Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
Mostrando postagens com marcador bbb. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador bbb. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 10 de julho de 2012

Bial sempre fez defesa da moral




 

 
Semana passada estreou Na Moral, programa com Pedro Bial exibido na madrugada. A jornalista Cris, que eu pude conhecer um pouquinho quando dividimos um quarto no 1º Encontro de Blogueiros Progressistas, fez o esforço de ver o programa e escrever sobre ele.
Eu não tenho essa coragem. O programa já disse a que veio quando convidou o “polêmico” Luiz Felipe Pondé. A Folha, que o lançou como colunista, e a grande mídia, que engole tudo que é reaça, quer transformá-lo num novo Paulo Francis. Existe um forte público conservador ávido por revisionismo histórico (daí aberrações como Guia Politicamente Incorreto do Brasil e da América Latina, que viram bestsellers graças aos leitores da Veja) e por aclamação do politicamente incorreto, que virou eufemismo de “Sou reaça e tenho orgulho disso!”. 
É o pessoal do “Vamos fazer uma parada hétero!”, do “Se negros podem usar camiseta de 100% Negro, por que eu não posso usar camiseta de 100% Branco?”, do “feminismo é a mesma coisa que machismo”.
Ninguém sério dá bola pro Pondé. As feministas, por exemplo, o ignoram solenemente, porque a gente sabe que o artigo da semana seguinte será tão programadamente "escandaloso" como o desta semana. Um tempinho atrás, ele escreveu algum artigo falando de Nelson Rodrigues e, mais uma vez, tacando fogo nas mulheres em geral e nas feministas em particular. Pelo jeito, a repercussão não foi a desejada. Pouca gente leu. 

O pior que pode acontecer a um polemista profissional é... não gerar polêmica. Então a Folha entrou em contato com o Blogueiras Feministas implorando para que o grupo se manifestasse sobre Pondé e Nelson Rodrigues (que, apesar de ter sido um dramaturgo genial, também era um reaça de marca maior, e hoje é mais lembrado por frases como “Nem toda mulher gosta de apanhar; só as normais” -– frases citadas como se fossem verdades absolutas, porque, afinal, são repetidas à exaustão). A resposta do grupo foi exemplar: até podemos falar de Nelson Rodrigues; de Pondé, não.
E, no entanto, Pondé está em todas ultimamente. Ele virou, junto com outro filósofo machistóide, o Ghiraldelli, os únicos filósofos no Brasil inteiro. Tem que se perguntar: por que um zero à direita como Pondé recebe espaço na mídia? É justamente por ser de direita e por seguir uma linha editorial muito mais próxima do jornal que uma feminista, ou um ativista do movimento negro ou LGBT. Além do mais, polêmica vende. Ou vendia, na época em que as pessoas ainda liam jornal impresso.
Mas eu queria era falar sobre o Pedro Bial. O que sei do Bial? Muito pouco. Lembro quando ele era correspondente da Globo em algum país, ou vários deles. Havia rumores, minhas leitoras me contaram, que ele bateu na sua ex-mulher, Giula Gam, mas não há queixa formal contra ele. Lembro bem dele no Fantástico, em 98, quando, durante uma matéria sobre balé, podia-se ouvir claramente a voz de Bial dizendo “Isso é coisa de viado”. Ele nunca pediu desculpas.
 
Depois, quando Bial foi pro BBB, eu nem me admirei. A linha entre jornalismo e entretenimento pra alguns veículos é muito tênue. Quem já viu BBB sabe que ele leva a assinatura da Central Globo de Jornalismo. Logo, um jornalista como apresentador não é tão estranho num lugar em que informação e entretenimento não se diferenciam.

Eu vi poucos BBBs (uma ou duas das doze edições?), e achava a pior parte do programa a eliminação de um participante, quando Bial destilava um monte de senso comum e palavras cafonas que os consumidores de Veja e Guias Politicamente Incorretos sobre as Jujubas Amarelas encaram como se fosse um misto de poesia e sabedoria. E, óbvio, fiquei sabendo do “O amor é lindo!” que Bial lançou um dia depois que o país inteiro discutia se rolou um estupro embaixo do edredon.
Mas todas essas memórias são fichinha se comparadas a minha memória mais vívida em relação ao Pedro Miau, repórter e gato. Joinville, 1998. Eu trabalhava numa escola de inglês que alugou um stand numa Feira de Educação que haveria na cidade. É, aquele evento, financiado pela prefeitura da cidade, então nas mãos de Luiz Henrique, era vendido como uma feira da educação. A palestra final, pra um auditório lotado de professor@s, foi dada pelo Prof. Marins, e era basicamente sobre como devemos trabalhar em equipe e, nesta equipe, os pessimistas não têm vez. 
Para ilustrar o seu ponto, Marins disse que o Brasil estava uma maravilha porque vendíamos mais geladeiras que o Canadá (ele não falou, mas eu sabia que a população do Canadá era pouco mais de um décimo da do Brasil), e que não deveríamos dar ouvidos a quem nos dissesse o contrário. Ele também falou, e eu lembro como se fosse hoje, que a gente tinha que parar de pensar no passado e se culpar pelos índios mortos com a chegada dos portugueses, porque, ora, ninguém sabe quantos índios havia nem quantos foram mortos. Marins foi aplaudido de pé. Por educador@s. O pessoal do revisionismo histórico dos Guias Politicamente Incorretos certamente sabe que não está falando nada de novo, pois não?
Mas voltando ao Bial. Ele foi um dos palestrantes convidados (só havia homens entre os palestrantes, embora 90% do público fosse feminino, professoras de ensino fundamental). Eu achei estranho que Bial estivesse num evento sobre educação, mas ele havia publicado alguns livros, não sobre educação, mas eram livros, essas coisas cheias de papel, então devia ser parecido. 
Eu não fui à palestra do Bial porque tinha que ficar no stand da escola, mas nunca vou esquecer quando Bial apareceu. O lugar da feira era grande, meio aberto, com muitos stands. Era preciso passar por um corredor cheio pra chegar aos auditórios. E, quando Bial passou, o barulho foi ensurdecedor. Não estou exagerando. As mulheres (professoras!) gritaram, como se estivessem na presença de um astro da música ou de um galã de novelas. Eu fiquei impressionada, porque nem imaginava que Bial fosse tão famoso, muito menos admirado. E isso foi antes do BBB!
 
