Na noite de quinta-feira publiquei crônica cheia de ironia em que disse que se realmente a foto com Maluf for motivo para enterrar a candidatura Haddad será melhor os paulistanos que pensam votarmos em Serra – pelo menos ficaríamos com uma desgraça conhecida.
Pouco depois, no Twitter, disse que esperava apanhar muito pelo que escrevi, o que seria sinal de que a militância não desistiu, ainda, de livrar São Paulo do pesadelo obscurantista em que está mergulhado. Valeu a pena esperar. Apanhei que nem gente grande.
Essa é uma das estratégias que proponho à campanha de Fernando Haddad: é preciso fazer as pessoas pensarem. Elas têm que refletir sobre o amanhã em vez de sobre idiossincrasias momentâneas.
Diante da constatação de que a militância não está morta exorto a você que com razão sentiu-se mal com a foto desastrada com Maluf a que não desista – não de Fernando Haddad, não de Lula, não do PT, mas de São Paulo.
Dizia ontem no Twitter, também, que quem quiser saber a desgraça que se abateu sobre a capital paulista que vá, por exemplo, ao Largo São Francisco no fim da tarde e veja a maré humana que vai chegando e ajeitando, no meio da rua, suas “camas” de papelão ou seus cobertores imundos.
Kassab (e Serra) fecharam todos os abrigos no centro expandido de São Paulo e os reabriram na periferia na esperança de empurrar para as franjas da cidade aqueles “indesejáveis”. Como resultado – já que a vida deles e seu ganha-pão estão no centro -, passaram a dormir nas ruas.
Agora, Kassab acha que vai expulsar essa população de rua tirando seus meios de se alimentar. Proibiu entidades privadas de servirem “Sopão” nos locais em que estão os que dele precisam. Sem cama, sem comida, esses mortos-vivos seriam, finalmente, defenestrados.
Kassab é um idiota.
A cidade está tomada pela população de rua. Desorientada, suja, drogada, surrada, desalentada, revoltada…
Não, eu não desisto de São Paulo. Não desisto da política porque alguém vai ganhar a eleição e vai governar. E vai influir na minha vida. Desistir de Haddad por aquela foto idiota significa desistir de São Paulo, de uma candidatura que poderia resgatar a cidade.
Se você for paulistano e estiver se sentindo assim, pense bem. Analise as alternativas. Se você pretendia lutar pela candidatura Haddad e desistiu pela foto com Maluf não está punindo o petista, mas a você mesmo e à sua família.
Alguém como você é capaz de perceber o estado em que está a cidade e como isso representa até perigos impensáveis para todos nós. Será que você tem o direito de tomar uma decisão como essa sem ao menos refletir um pouco mais?
Agora, se você não for daqui, por favor, tenha piedade de nós, paulistanos. Nem se Haddad tivesse tirado foto com o capeta valeria a pena entregar os pontos para os que estão demolindo São Paulo pedra por pedra. Se vencerem a eleição, vão continuar.
Se Haddad estiver “morto”
Publicado em 28 de junho às 18:02 hs.
Pesquisa Datafolha que acaba de ser divulgada não chega a ser promissora para a candidatura Fernando Haddad – caso a pesquisa seja verdadeira, claro. Mais ainda, os números sugerem que o candidato do PT pode ter sofrido um golpe mortal – a foto (e não o fato) de sua aliança com o “dono” do PP paulistano, Paulo Maluf.
Para piorar, a pesquisa também mostra que uma parcela muito pequena do eleitorado malufista se dispõe a acatar sua indicação de voto para prefeito da capital paulista. E, para coroar tudo, o fato de que essa “rebeldia” do eleitorado malufista se deve a que este, como o petista, considera inaceitável essa aliança específica entre PT e PP.
Ou seja: os pruridos “éticos” vicejam dos dois lados. Talvez até mais no PP do que no PT. O eleitorado petista ou o malufista consideram que não há justificativa em São Paulo para aliança que já existe em nível federal porque, aqui, Maluf e Haddad estarão se misturando com o inimigo de uma vida.
O eleitorado malufista, porém, sabe que não perde nada se não votar em Haddad – no dia seguinte à eleição Maluf estará compondo com o eleito, seja José Serra, Celso Russomano ou Gabriel Chalita, que, pela ordem, são os mais bem colocados na pré-disputa eleitoral.
Todavia, essa é uma pesquisa meio esquisita. A margem de erro é a maior estrela. Os três pontos são margem muito alta, pouco usual em um município, onde o campo da pesquisa é menor.
