Por razões mais do que óbvias a operação Lava Jato vem sendo vista por muita gente insuspeita de ser “petista” como um golpe político destinado única e exclusivamente a tirar o PT do poder. Afinal, as prisões sem julgamento destinadas a arrancar “delações” concentraram-se exclusivamente em pessoas ligadas ao partido ou aos governos Lula e Dilma.
O cerne da Lava Jato é – ou deveria ser – a relação de governos de todos os níveis e políticos e partidos de todas as tendências com grandes grupos econômicos, mas vinha se concentrado exclusivamente na relação de empreiteiras com a Petrobrás, o que limitava as investigações e denúncias a petistas e pessoas ou grupos ligados ao PT e aos governos Lula e Dilma.
Contudo, qualquer pessoa com uma réstia de honestidade intelectual reconhece que é preciso ser muito malandro para afirmar que só o PT ou os governos petistas podem ter mantido relações impróprias com empreiteiras e demais grupos econômicos. E que as doações eleitorais dessas empresas ao PT são sujas e ao PSDB ou a qualquer outro partido são limpas.
Nas eleições de 2014, as campanhas de Dilma e Aécio custaram, cada uma, cerca de 500 milhões de reais. As mesmas grandes empresas doaram fortunas às duas campanhas. Essas empresas têm interesses no governo federal, mas também nos governos estaduais e municipais. Ora, será que só mantinham relações impróprias com o governo federal?
É óbvio que, mesmo admitindo-se que Dilma ou os titulares dos governos estaduais do PSDB (entre outros) não soubessem que membros desses governos estavam fazendo negociatas com empreiteiras (por exemplo), ninguém acredita que só após o PT chegar ao poder houve corrupção no governo federal ou nas empresas que ele controla.
Porém, por incrível que pareça, você vai ler nos comentários deste post – ou em qualquer post anterior – pessoas dizendo que só existe corrupção no PT.
A Lava Jato, nos últimos dois anos e tanto, reforçou essa premissa maluca ao se concentrar exclusivamente nas relações de uma Odebrecht, por exemplo, com o governo federal e com o PT ou grupos ligados ao PT.
Com efeito, o PMDB só está na Lava Jato pela aliança que manteve com o PT na última década e pouco. O PSDB, por exemplo, cujas relações com a Odebrecht são muito mais antigas e profundas que as do PT, e que em Estados como São Paulo e Minas Gerais fez negócios para lá de “esquisitos” com TODAS as empreiteiras investigadas, vinha ficando de fora de qualquer incômodo pela Lava Jato.
E a postura do grande símbolo da operação, o juiz federal Sergio Moro, pouco ajuda a afastar as suspeitas de natureza político-partidária da Lava Jato. Na última segunda-feira (8), por exemplo, Moro chegou ao cúmulo de almoçar em público, em um restaurante, com um grupo de artistas e movimentos antipetistas que pregam a teoria de que só há corrupção no PT.
Contudo, se a operação pilotada por Sergio Moro tentou livrar a cara dos tucanos, a pressão sobre o herdeiro Marcelo Odebrecht, preso há mais de ano, resultou em mais do que o juiz do antipetismo poderia esperar.
As ligações do senador José Serra com a Lava Jato foram escancaradas no relatório divulgado em julho do ano passado sobre as mensagens capturadas no celular do então presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht.
O relatório da PF identificara as iniciais do vice-presidente Michel Temer, do governador de São Paulo Geraldo Alckmin, mas colocou uma tarja preta na identificação da sigla JS. Como o nome de Serra constava no relatório inicial da perícia, conclui-se que os filtros da Lava Jato haviam tentado blindar o
senador tucano.
A Lava Jato atribuiu as tarjas a preservação de nomes de políticos com foro privilegiado, mas não explicou por que o nome de Geraldo Alckmin apareceu e o de JS (José Serra) não.
Porém, o escândalo causado pela descoberta em 2015 de que a Serra estava envolvido com Marcelo Odebrecht tornou-se incontrolável. A passo de tartaruga, setores republicanos da PF e do Ministério Público chegaram a ameaçar pôr a boca no trombone se a Lava Jato abafasse as evidências e as provas contra tucanos e peemedebês ligados ao golpe contra Dilma.
Nos últimos dias, surgiram versões de que a divulgação pela Folha de São Paulo de que Serra sofrerá delação da Odebrecht se trataria de uma manobra destinada a construir uma aparência de isenção da Lava Jato na véspera da votação do impeachment de Dilma pelo Senado.
Vários leitores postaram comentários neste blog abordando essa teoria. Contudo, não faz sentido.
Em primeiro lugar, porque, à exceção da Folha, o resto da mídia abafou a notícia de que executivos da Odebrecht – e, especula-se, o próprio Marcelo – acusam Serra de receber 34 milhões de reais em propina (em valores atualizados). O Jornal Nacional e o resto da mídia esconderam a notícia. Só a Folha deu destaque.
Ora, que plano é esse para conferir aparência de isenção à Lava Jato se a mídia, que deveria fazer esse plano funcionar, ocultou a denúncia? Tudo bem que a Folha deu destaque, mas sem sair no Jornal Nacional essa denúncia não se espalha e seu suposto objetivo não se materializa.
Seja como for, o fato é que demorou mais de ano para as investigações sobre as anotações no celular de Marcelo Odebrecht chegarem a algum lugar. Contudo, estão chegando. E elas não atingem apenas José Serra. O próprio Michel Temer está exposto. Geraldo Alckmin, Aécio Neves, enfim, todos aqueles caras-de-pau que chegaram ao ponto de acusar petistas de corrupção.
Para que tudo isso não pare, porém, é preciso divulgar ao máximo que os tucanos e peemedebês pseudo moralistas foram flagrados com a boca na botija da corrupção. O aparecimento de envolvimento deles com corrupção é o que os está derrubando nas pesquisas. O povo já está sacando como são caras-de-pau
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