Perillo para Agnello Queiroz, dando munição para Álvaro Dias (PSDB/PR) na CPMI do Cachoeira que vai iniciar.

Em tempo: Cláudio Monteiro pediu demissão do governo do DF, e disse que colocará seu sigilo bancário, fiscal e telefônico à disposição da Procuradoria-geral da República.
 

Além da Veja, o Estadão também se alia a Cachoeira



O Estadão publica três telefonemas do deputado Protógenes Queiroz (PCdoB) com o sargento Dadá,  gravados durante a Operação Monte Carlo.

Na Operação Satiagraha, Protógenes teria recorrido a Dadá como informante (o assunto já foi amplamente noticiado na época). Depois Protógenes foi processado, num processo que beira a perseguição, acusado de irregularidades como vazar informações e quebrar sigilo funcional.

Nos telefonemas eles marcam encontro e falam sobre depoimento em juízo que Dadá prestaria, provavelmente referente ao processo contra Protógenes.

Em nenhum momento os diálogos mostram qualquer envolvimento com atividades ilegais, e muito menos tem qualquer vinculação com Cachoeira ou seu esquema.

O Estadão me sai com essa manchete:


Ora, parece manchete plantada pelo grupo de Cachoeira. Aliás, essa manchete é o que o deputado Carlos Leréia (PSDB/GO), ligadíssimo a Cachoeira, já vinha falando em tom de ameaça para inibir Protógenes quando recolhia assinaturas para a CPI do Cachoeira.

Assim o Estadão entra no clube da Veja, como aliado de Cachoeira. Noticiar o fato tudo bem, fazer o jogo de Cachoeira é que não dá.

Protógenes respondeu:

"Realmente não tenho lembrança nenhuma [desses diálogos]. Quero saber de algum diálogo existente com o sistema Cachoeira. Na manchete [do jornal] dá entender que tenho alguma vinculação. Foi até bom essa entrevista para poder esclarecer a população de tamanha irresponsabilidade", disse.

Ele confirmou conhecer Dadá e já ter tratado de assuntos profissionais com ele, mas não sabia das relações com Cachoeira e ficou surpreso quando soube da prisão.

"Se eu tivesse envolvimento, esse trabalho [da PF] iria revelar. E não seria o autor do requerimento de CPI depois dos pedidos de prisão", afirmou.

Está claro que é grande a pressão da velha imprensa demotucana para conter o ímpeto da CPI, procurando atirar contra governistas.
 

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