Haddad perdeu dois pontos percentuais, Russomano ganhou três e Serra subiu um, todos dentro da margem de erro da pesquisa. Esquisito, hein…
Poderia ser manipulação? Bem, não seria a primeira vez. Para quem não sabe, em 2010 a Procuradoria-Geral Eleitoral, a pedido do Movimento dos Sem Mídia, mandou a Polícia Federal abrir inquérito para investigar possíveis fraudes nos institutos Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi.
Detalhe: o inquérito está correndo…
Mas digamos que o Datafolha tenha captado uma tendência. Se essa pesquisa for verdadeira, se não for só uma manipulação da margem de erro, Haddad está na UTI com chances não muito generosas de sobreviver.
Se assim for, vale a pena refletir que talvez seja mais seguro para uma metrópole combalida como São Paulo não deixar que Russomano ou Chalita se elejam. A situação está muito feia em minha cidade. Talvez seja melhor deixar quem a governa continuar governando do que pôr no lugar as alternativas.
Haddad é um candidato extremamente bem preparado. Tem propostas concretas para reverter a maquiagem da Cracolândia, para acabar com o vergonhoso dormitório a céu aberto em que as ruas do centro velho de São Paulo se transformam no finzinho da tarde, tem propostas para o transporte público, para o trânsito caótico, para as enchentes…
Haddad é um profissional da administração pública. Serra é tarimbado, também, e sabe tudo sobre São Paulo, ainda que suas idéias sejam horrorosas porque é hoje um despachante da elite paulista. Mas Russomano e Chalita são curiosos. Podem piorar o que já está ruim.
Para quem não vive em São Paulo, tanto faz. A derrota de Serra seria saborosa. Um ex-governador e ex-candidato a presidente por duas vezes perder uma eleição municipal para um dos políticos quase amadores que o enfrentarão será de fazer petista ir ao delírio, mas só se não viver nesta cidade.
Não sei da aliança com Maluf. Disse e repito que foi uma burrada, mas, agora, não há reversão possível. Se o PT romper a aliança ficará com o prejuízo de imagem e ainda perderá o tempo de televisão e rádio. Quero pensar, portanto, no Day After .
A eleição de Haddad é – ou era – a esperança de reerguer isto aqui, mas, pelo que vi entre a militância petista, somando com os indícios (nada mais do que indícios) do Datafolha, não me parece demais dizer que o petista pode estar eleitoralmente morto. Sendo assim, talvez seja melhor votar na desgraça conhecida.
Pouco depois, no Twitter, disse que esperava apanhar muito pelo que escrevi, o que seria sinal de que a militância não desistiu, ainda, de livrar São Paulo do pesadelo obscurantista em que está mergulhado. Valeu a pena esperar. Apanhei que nem gente grande.
Essa é uma das estratégias que proponho à campanha de Fernando Haddad: é preciso fazer as pessoas pensarem. Elas têm que refletir sobre o amanhã em vez de sobre idiossincrasias momentâneas.
Diante da constatação de que a militância não está morta exorto a você que com razão sentiu-se mal com a foto desastrada com Maluf a que não desista – não de Fernando Haddad, não de Lula, não do PT, mas de São Paulo.
Dizia ontem no Twitter, também, que quem quiser saber a desgraça que se abateu sobre a capital paulista que vá, por exemplo, ao Largo São Francisco no fim da tarde e veja a maré humana que vai chegando e ajeitando, no meio da rua, suas “camas” de papelão ou seus cobertores imundos.
Kassab (e Serra) fecharam todos os abrigos no centro expandido de São Paulo e os reabriram na periferia na esperança de empurrar para as franjas da cidade aqueles “indesejáveis”. Como resultado – já que a vida deles e seu ganha-pão estão no centro -, passaram a dormir nas ruas.
Agora, Kassab acha que vai expulsar essa população de rua tirando seus meios de se alimentar. Proibiu entidades privadas de servirem “Sopão” nos locais em que estão os que dele precisam. Sem cama, sem comida, esses mortos-vivos seriam, finalmente, defenestrados.
Kassab é um idiota.
A cidade está tomada pela população de rua. Desorientada, suja, drogada, surrada, desalentada, revoltada…
Não, eu não desisto de São Paulo. Não desisto da política porque alguém vai ganhar a eleição e vai governar. E vai influir na minha vida. Desistir de Haddad por aquela foto idiota significa desistir de São Paulo, de uma candidatura que poderia resgatar a cidade.
Se você for paulistano e estiver se sentindo assim, pense bem. Analise as alternativas. Se você pretendia lutar pela candidatura Haddad e desistiu pela foto com Maluf não está punindo o petista, mas a você mesmo e à sua família.
