247 - A ala mais engajada da imprensa brasileira, que, desde o ano passado, vem colocando a faca no pescoço dos ministros do Supremo Tribunal Federal, empregando instrumentos como chantagem, intimidação e por vezes aplausos e até prêmios, como o "Faz Diferença", do Globo, tenta nesta quinta-feira sua última cartada para virar um jogo que parece quase perdido.
Na sessão de ontem, a tese defendida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, para negar a admissibilidade dos embargos infringentes, que poderão dar nova chance a 11 réus em alguns casos específicos, vinha sendo derrotada por quatro votos a dois. Até agora, Barbosa foi acompanhado apenas por Luiz Fux. Não o seguiram Dias Toffoli, Rosa Weber, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso. Com mais dois votos, dos cinco ainda pendentes – de Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello, Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes – alguns réus, como José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e João Paulo Cunha, poderão ter suas penas revistas.
Diante desse "risco", a mídia engajada, que faz política travestida de jornalismo, entrou em campo. O serrista Reinaldo Azevedo, por exemplo, escreve hoje que o Supremo Tribunal Federal está "a um voto de uma desmoralização sem precedentes" (leia mais aqui). Em Veja.com, um dos blogueiros que vocalizam os interesses políticos da família Civita, Ricardo Setti, afirma que o que está em jogo "é o que resta de confiança dos brasileiros na justiça" (leia aqui) – juristas, no entanto, enviaram uma carta aberta ao STF, fazendo apelo para que a suprema corte não atropele garantias individuais consagradas na Constituição Federal. Também em Veja.com, o mais caricatural dos colunistas, Augusto Nunes, diz que, no "11 de Setembro do Supremo, o pelotão da toga ameaça implodir o Estado de Direito" (leia aqui).
No caso concreto da Ação Penal 470, é evidente que jornalistas como Azevedo, Setti e Augusto não têm preocupação alguma com qualquer coisa parecida com justiça ou Estado de Direito. O foco dos três é, única e exclusivamente, o poder. Em suma, como retirá-lo dos inimigos e transferi-lo aos amigos. Nada além disso. E o que podem oferecer como moeda de troca, a ministros do STF que se deixam levar pelo apelo da mídia, são aplausos passageiros em suas colunas, mas condicionados ao eterno cabresto.
Do mesmo modo, o jornal O Globo, da família Marinho, há anos imprimiu um tom ideológico e quase partidário ao seu jornalismo político. Maior responsável por essa guinada, Merval Pereira emparedou ministros do STF ao longo de todo o julgamento. Sua coluna desta quinta-feira, chamada "Decisão Política" (leia aqui), já afirma, no título, que os ministros que contrariam seus objetivos o fazem por motivações de natureza política – e não técnica.
No esforço para garantir que o jogo chegue ao fim antes da hora, o Globo faz até um apelo curioso. Sugere que o melhor para o PT seria que tudo acabasse agora, para que a nova fase do julgamento não adentrasse a porta do ano eleitoral de 2014, como se isso fosse capaz de convencer ministros de posição ainda desconhecida, como a mineira Carmen Lúcia.
Ora, o que o calendário político tem a ver com o tempo da justiça? Absolutamente nada. E o Globo, que, recentemente, admitiu seu apoio a uma ditadura militar que suprimiu garantias individuais e direitos básicos como o habeas corpus, não tem credibilidade para tratar de temas ligados a esse conceito de Justiça.