O ansioso blogueiro conversou com graduado petista que se viu envolvido, por tabela, no julgamento do mensalão, por obra e graça do insigne Roberto Gurgel, que não é mais Procurador Geral e, nesta feliz data, mereceu singela homenagem do Bessinha.
O prezado amigo contou ao ansioso blogueiro duas histórias que envolvem o mensalão (o do PT) e a Globo Overseas Investment BV.
Numa, no auge da crise do mensalão, quando o Farol de Alexandria defendeu a “teoria do sangramento” – leia o “em tempo” – , Lula se encontrou com um dos filhos do Roberto Marinho – eles não têm nome próprio.
E disse: eu não sou Getúlio para se matar, Jânio para renunciar, nem Jango para se derrubar.
Se vocês insistirem em me derrubar, eu racho esse país.
Essa reação foi a sequência de uma sugestão – já conhecida – do Antonio Palocci.
Para puxar a sardinha para a própria brasa, Palocci queria que Lula propusesse um “acordo” à Globo: eu não me candidato à reeleição e vocês não me derrubam.
A resposta de Lula ao Palocci é impublicável.
Como se sabe, Palocci pretendia ser a alternativa neolibelês (*) à sucessão de Lula.
O “petista confiável”, assim como o Bernardo Plim-Plim/Trim-Trim, segundo o detrito de maré baixa.
A outra história surgiu a propósito do rejulgamento do mensalão.
O prezado amigo contou que ao explodir o mensalão, travou-se uma batalha sangrenta entre a redação de Brasília da Globo e a Santa Sé da direção do jornalismo da Globo, já naquela altura sob a regência do Gilberto Freire com ï” (**).
Não era apenas uma batalha política.
Era, também, técnica.
O Freire com“i” nunca foi repórter, de queimar o traseiro na rua, atrás de incêndio ou batida de carro.
Sempre foi um “intelectual” – um antropólogo, sociólogo e teólogo de computador.
Além de ser um militante.
E um devoto da causa Marinha – como diz o Paulo Nogueira: o Freire com “i” e o Ataulfo Merval (***) se debatiam nas reuniões com um filho do Roberto Marinho para ver quem concordava mais com ele.
É o que fazem até hoje, pelo jeito.
Quando estourou o mensalão, o Freire com “i” viu ali a oportunidade de entrar para a História e derrubar o Nunca Dantes.
Como hoje, no rejulgamento do Dirceu, o ponto central era saber se o dinheiro da Visanet é público.
Se fosse público – o que não é – estava comprovada a tese do Gurgel de que o Dirceu entrou de pá, na calada da noite, de pá e picareta nas arcas do Tesouro Nacional, e tirou de lá o Maior Crime da História !
Como não é público, o mensalão se tornou o Mentirão, ou, um julgamento de exceção para pegar o PT e mais ninguém.
(Por que o Gurgel não mandou a Globo devolver o BV da Visanet ?)
Aí, o com “ï” queria tratar o mensalão como um “assalto ao dinheiro público”.
O pessoal da Globo de Brasília respondia: sim, mas temos que provar !
O dinheiro é privado, respondiam.
As provas ! As provas ! – detalhe que o Gurgel e o “mata no peito”, por exemplo, menosprezaram.
O com “i” insistia: é dinheiro público !
A equipe de Brasília reagia: sim, mas e as provas ? A origem é privada !
Kamel – como o Gurgel – jamais produziu as provas !
E daquela equipe de profissionais da Globo em Brasília – os da versão “privada” – só sobrou o continuo.
Outros, em boa parte, aderiram.
E levaram ao público o que fazem na privada.
Em tempo: o Farol de Alexandria, na Sociologia, criou a “teoria da dependência “ aos Estados Unidos, que um de seus inexpressivos chanceleres traduziu por tirar o sapato antes de entrar em território americano. Outra teoria notável do Farol foi a do “sangramento”. O Agripino Maia, esse notável pensador oposicionista, queria ir para o impeachment, para o putsch parlamentar, com a eclosão do mensalão. Como o Golpe do insigne paulista Auro de Moura Andrade, que declarou a vacância do poder com o Jango no Brasil. O “sangramento” consistia em bater no Lula, bater tanto que ele sangrasse e chegasse à campanha da reeleição destroçado, impotente. E, aí, o FHC voltaria ao poder nos braços do povo (de Higienópolis e da Avenue Foche).
Paulo Henrique Amorim
(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.
(**) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de antropólogo e sociólogo com o livro “Não somos racistas”, onde propõe que o Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto Freire com “ï”. Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um Gilberto Freire com “i”.
(***) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse. Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por seus notórios méritos jornalísticos, estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance “O Brasil”.
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