Alguém como você é capaz de perceber o estado em que está a cidade e como isso representa até perigos impensáveis para todos nós. Será que você tem o direito de tomar uma decisão como essa sem ao menos refletir um pouco mais?
Agora, se você não for daqui, por favor, tenha piedade de nós, paulistanos. Nem se Haddad tivesse tirado foto com o capeta valeria a pena entregar os pontos para os que estão demolindo São Paulo pedra por pedra. Se vencerem a eleição, vão continuar.
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Abaixo, a provocação que escrevi. Os comentários publicados até por volta de 23 horas de quinta-feira mostram que muita gente não desistiu. Desceram o sarrafo em mim. Ainda bemSe Haddad estiver “morto”
Publicado em 28 de junho às 18:02 hs.
Pesquisa Datafolha que acaba de ser divulgada não chega a ser promissora para a candidatura Fernando Haddad – caso a pesquisa seja verdadeira, claro. Mais ainda, os números sugerem que o candidato do PT pode ter sofrido um golpe mortal – a foto (e não o fato) de sua aliança com o “dono” do PP paulistano, Paulo Maluf.
Para piorar, a pesquisa também mostra que uma parcela muito pequena do eleitorado malufista se dispõe a acatar sua indicação de voto para prefeito da capital paulista. E, para coroar tudo, o fato de que essa “rebeldia” do eleitorado malufista se deve a que este, como o petista, considera inaceitável essa aliança específica entre PT e PP.
Ou seja: os pruridos “éticos” vicejam dos dois lados. Talvez até mais no PP do que no PT. O eleitorado petista ou o malufista consideram que não há justificativa em São Paulo para aliança que já existe em nível federal porque, aqui, Maluf e Haddad estarão se misturando com o inimigo de uma vida.
O eleitorado malufista, porém, sabe que não perde nada se não votar em Haddad – no dia seguinte à eleição Maluf estará compondo com o eleito, seja José Serra, Celso Russomano ou Gabriel Chalita, que, pela ordem, são os mais bem colocados na pré-disputa eleitoral.
Todavia, essa é uma pesquisa meio esquisita. A margem de erro é a maior estrela. Os três pontos são margem muito alta, pouco usual em um município, onde o campo da pesquisa é menor.
Haddad perdeu dois pontos percentuais, Russomano ganhou três e Serra subiu um, todos dentro da margem de erro da pesquisa. Esquisito, hein…
Poderia ser manipulação? Bem, não seria a primeira vez. Para quem não sabe, em 2010 a Procuradoria-Geral Eleitoral, a pedido do Movimento dos Sem Mídia, mandou a Polícia Federal abrir inquérito para investigar possíveis fraudes nos institutos Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi.
Detalhe: o inquérito está correndo…
Mas digamos que o Datafolha tenha captado uma tendência. Se essa pesquisa for verdadeira, se não for só uma manipulação da margem de erro, Haddad está na UTI com chances não muito generosas de sobreviver.
Se assim for, vale a pena refletir que talvez seja mais seguro para uma metrópole combalida como São Paulo não deixar que Russomano ou Chalita se elejam. A situação está muito feia em minha cidade. Talvez seja melhor deixar quem a governa continuar governando do que pôr no lugar as alternativas.
Haddad é um candidato extremamente bem preparado. Tem propostas concretas para reverter a maquiagem da Cracolândia, para acabar com o vergonhoso dormitório a céu aberto em que as ruas do centro velho de São Paulo se transformam no finzinho da tarde, tem propostas para o transporte público, para o trânsito caótico, para as enchentes…
Haddad é um profissional da administração pública. Serra é tarimbado, também, e sabe tudo sobre São Paulo, ainda que suas idéias sejam horrorosas porque é hoje um despachante da elite paulista. Mas Russomano e Chalita são curiosos. Podem piorar o que já está ruim.
Para quem não vive em São Paulo, tanto faz. A derrota de Serra seria saborosa. Um ex-governador e ex-candidato a presidente por duas vezes perder uma eleição municipal para um dos políticos quase amadores que o enfrentarão será de fazer petista ir ao delírio, mas só se não viver nesta cidade.
Não sei da aliança com Maluf. Disse e repito que foi uma burrada, mas, agora, não há reversão possível. Se o PT romper a aliança ficará com o prejuízo de imagem e ainda perderá o tempo de televisão e rádio. Quero pensar, portanto, no Day After .
A eleição de Haddad é – ou era – a esperança de reerguer isto aqui, mas, pelo que vi entre a militância petista, somando com os indícios (nada mais do que indícios) do Datafolha, não me parece demais dizer que o petista pode estar eleitoralmente morto. Sendo assim, talvez seja melhor votar na desgraça conhecida.
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