Portanto, faz muito tempo que Bial é pop. E, num país preconceituoso em que não se sabe quando acaba a notícia e começa o espetáculo, o pop quase sempre serve pra perpetuar preconceitos.
 
No Escreva Lola Escreva

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

De olho no Big Brother, Ministério Público aciona a Globo

No dia 20 de dezembro, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (PFDC/MPF) enviou um documento à Rede Globo pedindo atenção aos direitos constitucionais e da pessoa humana na 11ª edição do reality show Big Brother Brasil – BBB11.

Por Juliana Sada, no blog Escrevinhador
A ação foi motivada pelo alto número de denúncias que a última edição do programa recebeu. De acordo com a campanha Ética na TV – Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania, o BBB10 foi o campeão de reclamações no período entre agosto de 2009 e abril de 2010. Foram 227 denúncias que relatavam desrespeito à dignidade humana, nudez, exposição de pessoas ao ridículo e apelo sexual. De acordo com a PFDC ainda há problemas de homofobia, incitação à violência e inadequação no horário de exibição.

A Recomendação enviada à Rede Globo também adverte à emissora que observe a sua própria autorregulamentação, na qual o grupo assumiu “a missão de exibir conteúdos de qualidade que atendam às finalidades artística, cultural, informativa, educativa e que contribuam para o desenvolvimento da sociedade”. A emissora deve também tomar as medidas necessárias para evitar as violações de direitos humanos, além de veicular o programa no horário adequado, atentando para as diferenças de fusos horários e também para o horário de verão.

Violência liberada

Apesar da recomendação enviada pelo Ministério Público, a Rede Globo não deu indícios de mudança no comportamento. Aliás, fez o contrário. Recentemente, o diretor do programa, José Bonifácio de Oliveira, conhecido como Boninho, declarou que decidiu “liberar a porrada” nesta edição de Big Brother. A decisão do diretor causou protestos por parte de diversos grupos feministas que se preocupam com a banalização da violência, como foi relatado aqui.

A Procuradoria deu à Rede Globo o prazo de 30 dias para se manifestar quanto à adoção das recomendações feitas no documento. Até o momento a emissora não se manifestou quanto à Recomendação, e o prazo expira nesta semana. O documento em si não gera nenhum tipo de sanção à Rede Globo, cumprindo a função de uma advertência. A penalização ocorrerá se algum direito ou lei for desrespeitada pelo BBB11.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Lily Marinho, o beijo e as demissões

Ontem, escrevi aqui sobre a (lenta) decadência da TV Globo.
Por uma (triste) ironia, no fim do dia foi anunciada a morte da viúva de Roberto Marinho, Lily. Também no fim do dia ficamos sabendo que o Big Brother terá – na próxima edição - um travesti em cena.
Qual a ligação entre os três fatos?
Vou tentar explicar.
Quinze anos atrás, na velha sede paulista da TV Globo, na praça Marechal, deu-se o rebuliço: a direção da emissora no Rio queria a demissão dos responsáveis pela cena “chocante” levada ao ar um dia antes, no “Fantástico”. Qual era a cena “chocante”? O beijo de dois (ou duas) “drag queens”. Um conhecido repórter do programa resolvera mostrar uma festa num evento gay que acontecia em São Paulo: a transmissão era ao vivo e, lá pelas tantas, deu-se a cena (sobre isso, há mais detalhes aqui, no blog “Doladodelá”).
A história que corria pelos corredores da TV na época era a seguinte: Lily Marinho vira a cena no “Fant[ástico” e considerara uma afronta à família brasileira; pediu providências ao Roberto Marinho. E aí vocês imaginam o resto da história. Quem pagou o pato? Hugo Sá Peixoto (cinegrafista que mostrou a cena) e Amaury Trolize (que, além de ótimo cinegrafista e responsável pela coordenação de imagens na Globo, cumprira naquele dia a função de diretor de TV, fazendo no caminhão o corte de imagens). Os dois perderam o emprego. Eram tempos em que drag queens beijando na boca estavam vetadas. Eram tempos em que a voz aristocrática de Lily Marinho ainda se fazia ouvir na poderosa emissora. Eram tempos, também, de uma hipocrisia violenta.
O que dona Lily diria se soubesse (ou se visse) o travesti que Boninho (diretor do Big Brother) resolveu escalar (leiam aqui o texto de Maurício Stycer) pra aumentar a audiência do BBB?  Provavelmente, a opinião dela hoje não contaria muito. Nos corredores do poder da Globo, dona Lily já estava morta. Tanto que – contrariando a linha oficial dos filhos de Roberto Marinho – resolveu abrir a velha mansão do Cosme Velho para receber Dilma durante a recente campanha eleitoral.
Não sei se o Brasil ficou um país melhor porque agora a presença de um travesti já não é considerada uma “afronta” na Globo. Provavelmente, sim. O que sei é que hoje o Hugo e o Trolize não perderiam o emprego se filmassem o beijo.
A decadência pode ter suas vantagens: não é preciso mais prestar contas à hipocrisia.
Mais uma página virada.