Projeção de crescimento aponta para PIB de 3,1% este ano, o maior do último triênio; desemprego de 5,6% é o menor em 14 anos, assim como a taxa de juros de 7,25% é a mais baixa dos últimos 20 anos; previsão do Banco Central é de queda de 15% na tarifa de energia e de 2% na de telefonia; empréstimos para empresas crescem 75% em janeiro na Caixa, apontando para investimentos produtivos; inadimplência se mantém estável; preços administrados devem subir 2,7%, dentro da meta traçada; por que esses números não são destacados pela mídia tradicional?
28 DE MARÇO DE 2013 ÀS 13:34
247 - Entre 1999 e 2002, na gestão do fundador do Gávea Investimentos, Armínio Fraga, na presidência do Banco Central, a inflação saltou de 8,44% para 12,53%, variando entre 5,97% e 7,67% nos dois anos intermediários. As metas de inflação daquele quadriênio estouraram por três vezes, sendo respeitadas, com a entrada na variação permitida pela banda pré-estabelecida, em apenas um exercício. Era o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, com Pedro Malan no Ministério da Fazenda. A alegação para a quebra de todos os limites impostos pelo próprio BC, invariável: culpa da crise internacional.
A mídia tradicional, naquela quadra histórica, não apenas compreendia o momento, como aquiescia diante das decisões e elevou Fraga ao patamar de intocável, no qual ele está até hoje.
Nos últimos dois anos, o cenário de crise permaneceu tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. O euro, moeda única do Velho Continente, quase virou pó, com os países membros da União Européia tendo conseguido um consenso em torno da manutenção de sua moeda apenas depois de meses de longas reuniões. Países industrializados como a Itália, ascendentes como Portugal e modelares como a Espanha chegaram perto de quebrar. Aconteceu com a Grécia. Para todos, foram necessários bilhões de euros em ajuda para impedir o pior. No entanto, os efeitos da crise que, para ser contida nos Estados Unidos, leva o Federal Reserv a manter as taxas de juros no patamar zero até 2015 – decisão anunciada formalmente –, não levaram o Banco Central do Brasil, como no passado da virada dos anos 1990 para 2000, a estourar suas metas. Ao contrário.
Com base nos indicadores econômicos dos três primeiros meses deste ano, o Banco Central apresentou nesta quinta-feira 28 projeção de crescimento do PIB para 2013 de 3,1%. O resultado, uma vez confirmado, será o melhor do último triênio. A taxa de desemprego, medida pelo IBGE, também hoje foi anunciada em de 5,6%, a menor da série histórica iniciada em 1999. Ou seja, a mais baixa em 14 anos.
Sobre investimentos produtivos, a Caixa Econômica Federal divulgou um dado relevante. A carteira de crédito para pessoas jurídicas (empresas) chegou a R$ 67 bilhões em fereiro, num salto de 75% sobre o mesmo mês do ano passado. A inadimplência de pagamentos, ao mesmo tempo, se mostrou estável em 2%. Os indicadores mostram que os empresários voltaram a tomar recursos para investimentos produtivos, e têm conseguido pagar suas contas junto ao credor CEF.
No campo dos preços, as previsões convergem para estimar uma baixa generalizada de 15% nas tarifas de energia elétrica, beneficiando consumidores residenciais e a indústria, e de 2% nas contas de telefonia. É uma redução próxima à espetacular para um País que já tem mais telefones celulares do que habitantes. Os preços administrados, que na projeção de dezembro divulgada pelo BC poderiam ter alta de 2,4%, têm elevação prevista agora até dezembro de 2,7%. A taxa de inflação, antes projetada para 4,8%, foi ajustada para 5,7%.
Todos os números acima foram divulgados nesta manhã, em relatórios públicos do Banco Central e do IBGE. O destaque da mídia tradicional, porém, como se notava pelos títulos principais dos portais UOL, Estadão e G1, por volta do meio-dia, era apenas um: a taxa de inflação de 5,7%.
O que não foi dito ali com igual destaque, em prejuízo dos leitores, é que a nova projeção era integralmente esperada pelo mercado. E continua, a previsão de 5,7%, dentro da banda de variação de dois pontos acima ou abaixo do centro da meta, que é de 4,5%. Não houve um salto para além de 12%, como ocorreu no último ano da gestão de Fraga no BC. Os demais porcentuais que apontam para uma economia saudável, que vai quebrando, uma a uma, as ondas contrárias chegadas de fora para dentro do País, ficaram relegados a um plano inferior. De menor ou quase nenhuma visibilidade.
Trata-se, sem retoques, de uma estratégia comum de olhar o desempenho da economia brasileira pelo pior ângulo, embotando visualizações de um futuro diferente do que, por exemplo, o abismo do descontrole. Nesse rumo, até mesmo conclamações como as feitas pelos economistas Ilan Goldfajn e Alexandre Schwartasman, arautos do desemprego como forma de conter a inflação, ganham grandes espaços como se fizessem parte do debate sério da economia. "Gênios", como ironizou Delfim Netto.
Ainda bem que Malan está no Itaú Unibanco. E Fraga jogando golfe, aos domingos, no Itanhangá, e atuando no Gávea, e não no BC, nos dias úteis. (Marco Damiani)
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