Texto de opinião do jornal conduzido por João Roberto Marinho afirma que a Fazenda coloca pressão sobre o Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, ao manter uma política fiscal expansionista; dias atrás, o governo anunciou o corte de R$ 28 bilhões no Orçamento, mas o Globo achou pouco
247 - Assim como na última reunião do Comitê de Política Monetária, o jornal O Globo, mais uma vez, encampa o lobby pela elevação dos juros. Leia, abaixo, seu editorial:
O GLOBO - 24/05
Enquanto a autoridade monetária tenta conter a a inflação, o governo mantém os gastos em alta, como acontece desde o final do primeiro mandato de Lula
A poucos dias de mais uma rodada de reuniões do Conselho de Política Monetária (Copom), do Banco Central, terça e quarta da semana que vem, para decidir o que fazer com os juros diante da persistência da inflação, o governo divulga números da execução orçamentária e fica mais evidente que o BC continuará a ter um duro trabalho para manter os preços sob controle.
Como, segundo os números revelados, o Orçamento se mantém expansionista — e via gastos de custeio, apesar do discurso em contrário —, continuará a não ser fácil o trabalho do BC. Sem falar de 2014, pois ano de eleições já costuma ser de despesas públicas em alta. Mas, numa conjuntura de pressões inflacionárias, o cenário fica ainda mais turvo, se considerarmos que o Planalto de Dilma Rousseff tem ojeriza à elevação de juros.
Os números do Orçamento fazem cada vez mais parte do reino da fantasia. Estima-se, para até dezembro, um gasto total este ano de R$ 938 bilhões. Mas só em “restos a pagar” 2013 começou com R$ 170 bilhões, dinheiro de exercícios anteriores não gasto e livre para ser usado. O sinal expansionista do ponto de vista fiscal está, por exemplo, no contingenciamento — corte prévio a ser confirmado ou não — de R$ 28 bilhões, bem abaixo dos R$ 55 bilhões do ano passado.
Mais dinheiro em circulação significa pressão adicional de demanda em alguns setores, como o de serviços, cuja inflação passa dos 8%, quase o dobro da meta geral de 4,5%, virtualmente abandonada pelo governo, acomodado, parece, com os níveis acima dos 5%.
As próprias maquiagens para inflar o superávit primário — economia feita para pagar juros da dívida —, chamadas de “contabilidade criativa”, denunciam a intenção de gastar mais.
Além de deduções feitas sob critérios discutíveis na meta de 3,1% do PIB — por exemplo, do financiamento imobiliário do Minha Casa Minha Vida e até de desonerações de impostos —, a contabilidade criativa pratica contorcionismos improváveis. Há poucos dias, MP de Dilma fez surgir receita de uma antecipação de pagamento de dívida de Itaipu à União. Nada a estranhar, não fosse o dinheiro oriundo do Tesouro, captado por meio de endividamento, no modelo de operações de maquiagem idênticas feitas para antecipar o pagamento de dividendos pelo BNDES. Os recursos tapam buracos no superávit primário, indicador hoje sem credibilidade para os analistas. O governo fala em 2,3% do PIB para este ano, quando cálculos confiáveis chegam a pouco mais de 1%.
Repete-se, assim, o padrão observado desde a fase final do primeiro governo Lula, quando Palocci foi substituído por Mantega: o BC tenta segurar a inflação sozinho, enquanto a Fazenda, em nome do "desenvolvimentismo", aperta fundo o acelerador dos gastos. E não dos investimentos, como deveria. Gasta-se no custeio, por ser mais fácil. Um dia, esta conta cairá sobre a sociedade. Só não deverá ser em 2014, devido às eleições.
Queremos juros, queremos juros!
23 de Maio de 2013 | 16:36
A relação da mídia com a presença do Estado na economia é muito curiosa.
Todos criticam quando o Governo coloca dinheiro em tarifas de natureza social.
Gasto público é, como se sabe, palavrão no santuário neoliberal.
O Estadão mancheteia hoje que “Dilma pressiona” para segurar o preço das passagens de ônibus em São Paulo.
A “pressão” foi desonerar a tarifa da cobrança PIS e Cofins.
Portanto, retirar impostos, são malditos pelos xiitas neoliberais.
Já O Globo, que tem horror à Princesa Isabel, diz que o Governo tem simpatia pelo que chama de “retirar a multa” de 40% no FGTS para as domésticas, no caso de demissão.
Independentemente da adequação da proposta do Senador Romero Jucá, não se retira coisa alguma, porque isso é compensado pela elevação de 8% para 11% do recolhimento mensal ao fundo. 40% a mais, portanto.
Como não foi combinado com o Estadão, o jornal paulista esclarece: “Em vez de ter de desembolar de uma só vez uma indenização no caso de demissão sem justa causa a proposta aumenta os encargos de FGTS de forma a compensar a extinção da multa.(…)o porcentual da contribuição permanece o mesmo, mas os três pontos porcentuais de diferença serão revertidos a um fundo e constituirá a indenização por dispensa”.
Mas O Globo já estava preparado para isso, e arranjou um advogado trabalhista, o Dr. Luiz Migliora – que, segundo seu próprio site ,“possui vasta experiência com planejamento e contencioso trabalhista, com foco na defesa de casos envolvendo executivos de alto nível” – para “defender as domésticas”:
- Os 40% iam direto para as mãos do trabalhador, não do governo. Agora, terá mais dinheiro para investir em Minha Casa, Minha Vida.
Quem sabe, talvez, para fazer casas para as domésticas, não é?
Agora, quando o Governo corta os juros e diminui o subsídio que paga aos rentistas – a economia, só em março, chegou a R$ 1,7 bi, comparado ao que se pagava em março de 2012 -, aí não tem conversa: é queremos juros, queremos juros!
Por: Fernando Brito
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